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Economia

Manter isenção para compras até US$ 50 é insustentável, diz CEO de gigante dos shoppings

Na última semana, um projeto de lei aprovou uma alíquota de 20% para essas compras

Redação Jornal de Brasília

07/06/2024 20h31

Foto: Agência Brasil

FERNANDA BRIGATTI
GUARUJÁ, SP (FOLHAPRESS)

A isenção para compras internacionais de até US$ 50 feitas em sites cadastrados no programa Remessa Conforme, do governo federal, levará empresas a produzir no Paraguai, disse nesta sexta-feira (7) Rafael Sales, CEO da Allos, grupo administrador de shoppings criado da fusão entre brMalls e Aliansce Sonae.

Na última semana, um projeto de lei aprovou uma alíquota de 20% para essas compras.

“A gente está pegando emprego no Brasil e não indo à China, a gente vai é fazer vários empresários brasileiros irem para o Paraguai”, afirmou o executivo durante painel em evento do Esfera Brasil, no Guarujá, litoral paulista.

Sales citou o exemplo do grupo Guararapes, dono da Riachuelo, que mantém linha de produção no país vizinho.

O CEO da Allos também fez críticas à Shein, que está no centro da briga do setor têxtil brasileiro contra a isenção de imposto de importação para compras de até US$ 50, e disse que uma eventual manutenção é insustentável dos pontos de vista ambiental e econômico, “simplesmente por populismo”.

“Não acredito que essa seja uma visão de governo”, disse. “Um governo como o do PT não pode achar que o empresário pequeno brasileiro que recolhe todos os impostos tenha condição de competir com uma empresa chinesa que tem todas as estruturas, desbalanceada em relação ao que a gente tem no Brasil, tanto em tributação quanto em direitos trabalhistas.”

O senador Angelo Coronel (PSD-BA) disse que as empresas chinesas vão “arregaçar” o comércio brasileiro. “Quem vai empregar os funcionários das pequenas e médias empresas de varejos, das pequenas indústrias que vão demitir por não ter por quem vender.”

O debate originalmente trataria de digitalização e varejo -Sales disse que a reforma tributária será um desafio maior para o varejo do que vem sendo a digitalização.

“Essa reforma foi estruturada como se o Brasil fosse a Faria Lima, a Paulista e o Leblon”, disse. “Em Belém, a maioria dos lojistas são empresários locais, são franqueados. A cadeia deles não é complexa suficiente para se creditar nessa estrutura muito sofisticada, mas pouco realista, criada pelo governo.”

Segundo o advogado tributarista Luiz Bichara, que também participava do debate, os shoppings submetidos ao mecanismo de lucro presumido cobram hoje 3,65% de tributo sobre o consumo dos lojistas. Esse imposto passa, de acordo com o advogado, a 21%. “Não é um aumento bobo.”

Sales disse que, “assim como na questão da blusinha, o Congresso está corrigindo”, e tem esperanças que o Parlamento atue em relação à tributação do varejo.

O painel acabou monopolizado pela “taxa das blusinhas”, como o imposto de importação vem sendo chamado, e pela medida provisória para compensar a desoneração da folha de pagamento.

Bichara chamou a isenção de imposto de importação de “alucinada” e um “contrabando legalizado”.

Segundo ele, “basta tributar a tal blusinha” para que o governo consiga compensar a desoneração.

A medida provisória, na avaliação dele, é um “fantasia de proporções épicas. Acho que o governo foi profundamente infeliz nessa MP.” Para Bichara, ao invés de criar nova fonte de custeio, como havia definido o STF (Supremo Tribunal Federal), o governo fez uma operação de caixa, uma espécie de “empréstimo-ponte com o dinheiro das empresas.”

“Isso é uma pedalada, não posso encontrar palavra mais apropriada.” Bichara acredita que se a MP não for devolvida, o assunto acabará judicializado.

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