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Cessar-fogo não significa paz e foi motivado por comoção internacional, explica especialista; assista

Essa é a avaliação do professor Danilo Porfírio Vieira, pesquisador e autor de obras sobre o Oriente Médio

Agência UniCeub

25/11/2023 17h51

Foto: AFP

Por Milena Dias e Nathália Maciel

O cessar-fogo na guerra no Oriente Médio, entre Israel e Hamas, anunciado nesta semana, não tem significado de paz e foi motivado pela comoção internacional causada pelas imagens que chegam ao Ocidente. Essa é a avaliação do professor Danilo Porfírio Vieira, pesquisador e autor de obras sobre o Oriente Médio.  Confira abaixo entrevista concedida à Agência Ceub.

“A gente percebe que o apoio incondicional a Israel depois da contra-ofensiva ao Hamas já não existe”. Ele explica que há uma comoção generalizada principalmente com as imagens dos ataques à Palestina, com mortes de inocentes.

EUA protagonista

Ele entende que a morte em massa de civis gerou uma grande agora comoção inversa, em favor do povo palestino. “Não é a morte de quaisquer civis, mas de crianças, de jovens, de mulheres, de idosos”.

O professor entende que a opinião pública em países democráticos são um fator decisivo para que os governos desses países tomem postura. Inclusive para fins eleitorais. “Não nos esqueçamos que o Biden, dentro em pouco, enfrentará uma eleição presidencial. E esse apoio dito incondicional a Israel pode custar a reeleição dele”, avalia.

O professor explica que houve uma participação do governo do Catar, que recebe lideranças da Irmandade Muçulmana. “Cessar-fogo não é fim da guerra nem o fim das hostilidades. A ocupação continua”.

“Democracia depende da opinião pública”

O pesquisador acredita que há um drama humanitário nesse cenário. “Democracia hoje, mais do que nunca, depende de opinião pública”. Inclusive, na entrevista, ele recordou que a participação dos norte-americanos nesse cenário não é recente. “Os americanos assumem um papel significativo no Oriente Médio desde 1941, antes do final da 2ª Guerra e a constituição do Estado de Israel (1948)”.

Ele salienta que, após a declaração do Atlântico entre Reino Unido e Estados Unidos, os americanos fecham um pacto com o rei da Arábia Saudita, chamado Pacto Saudita-Americano, em que os sauditas afiançaram o acesso irrestrito ao petróleo necessário para a ação americana na Segunda Guerra. Assim, os americanos conseguiram garantir a legitimidade do governo saudita naquela região.

“Num segundo momento, os americanos, dentro da ONU, os Estados Unidos passam a apoiar a criação de Israel”. A tensão, conforme explica o professor, se estabelece na região, já que a criação do Estado israelense não será vista com bons olhos pelas populações árabes. “A Síria, Egito, Jordânia não ficaram satisfeitos com essa situação. E dentro de uma retórica nacionalista, eles vão se hostilizar com Israel. E aí começam os problemas de Israel”.

Tensionamento perene

Os Estados Unidos passaram, então, a garantir militarmente a existência de Israel. “De forma direta ou indireta, os americanos naquela região estão envolvidos com os tensionamentos israelenses e palestinos”.

A presença dos americanos ocorre, por exemplo, na Guerra do Golfo, em 1992 ou na invasão do Iraque, em 2004. “Nós vamos ver a presença tensa dos americanos no Irã que, até 1979, era o seu principal aliado na região e depois se torna o seu principal inimigo com a revolução xiita iraniana, que antes de 79 era uma monarquia pró-ocidental”.

Depois de 1979, com o governo dos ayatolás, há a participação dos americanos nos processos de tensionamento que são perenes. O interesse dos americanos, na interpretação do pesquisador, é manter uma vitrine ocidental dentro do Oriente Médio e o controle sobre o acesso ao petróleo.

Guerra da informação

O professor afirma que, dentro do quadro bélico, há uma guerra de informações. “Desde o surgimento das guerras em massa, na 1ª e 2ª Guerra Mundial, todos esses conflitos recorreram a recursos de narrativa e de informação. Seja por cinema, seja por rádio, seja por panfleto”.

Ele entende que há uma modificação de estratégia com a lógica das redes sociais e a celeridade da internet.  “Essa guerra de informação, pelas postagens em redes chegarem de forma direta, sem peneira, de uma mídia, tornam-se, efetivamente, desastrosas a curto prazo. Isso pode, inclusive, definir consequências de conflito”.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira 

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