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Mundo

Alemanha vê cansaço no Ocidente com a Guerra da Ucrânia

O Kremlin, afinal, fez a sugestão em troca de que algumas das sanções a que está submetido fossem levantadas

FolhaPress

25/05/2022 17h58

Foto: Divulgação

Igor Gielow
São Paulo, SP

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse nesta quarta (25) que o Ocidente está cansado da Guerra na Ucrânia. “Chegamos a um momento de fadiga”, disse ela em uma reunião do Conselho do Mar Báltico em Kristiansand (Noruega).

Ela citou o aumento no preço da energia e dos alimentos como motivo para tal cansaço, reforçando depois que é exatamente isso que Vladimir Putin com o conflito iniciado há três meses. “Por isso é importante apoiar a Ucrânia”, disse.

A ministra contemporizou ao fim, mas engrossou um raciocínio que tem ganho tração em discussões ocidentais acerca do impacto global do conflito. No Fórum Econômico de Davos, na Suíça, o veterano diplomata americano Henry Kissinger disse que Kiev deveria ceder as terras ocupadas por Putin e se declarar neutra.

A posição alemã pode ser mais incisiva ainda, caso seja real o relato publicado pelo editor de assuntos diplomáticos do jornal britânico The Guardian, dizendo que numa conversa com jornalistas o premiê Olaf Scholz disse não acreditar numa vitória ucraniana e que seu país seguirá apoiando Kiev até que Putin declare que alcançou seus objetivos.

Scholz está em viagem na África, e não houve comentários da chancelaria alemã confirmando ou negando o relato.

A percepção de que Moscou está em posição de vantagem vem dos combates na região de Severodonestk e os crescentes apelos alarmistas em Kiev sobre a situação do Donbass, região do leste ucraniano palco de guerra civil desde 2014.

A cidade é vital para a tomada completa da região de Lugansk e assim posicionar os russos para avançar sobre a área remanescente de Donetsk sob controle ucraniano. As duas províncias compõem o Donbass.

Se o russo for bem-sucedido, não terá derrubado o governo de Volodimir Zelenski como tentou de forma atabalhoada no complexo e insuficiente em forças ataque inicial da guerra, mas poderá colher uma vitória importante: a Ucrânia está basicamente alijada de sua pretensão de aderir à Otan e o Donbass estará ligado à Crimeia anexada em 2014 pela área ocupada por Putin ao sul, centrada em Kherson.

Zelenski, por óbvio, descarta a hipótese e diz que quer encontrar-se com Putin para discutir a paz quando os russos suspenderem a guerra e se retirarem. Isso não é uma opção para o pressionado presidente no Kremlin, por significar quase uma abdicação a essa altura. Além do mais, após mais fracassos que vitórias, Moscou está avançando em sua iniciativa declarada de conquistar o Donbass.

Berlim também pode apontar assim uma ponte dourada de saída no cerco mundial ao russo, para usar a imagem do chinês Sun Tzu no clássico “A Arte da Guerra” (século 4º a.C.). Ele não deverá ser lido assim de forma unânime, claro.

Além da Ucrânia, membros mais assertivos da Otan, como EUA, Reino Unido e os países do Leste Europeu, que temem Putin, vão apontar para o fato de que ao fim a Alemanha não está querendo ligar com as crescentes sanções a hidrocarbonetos russos –Berlim sempre dependeu de gás e petróleo de Moscou, e estabeleceu grandes parcerias no setor.

Até aqui, com os EUA à frente, a Otan tem sustentado o esforço de guerra da Ucrânia, mas sempre dentro do limite que considera seguro para não provocar a Terceira Guerra Mundial. Linhas vermelhas apontadas por Moscou foram avançadas seguidamente, mas isso não satisfez Kiev.

Ao contrário. O chanceler do país, Dmitro Kuleba, foi recebido nesta quarta em Davos e criticou duramente a Otan, como ele e seu chefe já haviam feito. “A Otan, como uma aliança, como uma instituição, está completamente de lado e fazendo literalmente anda. Desculpe por dizer isso”, afirmou.

Ele se refere aos membros mais reticentes da aliança, como a própria Alemanha, mas desconsidera em sua fala que dois novos países, Suécia e Finlândia, poderão acabar a crise como novos membros do clube –uma derrota para Moscou.

Seja como for, ele voltou a elogiar a União Europeia, que praticamente espelha a Otan em membros. O bloco, ao seguir os EUA e aplicar sanções duras a Putin, tomou “decisões revolucionárias” que não esperava tomar.

Kuleba também chamou de “chantagem” a oferta russa para que um corredor marítimo humanitário seja aberto no mar Negro para que a Ucrânia possa exportar seus grãos –estima-se que haja 20 milhões de toneladas de trigo, um dos maiores estoques do mundo, represados para embarque em Odessa, ameaçando de fome regiões como o norte da África.

O Kremlin, afinal, fez a sugestão em troca de que algumas das sanções a que está submetido fossem levantadas. As queixas do chanceler se somam às do próprio Zelenski e de seu governo, que afirma estar com problemas para receber armas do Ocidente, cujos depósitos são atacados pelos russos. O presidente já disse que a situação no leste do país é “um inferno”.

Enquanto isso, Putin vai consolidando a russificação das áreas já sob seu controle ao sul. Estendeu o processo simplificado para obter passaporte russo aos moradores das províncias de Kherson e Zaporíjia, que integram a ponte Donbass-Crimeia. Ele fez algo semelhante nas autoproclamadas repúblicas rebeldes do Donbass, que somavam 800 mil cidadãos russos entre 4 milhões de habitantes até a guerra.

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