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Mundo

Após o horror, os habitantes de Bucha procuram seus familiares

Após a retirada dos soldados no final de março, as autoridades ucranianas descobriram dezenas de corpos vestidos com roupas civis

Redação Jornal de Brasília

07/04/2022 12h08

Após semanas de horror durante a ocupação russa, os habitantes de Bucha estão procurando desesperadamente por seus parentes desaparecidos, depois que dezenas de corpos foram encontrados no fim de semana nesta localidade na periferia da capital ucraniana.

Alguns esperam encontrá-los vivos, outros estão resignados e já sabem o que aconteceu com seus amigos, vizinhos e colegas.

Tetiana Ustymenko perdeu seu filho e duas amigas que foram baleadas no meio da rua. Ela enterrou os três corpos no jardim de sua casa.

Oleh Onyshchenko procura desesperadamente por dois membros de sua família em um campo onde estão cinquenta sacos de cadáveres.

Ele acredita que seus parentes foram queimados e que não poderá reconhecê-los, embora espere encontrar um anel ou uma aliança para identificá-los.

Outro morador da cidade, Oleksandre Kovtun, ainda está esperançoso. Ele não tem notícias de seu filho, mas acredita que ele pode ter sido feito prisioneiro pelo exército russo durante sua retirada para Belarus.

Bucha, no noroeste de Kiev, foi ocupada pelas tropas russas nos primeiros dias da invasão. Após a retirada dos soldados no final de março, as autoridades ucranianas descobriram dezenas de corpos vestidos com roupas civis, alguns com as mãos amarradas nas costas.

“Meu filho estava morto”

Na rua Kiev-Mirotska ainda há um carro crivado de balas. No interior, manchas de sangue coagulado nos assentos. Os corpos se foram, porque foram transferidos para o jardim de Tetiana Ustymenko.

A mulher de 65 anos diz que enterrou seu filho de 25 anos, Serguiy, e seus amigos Nastia e Maksym em 4 de março.

Alguns dias antes, seu filho sugeriu tirá-la de Bucha, mas achou que seria muito perigoso. Sem que ela soubesse, ele tentou fugir.

“Ouvi tiros, mas tinha certeza de que ele não estava lá”, conta. “Recebi uma ligação. Perguntei: é você, meu filho?, e um vizinho respondeu que um carro havia sido alvejado pelos russos. Ele me disse que meu filho estava morto”, lembra.

Segundo ela, um atirador inimigo matou os três amigos: Serguiy foi atingido nas costas, Maksym na cabeça e Nastia nas pernas.

Os corpos ficaram na rua por três dias antes que o marido de Tetiana, Valerii, pudesse removê-los com a ajuda de vizinhos para enterrá-los.

“Como posso continuar vivendo agora?”, lamenta Tetiana.

No cemitério municipal, Oleh Onyshchenko olha para os corpos alinhados em sacos pretos.

Um grupo de policiais está ocupado com a papelada, escrevendo relatórios preliminares para identificar os cadáveres.

A cada poucos minutos abrem um novo saco. Em um, os braços de uma mulher envolvem seu rosto sem vida. Em outro, a rigidez do cadáver dá a impressão de um homem em posição de sentido.

Única esperança

Alguns sacos contêm apenas partes do corpo, queimadas ou cortadas.

Oleh, de 49 anos, dá um passo para trás. No bolso, tem fotocópias dos documentos de identidade de sua cunhada Tamila e da certidão de nascimento de sua filha de 14 anos, Anna.

Elas deixaram Bucha em um carro emprestado, cujo proprietário viu um vídeo do veículo em chamas. Ele entendeu tudo imediatamente.

É por isso que procura joias para identificar os corpos.

Perto dali, um policial coloca um pedaço de papel em um saco. “Bucha, homem, cerca de 30 anos. Olhos abertos. Lesões corporais no abdome, pescoço e mãos”.

“Há um mês, ninguém poderia imaginar isso”, diz Oleh.

O filho de 19 anos de Oleksandre Kovtun, Oleksii, também está desaparecido. “Ele foi para a cidade e nunca mais voltou”, diz esse pai de 58 anos, que tenta se convencer de que o filho foi feito prisioneiro.

Em seu bairro, dizem que um jovem de sua rua foi enviado para a Rússia. Poderia ser o seu filho?

“É a nossa única esperança”, diz.

No sábado passado, a AFP viu pelo menos 20 corpos espalhados em uma rua de Bucha. Os corpos de 57 pessoas foram encontrados em uma vala comum escavada devido ao grande número de mortos, disse o chefe das equipes de resgate locais à AFP.

A lista de mortos cresce a cada dia. “Esperamos que não esteja nessa lista”, diz Oleksandre.

© Agence France-Presse

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