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Autoridades russas ameaçam enterrar Navalny na prisão onde morreu, segundo assessores

O círculo próximo de Navalny acusa as autoridades russas de terem matado o opositor na prisão e de tentarem impedir uma cerimônia pública

Redação Jornal de Brasília

23/02/2024 15h44

Foto: Tatyana Makeyeva/Reuters

As autoridades russas ameaçam enterrar Alexei Navalny no terreno da colônia penal do Ártico onde morreu, afirmou, nesta sexta-feira (23), a equipe do opositor, que acusa os investigadores de quererem impor um funeral sigiloso.

Mais de 20 personalidades do mundo da cultura da Rússia, críticas do Kremlin, pediram às autoridades que entreguem o corpo de Navalny a seus familiares, que o reivindicam desde que morreu, há uma semana.

“Há uma hora, um investigador ligou para a mãe de Alexei e lhe deu um ultimato: ou aceita um enterro em sigilo, sem ritos públicos, ou Alexei será enterrado na colônia” penal, disse na rede X Kira Yarmish, que era porta-voz de Navalny.

“Ela se nega a negociar com o Comitê de Investigação porque não tem autoridade para decidir quando e como seu filho será enterrado”, acrescentou.

Yarmish afirmou, ainda, que a mãe do opositor, Liudmila Navalnaya, continuava pedindo às autoridades que lhe entreguem o corpo do filho e que autorizem um funeral público.

Na véspera, Navalnaya afirmou que por fim conseguiu ver o corpo de Alexei e denunciou “chantagens” para forçá-la a que o filho seja enterrado “em segredo”.

O círculo próximo de Navalny acusa as autoridades russas de terem matado o opositor na prisão e de tentarem impedir uma cerimônia pública para evitar qualquer manifestação de apoio.

Em 2010, antes de a máquina de repressão se abater sobre ele, Navalny mobilizava multidões, especialmente em Moscou, o que o fez ganhar o status de opositor número 1 do presidente russo, Vladimir Putin.

Um funeral público poderia, teoricamente, mobilizar seus apoiadores.

Nesta sexta-feira, sua equipe pediu à polícia, ao exército e aos serviços de segurança que lhes deem qualquer informação sobre o “assassinato” de Navalny.

Em troca, “prometemos uma recompensa de 20.000 euros [106.000 reais] e a organização de sua saída do país, se assim desejar”, informou.

“Não importa seu status ou se compartilha das opiniões políticas de Alexei Navalny. Há princípios humanos fundamentais: não podem abusar de uma mãe e chantageá-la com o corpo de seu filho assassinado”, escreveu sua equipe no Telegram.

Putin “teme” Navalny

O círculo próximo do ativista anticorrupção, que morreu na semana passada em uma colônia penal no Ártico em circunstâncias que não foram esclarecidas, divulga desde a noite de quinta-feira pelas redes sociais os apelos de numerosas personalidades da cultura.

Entre eles, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, o jornalista Dmitri Muratov, o diretor de cinema Andrei Sviaguintsev, o escritor Viktor Shenderovich e a ativista da banda punk contestatária Pussy Riot, Nadejda Tolokonnikova.

“Putin temeu Navalny por muitos anos e continua temendo-o após a sua morte. Depois de matá-lo, ainda o teme”, avaliou Shenderovich, que foi catalogado pelas autoridades russas como “agente estrangeiro” por suas críticas à ofensiva na Ucrânia.

Na semana passada, centenas de pessoas foram detidas pela polícia na Rússia por homenagear o principal opositor de Putin, que ainda não comentou o falecimento publicamente.

Os governos ocidentais também apontaram o Kremlin como responsável por sua morte.

Nesta sexta-feira, os Estados Unidos anunciaram uma nova rodada de sanções contra a Rússia desde a invasão da Ucrânia, há dois anos, e em resposta à morte de Navalny.

Três funcionários públicos russos estão entre os sancionados por seu envolvimento, anunciou o Departamento de Estado.

Uma destas pessoas é Valery Boyarinev, vice-diretor do serviço penitenciário federal russo que administra a remota prisão no Ártico onde Navalny morreu.

“As novas restrições são uma nova tentativa desavergonhada e cínica de ingerência nos assuntos internos da Rússia”, reagiu o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoli Antonov, citado pela agência estatal Tass.

© Agence France-Presse

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