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Antivacinas se radicalizam na Alemanha, tanto na web quanto nas ruas

A mensagem “Iniciativa de endereços privados”, lançada por um grupo chamado “Corona-Vírus-Informação”, circula no aplicativo do Telegram

Redação Jornal de Brasília

07/12/2021 13h09

Foto: Vítor Mendonça / Jornal de Brasília

As mensagens ameaçadoras de conteúdos contrários às vacinas se multiplicam nas redes sociais na Alemanha, um reflexo da radicalização desses setores após as medidas de confinamento parcial devido ao novo surto da pandemia.

A mensagem “Iniciativa de endereços privados”, lançada por um grupo chamado “Corona-Vírus-Informação”, circula no aplicativo do Telegram desde o final de novembro e foi vista por cerca de 25.000 pessoas.

Ameaça divulgar online “informações pessoais de representantes locais, políticos e outras personalidades que nos prejudicam e promovem uma propaganda podre” a favor da vacinação contra a covid-19.

Essa advertência é mais um exemplo em meio a vários outros que circulam nas redes sociais, com repercussões muito concretas nas ruas.

A radicalização constatada após o confinamento parcial em vários países – particularmente violento na Holanda e com uma forte mobilização na Áustria – preocupa a Alemanha, muito afetada pela última onda de coronavírus.

Para tentar contê-la, o governo aumenta semana após semana a pressão sobre os não imunizados, com limitações de acesso e deslocamento e inclusive uma possível obrigação nacional de vacinação.

Como fez desde o início da pandemia, a extrema direita está na primeira fila para tirar proveito do descontentamento que isso gerou. No fim de semana passado, houve uma manifestação barulhenta em frente à residência privada da ministra regional da Saúde de Saxônia, uma das regiões com menor taxa de vacinação.

Cerca de trinta pessoas denunciavam uma “ditadura”, erguiam tochas e batiam um tambor. A cena, neste reduto local da extrema direita alemã, lembrou as marchas do período nazista.

Negligência dos reguladores da internet

“O que aconteceu e as imagens que vimos são realmente terríveis, como país não devemos aceitar coisas parecidas”, condenou o designado chefe de governo, o social-democrata Olaf Scholz.

O líder dos ministros regionais alemães do Interior, Thomas Strobl, membro do partido conservador de Angela Merkel, afirmou ao grupo de imprensa Funke sua preocupação ao ver “que a obrigatoriedade da vacina contra o coronavírus endurece ainda mais a atitude dos opositores”.

Também se mostrou contra os “graves erros” dos reguladores da internet, que se mostram negligentes ao permitirem que as convocações à violência proliferem.

“Os responsáveis políticos alemães enfrentam um dilema nas redes como o Telegram”, explica à AFP Simone Rafael, especialista em fenômenos de radicalização online para a fundação de combate ao racismo Amadeu Antonio.

“A única solução seria fechar completamente o Telegram” que, segundo ela, desempenha um papel fundamental, “mas naturalmente na Alemanha democrática ninguém deseja isso”. Como resultado, “as teorias da conspiração e a violência se propagam, os usuários se sentem tão seguros que geralmente usam seu nome verdadeiro para ameaçar as pessoas”, explica.

Embora o protesto contra as restrições tenha acompanhado a pandemia desde o princípio, o endurecimento dos discursos é perceptível agora. “As pessoas que divulgam este tipo de mensagem” nas redes sociais “não estão brincando, realmente acreditam” no que dizem”, alerta Miro Dittrich, especialista em extrema direita para o Centro de Reabilitação CeMAS.

Entre os afetados, cresce a preocupação. “Os médicos envolvidos no combate à pandemia denunciam cada vez mais hostilidades e ameaças”, afirmou recentemente Susanne Johna, presidente do Marburger Bund, uma das principais associações médicas alemãs.

© Agence France-Presse

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