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Economia

Taxa de desemprego recua para 8,3% até outubro, menor nível desde 2014

É o menor nível para esse intervalo desde 2014. À época, a economia nacional já dava sinais de fraqueza, e a taxa estava em 6,7%, segundo a Pnad Contínua

FolhaPress

30/11/2022 14h07

Foto: Divulgação

Leonardo Vieceli
Rio de Janeiro, RJ

A taxa de desemprego no Brasil voltou a recuar e atingiu 8,3% no trimestre até outubro, informou nesta quarta-feira (30) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É o menor nível para esse intervalo desde 2014. À época, a economia nacional já dava sinais de fraqueza, e a taxa estava em 6,7%, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

Considerando os diferentes trimestres da série histórica comparável, iniciada em 2012, o patamar de 8,3% é o menor desde abril de 2015 (8,1%).

A Pnad ainda indicou que a população ocupada com algum tipo de trabalho voltou a bater recorde no país (99,7 milhões), influenciada pela abertura de vagas com e sem carteira assinada.

O número de empregados sem carteira, aliás, também atingiu a máxima na série histórica (13,4 milhões).
A taxa de desemprego de 8,3% ficou abaixo das projeções de analistas. A estimativa era de 8,5% até outubro, conforme a agência Bloomberg.

O indicador de desocupação marcava 9,1% até julho, período mais recente da série comparável. No trimestre até setembro, que integra outra série da Pnad, a taxa já estava em 8,7%.

“A queda na taxa de desemprego reflete de forma tardia os dados positivos de atividade econômica do primeiro semestre. Isso acontece porque existe uma defasagem entre o ritmo de atividade econômica e seu impacto no mercado de trabalho”, afirma Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.

NÚMERO DE DESEMPREGADOS É DE 9 MILHÕES

O número de desempregados, por sua vez, recuou para 9 milhões no trimestre finalizado em outubro, apontou o IBGE.
É o menor nível para o período desde 2014 (6,7 milhões). Na análise de diferentes intervalos da série, trata-se do número mais baixo desde julho de 2015 (8,8 milhões).

A população desempregada, conforme as estatísticas oficiais, é formada por pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e seguem à procura de novas vagas formais ou informais. Quem não tem emprego e não está buscando oportunidades não entra nesse cálculo.

O contingente de desempregados somava 9,9 milhões no trimestre até julho de 2022 e 9,5 milhões até setembro deste ano.
A alta da população ocupada, que atingiu a máxima de 99,7 milhões, reflete uma combinação de fatores, de acordo com Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad.

A pesquisadora do IBGE lembrou que a abertura de vagas vem sendo incentivada pelo avanço da vacinação contra a Covid-19 desde o segundo semestre de 2021.

Conforme Beringuy, esse movimento foi incrementado em outubro de 2022 por efeitos sazonais. Ela lembrou que a reta final do ano costuma aquecer as contratações no país.

A proximidade do Natal e de outras festividades historicamente movimenta setores de comércio e serviços.
“Este momento de crescimento de ocupação já vem em curso desde o segundo semestre de 2021. Com a aproximação dos últimos meses do ano, período em que historicamente há aumento de geração de emprego, a tendência se mantém”, disse.

Já a população fora da força de trabalho foi estimada em 64,9 milhões no trimestre até outubro. Esse contingente, que reúne quem não está ocupado nem procurando emprego, ficou praticamente estável frente a julho (64,7 milhões).

A população fora da fora continua acima do pré-pandemia. Era de 61 milhões no trimestre até outubro de 2019, antes da crise.
O aumento do grupo também faz com que a taxa de desemprego seja menos pressionada, pontuam economistas.

Segundo Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, parte dos trabalhadores, especialmente os mais velhos, deixou o mercado na pandemia e ainda não retornou.

O pagamento de benefícios sociais, como o Auxílio Brasil, pode ter gerado algum “resquício” para manter a população fora da força em nível elevado, avalia o economista.

EMPREGADOS SEM CARTEIRA BATEM RECORDE

O número de empregados com carteira no setor privado alcançou 36,6 milhões no trimestre até outubro. Subiu 2,3% (822 mil a mais) frente ao trimestre anterior.

Já o grupo de empregados sem carteira no setor privado bateu recorde ao atingir 13,4 milhões, uma alta de 2,3% (297 mil a mais) frente a julho.

“Os dados reforçam a continuidade do movimento de queda do desemprego, em diferentes tipos de ocupação e setores”, diz Imaizumi.

O número total de informais no país chegou a quase 39 milhões até outubro. Nesse cálculo, além dos empregados sem carteira assinada no setor privado, o IBGE também contabiliza trabalhadores domésticos sem carteira, profissionais por conta própria sem CNPJ, empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.

No trimestre anterior, até julho, o número total de informais havia sido maior, estimado em 39,3 milhões. Trata-se do recorde da série.

No trimestre até outubro, os informais representaram 39,1% da população ocupada. Essa fatia era de 39,8% em julho.
O número de empregados no setor público foi outro indicador a bater recorde em outubro. Chegou a 12,3 milhões.

Segundo Beringuy, do IBGE, a atividade de educação vem abrindo vagas com a retomada após as restrições na pandemia. Outro destaque apontado no setor público foi a área de saúde.

RENDA SOBE APÓS PERDAS

A queda do desemprego, a partir do ano passado, veio acompanhada inicialmente pela criação de postos de trabalho com salários mais baixos na média. A renda real foi derrubada pe disparada da inflação.

Agora, passou a dar sinais de melhora em um contexto de trégua de parte dos preços. Às vésperas das eleições, o governo Jair Bolsonaro (PL) buscou frear a inflação com cortes tributários sobre itens como os combustíveis.

O rendimento real habitual alcançou R$ 2.754 até outubro. Cresceu 2,9% em relação a julho (R$ 2.677) e 4,7% na comparação com igual intervalo de 2021 (R$ 2.629).

A abertura de vagas formais, que historicamente apresentam salários mais altos, também contribuiu para a elevação da renda, sinalizou Beringuy.

“Há uma participação maior de trabalhadores formais, cujo rendimento de maneira geral é mais alto, e, associada a isso, uma retração da inflação”, disse.

REAÇÃO DEVE PERDER FORÇA

A retomada do mercado de trabalho tende a perder ímpeto em 2023, dizem analistas. Pesa nessa avaliação o efeito dos juros elevados, que costumam esfriar a atividade econômica e, consequentemente, a abertura de vagas.

“Os dados de atividade econômica já mostram sinais de desaceleração, que vão respingar nos dados de desemprego mais para frente. Quando a economia perde fôlego, a geração de emprego cai”, aponta Felipe Salles, do C6 Bank.

Segundo ele, a taxa de desocupação ajustada sazonalmente deve terminar 2022 em 8,3%. O indicador deve subir “moderadamente” no próximo ano, encerrando 2023 em 8,8%, acrescentou.

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