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Justiça investiga elo de extremistas com agressores de Cristina

Jonathan Morel e Leonardo Sosa, ambos de 23 anos, são sócios e trabalham numa marcenaria no bairro de Boulogne

FolhaPress

23/09/2022 9h40

Atualizada 03/12/2022 9h22

Foto: Reprodução

SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA

Jonathan Morel e Leonardo Sosa, ambos de 23 anos, são sócios e trabalham numa marcenaria no bairro de Boulogne, na Grande Buenos Aires, com mais um grupo pequeno de empregados. Até o começo deste ano, praticamente não tinham se envolvido com política; debatiam a situação do país em tom de revolta com amigos de bar.

Em maio, fundaram o Revolução Federal, grupo dito apolítico de protestos sociais que tem como principal alvo de críticas e ataques o atual governo, do presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner. A organização se tornou agora objeto de um pedido de investigação por parte da juíza Maria Eugenia Capuchetti, que conduz o caso do ataque a Cristina, perpetrado no começo deste mês.

Morel e Sosa, ainda adolescentes, se envolveram brevemente na campanha presidencial de Mauricio Macri, em 2015, ajudando a distribuir propaganda nas ruas -mas não se entusiasmaram com a vitória do direitista. Alguns de seus amigos até se animaram com as propostas de Javier Milei, libertário populista eleito deputado no último pleito legislativo -mas eles não. Sempre quiseram, em suas palavras, fazer algo mais ousado.

“Eu não dou bola ou apoio a nenhum político, acho que o mais importante que fazemos é dar meios para que as pessoas expressem seu inconformismo nas ruas”, diz Morel à reportagem. Qual é, então, seu inconformismo? “É que não sei o que fazer, qual vai ser meu futuro. Na verdade não vejo futuro para a Argentina; vejo famílias tendo de repartir um pacote de macarrão em oito pessoas, aposentados pedindo esmola. É muita raiva.”

Seu Revolução Federal passou a produzir cartazes contra autoridades do governo e a realizar os chamados “escraches” em suas casas -como nos anos 1980, quando se faziam esses atos de constrangimento público nas residências de repressores da ditadura impunes.

O grande protesto que marcou o início das atividades do grupo foi a chamada Marcha das Tochas, na qual seus integrantes caminharam no centro da capital com cartazes convocando as pessoas a “perseguir políticos e jornalistas que foram cúmplices do retorno do kirchnerismo -e acabar com eles”.

Além das tochas em si, a manifestação tinha no cenário guilhotinas (manufaturadas na marcenaria dos dois rapazes) e cartazes com a frase “Todos presos, mortos ou exilados”, com a palavra “todos” escrita como no logo do kirchnerismo, com um sol no lugar da letra “o”.

Segundo Morel, o grupo não tem apenas jovens entre seus seguidores. Há desempregados, aposentados, “gente que o sistema está expulsando e deixando sem nada”.

A um protesto no último dia 18 de agosto juntou-se uma jovem vendedora de algodão-doce, então desconhecida dos fundadores do Revolução Federal. Chamava-se Brenda Uliarte, hoje presa sob a acusação de ter planejado uma tentativa de homicídio, conduzida por seu namorado, o brasileiro Fernando Sebag Montiel, no último dia 1º, diante da residência da vice-presidente, na Recoleta.

“Não temos nenhum vínculo com a gangue do algodão-doce”, diz Morel, em referência ao nome pelo qual ficou conhecido o grupo de Sabag, Uliarte e mais dois acusados de envolvimento no caso, Agustina Díaz e Gabriel Carrizo. O jovem também afirma repudiar o ataque, negando ter sido um incentivador, ainda que de modo não intencional, dele.

“O que ocorre é que as coisas às vezes fogem do controle. Quando fomos protestar contra [o ministro da economia] Sergio Massa a ideia era só gritar, insultar. Mas as pessoas se deixaram levar pela emoção e chutaram seu carro.”

A juíza Capuchetti pediu que os movimentos dos integrantes do Revolução Federal sejam investigados, com a abertura de um inquérito paralelo para apurar outros possíveis vínculos do grupo com a tentativa de matar Cristina.

Uma das pistas que a Justiça segue para estabelecer essas ligações é o fato de Uliarte ter dito em mensagens a uma amiga, depois do ataque fracassado contra Cristina, que, se fosse necessário, tinha “contatos e amigos”. Em depoimento à Justiça, ela teria feito alusão ao contato com membros do Revolução Federal.

Morel reluta em ser chamado de extremista e, nesse sentido, diz não se opor a várias pautas da esquerda. “Sou bissexual, a favor do direito ao aborto. Não tenho nada a ver com a maneira como as pessoas querem viver. Minha bronca é com políticos que roubam nosso futuro.”

Depois do ataque a Cristina, o grupo preferiu sair um pouco das ruas. Na marcenaria, porém, reuniões acontecem sempre. “Não vamos parar, mas tampouco deixar que nos vinculem a atos de violência.”

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