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Chefe da defesa civil dos EUA ganha canal com Biden e equilibra disputa política

Ela começou a carreira no Colorado e integrou por 21 anos a Guarda Aérea Nacional, atuando em operações no Kuwait

FolhaPress

05/10/2022 17h15

Foto: Jim Watson/AFP

Em quase três décadas trabalhando em resposta a emergências, a chefe da defesa civil dos EUA, Deanne Criswell, aprendeu lições úteis para lidar com os impactos tremendos do furacão Ian, mas também com o jogo político que desastres assim carregam.

Primeira mulher a ocupar a direção da Fema (Agência Federal de Gestão de Emergências, na sigla em inglês), Criswell tem equilibrado os pratos entre o republicano radical Ron DeSantis, governador da Flórida, e o presidente democrata Joe Biden, que viajou ao estado atingido pelo Ian nesta quarta-feira (5).

O episódio mais público ocorreu no domingo (2), quando ela precisou esclarecer uma frase da vice-presidente americana. “As comunidades de renda mais baixa e as de pessoas não brancas são as mais impactadas por esses eventos extremos e por problemas que não causaram”, afirmara Kamala Harris na sexta (30). “A maneira de resolver isso é distribuindo recursos com base em equidade.”

A fala gerou uma série de reações, como a do senador Rick Scott, que afirmou que a política havia pedido ao Fema que “tratasse de forma diferente as pessoas com base na cor de sua pele”. Coube a Criswell, ir a público amainar a tensão. “Eu me comprometi com o governador, com vocês aqui, que todos os cidadãos da Flórida poderão conseguir a ajuda disponível por meio de nossos programas”, afirmou.

A própria Casa Branca agiu para baixar potenciais atritos entre Biden e DeSantis. Segundo a porta-voz Karine Jean-Pierre, “haverá muitas oportunidades para debater as diferenças entre os dois, mas esse não é o momento”.

O democrata sobrevoou com a mulher, Jill, as áreas mais atingidas de Fort Myers, no sudoeste da Flórida –o número de mortos já passa de cem, e milhares de pessoas continuam sem energia elétrica. Segundo o presidente, o governo federal financiará por dois meses a remoção de escombros e obras emergenciais, mas serão necessários anos para a reconstrução de tudo o que foi destruído.

Com a crise, Criswell ganhou exposição, participou de entrevistas coletivas na Casa Branca e, mesmo subordinada ao Departamento de Segurança Interna, abriu canal direto com Biden. Em agenda pública na última semana, o democrata chegou a dizer que ela era “a pessoa mais valiosa” na ocasião.

O gesto público de reconhecimento ecoou um cumprimento feito 17 anos atrás por outro presidente, George W. Bush, ao então diretor da Fema, Michael Brown. “Brownie, você tem feito um diabo de trabalho bom [‘heck of a job’]”, disse, em referência à resposta ao furacão Katrina, em 2005. O órgão, no entanto, era alvo de fritura por não agir adequadamente à tragédia, que deixou mais de 1.800 mortos, e a deferência do presidente foi alvo de críticas –Brown depois deixaria o posto.

Com a exposição recente, Criswell já tem também as próprias polêmicas. No domingo, disse à CNN que a população deveria contratar seguros contra enchentes se quiser viver no litoral, o que foi tido como insensível por parcela da imprensa local.

“Se você vive perto da água ou onde chove, certamente pode haver enchentes”, afirmou. “Não é porque você não é obrigado a contratar seguro contra enchentes que significa que você não tem a opção de contratá-lo. As pessoas precisam entender o risco potencial –ao longo da costa, no interior, no leito de um rio ou em área de tornados.”

Antes do Ian, o trabalho mais importante de Criswell no cargo, que assumiu em abril de 2021, foi a coordenação da ajuda federal na crise hídrica no Mississippi, entre agosto e setembro. Na ocasião, após enchentes e problemas de infraestrutura, os moradores da capital do estado, Jackson, passaram dias sem água potável nas torneiras.

Ela começou a carreira no Colorado e integrou por 21 anos a Guarda Aérea Nacional, atuando em operações no Kuwait, após o 11 de Setembro, e no Qatar. Ela também chefiou o Departamento de Gerenciamento de Emergências de Nova York entre 2019 e 2021, período que se tornou crítico com a pandemia de Covid-19, que atingiu a cidade de forma especialmente severa.

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