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Chefe militar da Ucrânia prevê nova ofensiva russa contra Kiev

O presidente da Ucrânia, o comandante das Forças Armadas e o chefe de operações terrestres de seu Exército pintaram um quadro sombrio

FolhaPress

15/12/2022 12h17

Foto: Divulgação/REUTERS

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP

Em campanha aberta para receber mais ajuda militar do Ocidente, o presidente da Ucrânia, o comandante das Forças Armadas e o chefe de operações terrestres de seu Exército pintaram um quadro sombrio sobre as chances de a Rússia vencer a guerra que começou em fevereiro.

Eles concederam entrevistas à revista britânica The Economist, que as publicou nesta quinta (15). O general Valeri Zalujni, comandante das Forças, disse que a campanha russa para destruir a rede energética da Ucrânia pode afetar a moral de suas tropas.

“Parece para mim que estamos no limite. Aí é quando as mulheres e filhos dos soldados começam a congelar. Qual será o ânimo deles? Sem água, luz e aquecimento, podemos falar em preparar reservas para continuar a lutar?”, afirmou.

Zalujni e seu subordinado Oleksandr Skirski, o general que defendeu com sucesso a capital do ataque inicial russo, dizem que a mobilização de mais de 300 mil soldados em tempo recorde pelos russos foi efetiva. “Eu não tenho dúvida de que eles vão fazer uma nova tentativa em Kiev”, afirmou.

Esse ataque, ou uma ofensiva maciça no Donbass (leste do país), pode ocorrer em qualquer momento do fim de janeiro até março, afirmaram os militares. À revista, eles enfatizaram que é errada a percepção usual no Ocidente, alimentada por sinal pelo chefe Volodimir Zelenski e a propaganda ucraniana, de que a Rússia está fracassando.

“Não se deve deixar de levar em conta o inimigo. Eles não são fracos, e têm um grande potencial em termos de mão de obra”, afirmou Skirski. Ele diz que os russos não são muito bem equipados, mas, como na Segunda Guerra Mundial, se valem de uma capacidade de renovação de forças muito grande.

O seu comandante lembra que o programa de treinamento desenvolvido pelo Reino Unido para soldados ucranianos pode gerar 30 mil reforços em 18 meses. A Rússia mobilizou dez vezes mais pessoas e as está preparando para entrar em combate em dois, três meses.

Na leitura dos militares, a campanha contra a infraestrutura civil seria uma forma de Moscou ganhar tempo para suas ofensivas renovadas no inverno -quando a lama e a neve ainda derretidas do fim do ano endurecem e facilitam o trânsito de tropas e armamentos.

O realismo, claro, tem o objetivo de sensibilizar o Ocidente. Nesta semana, foi vazado à imprensa americana pelo governo que a administração Joe Biden está finalizando os estudos legais para fornecer baterias de defesa aérea Patriot aos ucranianos.

É um passo complexo, porque elas são de difícil manejo, o que sugere que uma entrega rápida viria com operadores ocidentais –trazendo a Otan (aliança militar liderada por Washington) para a guerra de fato, o que implica risco de escalada enorme.

Além disso, há poucos Patriot disponíveis entre aliados ocidentais, e sua operação é cara. Parece fazer mais sentido buscar mais mísseis para usar nos sistemas antiaéreos soviéticos S-300 que a Ucrânia opera, dos quais ao menos 36 já foram destruídos segundo o site de monitoramento holandês Oryx.

Os generais afirmam que a defesa aérea é o ponto central agora, mas não só. “Preciso de 300 tanques”, disse Zalujni. A Ucrânia tinha, antes da invasão russa, 987 desses blindados. Segundo o Oryx, que usa apenas informações públicas verificáveis, Kiev já perdeu 435 tanques, incluindo alguns dos 230 repassados pela Polônia.

O quadro difícil não altera o discurso oficial. O presidente Volodomir Zelenski disse à publicação que mantém sua posição de apenas negociar com a Rússia se todas as áreas ocupadas do seu país forem liberadas.

O nó dessa assertiva é que ele inclui aí a Crimeia, anexada em 2014, e as áreas do Donbass sob controle russo desde aquele ano, na esteira da guerra civil que se seguiu à derrubada de um governo pró-Moscou em Kiev.

No dia 5 passado, em meio ao esforço americano para tentar abrir canais de negociação, o secretário de Estado, Antony Blinken, afirmou que as conversas deveriam começar assim que a Rússia tirasse seus soldados das áreas que ocupou a partir de 24 de fevereiro –ou seja, excluindo as áreas russófonas sob controle de Moscou desde 2014 da precondição.

No campo, a madrugada de quinta foi marcada por ataques trocados pelos dois lados em Donetsk, uma das províncias do Donbass.

Houve também uma grande explosão na cidade russa de Kursk, cuja base aérea havia sido atacada pela Ucrânia na semana passada, mas sua natureza não foi esclarecida: um assessor de Zelenski fala em um ataque com drone, sem assumi-lo, e o governo local disse que foi ação de defesa aérea.

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