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A difícil vida dos órfãos na Síria um ano após o terremoto

Segundo a ONU, cerca de 265 mil perderam suas casas em zonas rebeldes no noroeste da Síria. Ao menos 43 mil continuam em abrigos

Redação Jornal de Brasília

06/02/2024 11h07

Foto: Aaref WATAD /AFP)

Encontrada sob os escombros de um edifício arrasado pelo terremoto mortal de 6 de fevereiro de 2023 no nordeste da Síria, a pequena Afraa fez seu primeiro aniversário.

Ela foi resgatada horas depois de seu nascimento, ainda unida pelo cordão umbilical a sua mãe, que perdeu a vida, assim como seu pai e irmãos.

Sua cidade, Jandaris, na fronteira turca, foi das mais afetadas pelo terremoto, que deixou ao menos 6.000 mortos na Síria e mais de 53.000 na Turquia.

A menina foi resgatada por seu tio, Khalil Sawadi, que a batizou em homenagem a sua mãe.

“Tenho sete filhos, oito com Afraa”, disse Sawadi, de 35 anos, à AFP.

Uma das filhas biológicas, Aataa, nasceu uns dias antes. “Minha esposa amamenta as duas, que são como gêmeas”, conta.

“Quando começou a dizer suas primeiras palavras, me chamou de papai e sua tia de ‘mamãe'”, explica, emocionado.

Deslocado e sem emprego fixo desde que fugiu do leste da Síria, reconhece que criar a Afraa é uma grande responsabilidade.

35 horas sob os escombros

Muitos dos edifícios não foram reconstruídos em Jandaris, governada por facções sírias pró-Turquia. Centenas de famílias continuam em acampamentos de campanha. As que tiveram mais sorte estão em campos permanentes de deslocados.

Segundo a ONU, cerca de 265 mil perderam suas casas em zonas rebeldes no noroeste da Síria. Ao menos 43 mil continuam em abrigos um anos depois.

A maioria já vinha de outras regiões do país fragmentado pela guerra que eclodiu em 2011 e já deixou mais de 500 mil mortos.

Hamza al Ahmed, de 15 anos, caminha com muletas e vive com seu irmão mais velho.

“Perdi minha mãe, meu pai e quatro irmãos”, conta. “Fiquei 35 horas sob os escombros, nosso prédio desabou e não sobrou nada”.

Hamza teve a perna amputada e o braço mutilado, mas não tem condições de pagar por um tratamento médico.

“Para mim, o aniversário do terremoto […] é o dia da separação. Sinto que a vida parou nesse dia, perdemos tudo o que amávamos”, disse.

“A vida sem pais é difícil”

“A vida sem pais é difícil mas continua”, afirma, olhando meninos jogando futebol. “Sonho com minha recuperação e ficar em pé novamente” sem muletas.

Yasmin al Sham, agora com 10 anos, perdeu seu pai, sua mãe grávida, três irmãos, incluindo uma gêmea. Ela sobreviveu após ficar mais de 18 horas sob os escombros.

“Estava dormindo quando o terremoto aconteceu […], meu irmão mais velho me pegou e correu para a porta, que caiu sobre ele”, conta.

Agora, está sob os cuidados de sua avó Samira al Yasin, de 62 anos, que perdeu 47 parentes, entre eles seu esposo e filho.

“Perdemos toda nossa família. Sobreviveram apenas alguns. O terremoto nos destruiu”, lamenta a mulher, deslocada do centro da Síria.

© Agence France-Presse

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