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Governadores em reeleição enfrentam disputas internas e dissidências

Entre as pendências estão múltiplas candidaturas ao Senado, a indefinição da escolha dos vices e alianças que devem ser seladas na última hora

FolhaPress

02/08/2022 7h09

Foto: Divulgação

João Pedro Pitombo
Salvador, BA

Nas vésperas do prazo final das convenções, que termina na próxima sexta-feira (5), 10 dos 19 governadores que concorrem à reeleição enfrentam disputas internas, dissidências e ainda não fecharam as suas respectivas chapas majoritárias.

Entre as pendências estão múltiplas candidaturas ao Senado, a indefinição da escolha dos vices e alianças que só devem ser seladas na última hora. Parte delas está condicionada aos movimentos do xadrez da eleição presidencial.

No comando do maior colégio eleitoral do país desde abril, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), enfrenta embates internos entre aliados do MDB e da União Brasil. Os dois partidos reivindicam o posto de vice-governador e deixam em segundo plano uma possível candidatura ao Senado.

Isso porque ainda não surgiu na base aliada do governador um nome competitivo ao Senado para enfrentar a candidatura do ex-governador Márcio França (PSB) e nomes ligados ao bolsonarismo, como o ex-ministro Marcos Pontes (PL) e a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB).

Além disso, outros partidos que estarão na aliança de Rodrigo vão correr em raia própria e lançaram candidatos ao Senado, caso do deputado estadual Heni Ozi Cukier (Podemos) e da médica bolsonarista Nise Yamagushi (Pros).

Em Minas Gerais, a disputa também se dá em torno do candidato a vice. O governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição, mantém negociações com PSDB, Cidadania e PL, mas deixou o ex-secretário Mateus Simões (Novo) como opção para o caso de uma chapa pura.

Zema tem dito que prefere um vice com popularidade e peso eleitoral. Seu preferido é o jornalista Eduardo Costa (Cidadania), mas o partido está federado ao PSDB, que tem candidato ao governo.

Em estados onde o governador é favorito à reeleição com ampla margem de intenções de voto, caso do Paraná, Goiás e Pará, há um cenário de alianças robustas com múltiplas candidaturas ao Senado.

A possibilidade de mais de uma candidatura ancorada na mesma chapa para governador, mesmo com apenas uma vaga em disputa, foi considerada legal após consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral.

A novidade estimulou os partidos a buscarem um lugar ao sol, mesmo que para isso tenham que enfrentar candidatos de outras legendas que estarão no mesmo arco de alianças.

No Paraná, o governador Ratinho Júnior (PSD) anunciou sua chapa na convenção realizada no sábado (30), mas na prática vai para a disputa com uma profusão de candidatos ao Senado. Ao todo, cinco partidos da base aliada lançaram candidatos próprios ao posto.

Dentre os cinco candidatos ao Senado há nomes de grupos antagônicos, caso do deputado federal bolsonarista Paulo Eduardo Martins (PL) e do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), que se tornou desafeto de Bolsonaro após romper com o presidente em abril de 2020.

Também foram lançados ao Senado na base do governador os candidatos Guto Silva (PP), César Silvestri (PSDB) e Orlando Pessuti (MDB).

Em nota, Ratinho Júnior afirmou que “o PSD do Paraná tem ampla aliança e bons nomes em seus quadros para a disputa ao Senado”. Na convenção, contudo, o governador disse que apoiará oficialmente Paulo Eduardo Martins, consolidando a aliança com Bolsonaro no estado.

O cenário é parecido em Goiás, onde quatro nomes postulam a candidatura ao Senado na chapa liderada pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil). O senador Luiz do Carmo (PSC), que está em fim de mandato, abriu mão de concorrer à reeleição e vai disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

Dois pré-candidatos ao Senado são da União Brasil: os deputados federais Zacharias Calil e Delegado Waldir, que terão que chegar a um acordo até a convenção, que acontece no último dia do prazo da Justiça Eleitoral.

Dentre os demais partidos aliados a Ronaldo Caiado, postulam o Senado ex-deputado Alexandre Baldy (PP) e o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira (PSD).

A tendência é que haja um afunilamento até o prazo final, mas são pequenas as chances de um consenso em torno de um só candidato.

“Quanto mais candidato, melhor para mim. Eu sou um defensor da democracia. Deixa o povo escolher”, diz o deputado Delegado Waldir, que fez a consulta ao TSE que possibilitou várias candidaturas a senador na mesma chapa.

No Pará, o governador Helder Barbalho (MDB) deverá ter três candidatos ao Senado em sua coligação: o deputado Beto fato (PT), o ex-senador Flexa Ribeiro (PP) e o ex-prefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro (PSDB).

Neste caso, contudo, as múltiplas candidaturas são encaradas com naturalidade dentro da base, já que os candidatos têm redutos eleitorais distintos e a oposição está isolada no estado.

Favorito à reeleição, Barbalho deve liderar uma aliança que pode chegar a 20 partidos e engloba as três forças tradicionais da política paraense, que disputam o poder no estado desde a redemocratização: MDB, PSDB e PT.

No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra (PT) se reconciliou com antigos adversários e fechou uma chapa com o deputado Walter Alves (MDB) como vice e o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT) para o Senado.

A escolha para o Senado, contudo, não é consenso entre os partidos da base da governadora: o PSB abriu uma dissidência interna e oficializou no sábado o nome do deputado federal Rafael Motta para concorrer ao cargo.

O principal foco de resistência é o fato de Carlos Eduardo ter sido adversário de Fátima em 2018 e, no segundo turno, ter apoiado Bolsonaro. Hoje, ele afirma que errou e que já fez a sua autocrítica.

A governadora tem criticado a possibilidade de uma dupla candidatura ao Senado em sua base, destacando que o principal beneficiado seria o ex-ministro Rogério Marinho (PL), que concorre ao cargo pela oposição com uma forte estrutura de campanha.

Outro foco de conflito na região Norte é o Amazonas, onde o governador Wilson Lima (União Brasil) é pressionado por seus principais aliados: a ala bolsonarista comandada pelo pré-candidato ao Senado Coronel Menezes (PL) e o grupo do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).

Insatisfeito com a candidatura de Menezes, o Avante lançou o ex-deputado Chico Preto ao Senado para bater de frente com o bolsonarista. O prefeito tem se referido ao pré-candidato do PL como “um inimigo de Manaus” por conflitos em torno da Zona Franca.

Menezes diz que o imbróglio será superado: “Não entendo a postura intransigente do prefeito. Quando a gente faz uma aliança, você pode até não gostar de um ou outro, mas tem que eu aceitar o acordo”.

No vizinho Acre, o clima é de rebelião entre os partidos da base do governador Gladson Cameli (PP). Aliado de primeira hora do governador, o senador Márcio Bittar (PL) anunciou rompimento nesta semana após a escolha deputado federal Alan Rick (União Brasil) como candidato a vice.

“Não tenho mais assunto com o governador. Ele quebrou o compromisso que havia assumido nacionalmente”, diz o senador Márcio Bittar. O cenário mais provável é que ele apoie a deputada federal Mara Rocha (MDB), mas não está descartada uma candidatura própria do PL ao governo.

Até esta segunda-feira (1º), as chapas de governadores haviam sido fechadas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Paraná, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Rondônia, Tocantins e Roraima.

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