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Alexei Navalny, o obstinado opositor de Putin que morreu atrás das grades

No final de 2023, foi transferido para uma remota colônia penitenciária no Ártico russo, onde a sua morte foi anunciada nesta sexta-feira (16)

Redação Jornal de Brasília

16/02/2024 11h18

Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Envenenado, preso, condenado e morto na prisão. O opositor russo Alexei Navalny pagou com a vida sua luta contra o presidente Vladimir Putin, enquanto denunciava a repressão e a corrupção de seu governo, além do ataque contra a Ucrânia.

Navalny, preso desde janeiro de 2021, foi novamente condenado em agosto passado, desta vez a 19 anos de prisão por “extremismo”, pena que teve de cumprir em um dos estabelecimentos mais rígidos do sistema prisional russo.

No final de 2023, foi transferido para uma remota colônia penitenciária no Ártico russo, onde a sua morte foi anunciada nesta sexta-feira (16).

Navalny, de 47 anos, parecia magro e envelhecido durante as transmissões das últimas audiências em que esteve envolvido – a única forma de vê-lo. Ficou fisicamente marcado pelo envenenamento que sofreu em 2020, pela greve de fome e pelos repetidos isolamentos na prisão.

Putin todos os dias

Mesmo assim, a prisão não abalou a sua determinação. Durante as audiências e em mensagens transmitidas por meio de seus advogados, Navalny não deixou de denunciar Vladimir Putin, a quem descrevia como um “avô escondido em um bunker”.

Durante o seu julgamento por “extremismo” em agosto de 2023, condenou “a guerra mais estúpida e sem sentido do século XXI”, referindo-se ao ataque russo à Ucrânia.

Nas suas mensagens online, zombava da intimidação a que era submetido pela administração penitenciária. Entre outras coisas, obrigavam-no a ouvir dia após dia o mesmo discurso de Vladimir Putin: “Como se ele falasse pouco!”.

Alexei Navalny também tentou mostrar o seu apoio aos seus companheiros de infortúnio, presos em consequência da repressão, e denunciou uma Justiça russa “fascista”.

No exílio, as suas equipes continuam divulgando investigações sobre o enriquecimento das elites políticas, algumas das quais se beneficiam diretamente do conflito na Ucrânia.

“Escuridão”

O opositor sempre tentou se mostrar otimista. “Sei que a escuridão desaparecerá, que venceremos, que a Rússia se tornará um país pacífico, brilhante e feliz”, escreveu ele em junho de 2023.

Ao longo de 12 anos, o advogado Navalny, que durante algum tempo foi muito próximo do nacionalismo, se consolidou como o crítico número 1 de Putin e do seu “partido de ladrões e vigaristas”, como costumava descrevê-lo.

Tornou-se conhecido pela primeira vez por ter ajudado a organizar grandes manifestações da oposição, em 2011 e 2012, que acabaram reprimidas.

Em 2013, ficou em segundo lugar nas eleições municipais de Moscou, um feito que aumentou a sua visibilidade.

Navalny, assediado pelas autoridades e ignorado pelos veículos de comunicação oficiais, construiu notoriedade na Internet e nas redes sociais na década de 2010, graças à divulgação de investigações em vídeos virais que denunciavam a corrupção do poder russo.

O próprio Putin se recusava a pronunciar o nome daquele que se tornou o seu principal adversário.

Navalny ganhou o apoio da juventude russa, mas a sua popularidade nacional e entre outras gerações permaneceu muito limitada.

“Não me calarei”

Na mídia da oposição, ele ainda era criticado por sua proximidade com a extrema direita e por sua ambiguidade sobre a anexação russa da península ucraniana da Crimeia, em 2014.

Mas seu caso entrou na pauta de opositores, ONGs e potências ocidentais quando foi envenenado em agosto de 2020 na Sibéria, em plena campanha para as eleições regionais. Ele foi transferido para a Alemanha para tratamento, com o aval do Kremlin.

Em dezembro de 2020, ele fez um agente russo admitir por telefone que o seu envenenamento foi uma tentativa de homicídio orquestrada pelos serviços secretos da Rússia.

Recusando-se a partir para o exílio, voltou ao seu país em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Dois dias depois, chocou o Kremlin ao divulgar um vídeo sobre a investigação de um palácio que Putin teria mandado construir às margens do Mar Negro. O ato gerou tanta repercussão que o presidente precisou desmentir pessoalmente a acusação.

Contudo, nem esses acontecimentos nem o envenenamento mobilizaram as multidões na Rússia, onde as manifestações foram rapidamente reprimidas.

As autoridades pareciam determinadas a tornar a vida impossível ao opositor, que se dizia determinado a nunca desistir. “Não me calarei e espero que todos aqueles que me ouvem não se calem”, afirmou em setembro em um tribunal, após 12 dias de isolamento por ter denunciado a ofensiva russa contra a Ucrânia.

© Agence France-Presse

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