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Brasil tem de mostrar que protege ambiente para atrair investimentos, diz embaixador britânico

“O Brasil quer mais investimento em sua economia, mas, no futuro, não vai ser possível atrair os fundos maiores sem uma política ambiental clara nos níveis federal e estaduais”

Redação Jornal de Brasília

04/11/2021 6h23

O anúncio de que o Brasil pretende cortar as emissões nacionais de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e as metas de combate ao desmatamento foi alvo de elogios por autoridades internacionais, como o enviado especial para o Clima do governo americano, John Kerry, e do embaixador britânico no Brasil, Peter Wilson. Outros países emergentes – como China, Rússia e Índia – têm apresentado postura mais resistente às agendas ambientais das nações desenvolvidas na Cúpula do Clima (COP-26), em Glasgow.

Para o diplomata do Reino Unido, porém, a palavra-chave é implementação. Se quiser atrair investimentos de fundos públicos, incluindo o do Reino Unido, e também de fundos privados, o governo Jair Bolsonaro vai ter de provar que protege efetivamente o meio ambiente. “O Brasil quer mais investimento em sua economia, mas, no futuro, não vai ser possível atrair os fundos maiores sem uma política ambiental clara nos níveis federal e estaduais”, diz Wilson em entrevista ao Estadão. “Os fundos públicos de outros governos, incluindo o do Reino Unido, vão ser usados onde são mais efetivos.”

O governo Bolsonaro chegou à conferência climática sob desconfiança internacional. Desde o início da gestão, o Brasil ganhou destaque negativo diante do aumento do desmate na Amazônia e da falta de diálogo do presidente com os países ricos para tratar da preservação da floresta.

O saldo da atuação da delegação brasileira em Glasgow, avalia o embaixador, tem sido positivo até agora. Wilson destaca que a assinatura de acordos e a apresentação de metas mostram que “o governo pretende atingir a meta de zerar emissões”. Para que os planos saiam do papel, porém, ele aponta dois aspectos importantes: criar uma estrutura de crescimento verde e fazer com que o plano de combate ao desmatamento funcione, com foco na fiscalização.

A transparência, nesse sentido, será essencial. “O financiamento privado, que é muito valorizado, vai para países onde os riscos ambientais são bem conhecidos e os investimentos serão responsáveis”, destaca. De acordo com ele, há uma cobrança do próprio consumidor, que vai buscar produtos em que consegue rastrear o impacto ambiental

Wilson destacou que o Reino Unido pretende ajudar o País a atingir as metas anunciadas e cumprir os acordos firmados. Ele diz que seu papel como diplomata será o de criar um espaço de cooperação para combater uma ameaça comum, a mudança climática. “Trabalhamos com todos os níveis de governo brasileiro. Com o governo federal, temos uma série de programas para ajudar a agricultura, a ciência, o monitoramento e o conhecimento sobre o clima”, conta o embaixador. “Com os governos estaduais, temos investimentos e oportunidades de abrir novos caminhos para uma economia mais verde.”

Quanto ao isolamento internacional do presidente Bolsonaro, evidente na reunião entre as 20 economias mais ricas do mundo (G-20), e a ausência do brasileiro em Glasgow, o embaixador preferiu não comentar. Apenas afirmou que as relações entre Brasil e Reino Unido são “fortes”. “Nosso primeiro-ministro (Boris Johnson) encontrou com Bolsonaro na ONU (Organização das Nações Unidas), há três semanas, para falar sobre o clima e temos uma troca muito importante. A chave da COP é a substância, e o Brasil fez uma contribuição muito importante nos últimos dois dias”, afirmou ele.

Chefe de Estado do país anfitrião da COP, Johnson tem se esforçado para conseguir o êxito da conferência. Embora reconheça as dificuldades na negociação climática, o premiê estimou no começo da Cúpula que as chances de êxito eram de aproximadamente 60%.

Estadão Conteúdo

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