Menu
Economia

Ibovespa inicia o mês em baixa de 1,29%, a 115 mil pontos, com aversão global

Vindo de três ganhos no fechamento do mês anterior, o Ibovespa iniciou outubro pressionado pela aversão a risco global

Redação Jornal de Brasília

02/10/2023 18h26

Foto: Divulgação

Vindo de três ganhos no fechamento do mês anterior, o Ibovespa iniciou outubro pressionado pela aversão a risco global, que resultou em forte avanço dos rendimentos dos Treasuries nesta abertura de semana. Assim, o índice da B3 encerrou o dia bem mais perto da mínima (114.761,10) do que da máxima (116.672,30) da sessão, saindo de abertura aos 116.565,17 pontos. Ao fim, mostrava queda de 1,29%, a 115.056,86, com giro fraco, a R$ 15,8 bilhões. No ano, o índice sobe 4,85%.

Ainda no começo da tarde, os juros dos Treasuries ampliavam alta, levando os rendimentos da T-note de 10 anos ao maior nível em 16 anos e os do T-bond de 30 anos a tocar recorde de 13 anos. Nesse contexto de aversão a risco, as ações de maior peso e liquidez operaram em sentido único, negativo. A deterioração do Ibovespa, do meio para o fim da tarde, seguiu a acentuação de perdas em Petrobras ON e PN, então nas respectivas mínimas do dia, acompanhando o Brent em queda perto de 2% na sessão, no piso do dia para o barril. No fechamento, Petrobras ON mostrava baixa de 1,90% e a PN, de 1,50%

Assim, o Ibovespa, após ter encerrado a sexta-feira aos 116,5 mil pontos, retrocedeu hoje, durante a sessão mas não no fechamento, aos níveis de terça e quarta-feira passadas, quando havia terminado nos menores patamares desde o começo de junho.

“Início de outubro e mercado não resiste: a aversão a risco global voltou a dar o tom, sem que o impedimento do ‘shutdown’ nos Estados Unidos, com a votação no Congresso americano no sábado, contribuísse para a melhora da confiança neste início de semana”, diz Dennis Esteves, sócio e especialista da Blue3 Investimentos. À tarde, acrescenta o analista, veio a piora, em cima também de novas falas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que foi “duro com relação à estabilidade de preços.”

“Dia bastante difícil, com a Bolsa brasileira respondendo à dinâmica de juros lá fora, com forte pressão também sobre as ações cíclicas domésticas, entre as quais as ‘small caps’ papéis de menor capitalização de mercado, que costumam amplificar movimentos em relação ao Ibovespa, especialmente quando este opera sob pressão, como hoje”, diz João Piccioni, analista da Empiricus Research. “Bolsa inteira, praticamente, veio para baixo”, acrescenta. 

Sem negócios na China em razão do feriado da “Semana Dourada” e, dessa forma, sem referência de preços para o minério nesse intervalo, o dia na B3 foi negativo também para o setor metálico, com Vale ON em baixa de 0,87% – e que inclui a siderurgia (Gerdau PN -1,45%, CSN ON -0,99%). A sessão foi ruim para o segmento de maior peso no índice, o financeiro, com destaque, entre os grandes bancos, para Bradesco (ON -1,58%, PN -1,40%).

Na ponta perdedora do Ibovespa nesta segunda-feira, Vamos (-8,41%), MRV (-6,56%) e Azul (-6,15%), com Fleury (+3,37%), BB Seguridade (+2,34%), BRF (+2,06%) e Minerva (+1,73%) na fila oposta, em que 13 papéis, dos 86 que constituem a carteira Ibovespa, conseguiram evitar perdas na sessão.

Na agenda doméstica, destaque nesta segunda-feira para os números do Caged, sobre a geração de vagas de trabalho, que “surpreendeu positivamente” em agosto, acima do teto das expectativas para o mês, aponta Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

“Temos sinais de que a desaceleração do mercado de trabalho é bastante gradual, com as admissões fazendo frente às demissões. O mercado de trabalho ainda está aquecido, o que resulta em um crescimento forte para o PIB em 2023”, acrescenta a economista, destacando o desempenho do setor de serviços na geração de vagas em agosto, responsável por quase 52% do saldo do Caged – e um segmento com peso de pouco mais de 70% no PIB. “A desaceleração do setor de serviços tem se mostrado também mais gradual do que se previa.”

Dólar

O dólar à vista abriu a semana em alta firme no mercado doméstico de câmbio, em mais um dia marcado por avanço das taxas dos Treasuries e fortalecimento da moeda americana no exterior. Leituras acima do esperado de índices gerente de compras (PMIs) industriais nos Estados Unidos em setembro levaram a aumento das chances de nova alta da taxa básica do país pelo Federal Reserve neste ano, reforçando o cenário de juros elevados por período prolongado nos EUA.

Forte em todo o mundo, o dólar já abriu em alta por aqui e superou rapidamente o nível de R$ 5,05. No início da tarde, em sintonia com avanço das taxas da T-note de 10 e 30 anos, atingiu o pico da sessão a R$ 5,0805. Ao fim do pregão, a moeda subia 0,79%, negociada a R$ 5,0667, ainda nos maiores níveis desde 31 de maio. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para novembro teve giro expressivo para uma segunda-feira, movimentando mais de US$ 14 bilhões.

O real, que costuma sofrer mais em episódios de estresse no exterior por ser mais líquido, desta vez não liderou as perdas entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities Entre pares latino-americanos, o peso colombiano apresentava, no fim da tarde, queda superior a 2%, ao passo que o peso mexicano perdia cerca de 1,5%. 

“O real apanhou muito na semana passada e hoje acaba com desempenho melhor que os pares. A inflação americana ainda é alta e o pessimismo dos membros do Fed pressiona o dólar para cima no mundo”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “O grande ponto e que o Fed demonstra estar confuso de como sair deste impasse juros versus inflação”.

Diretora do Fed, Michelle Bowman afirmou hoje que considera “apropriado” elevar mais os juros e mantê-los em “nível restritivo por algum tempo” a fim de que a inflação volte à meta de 2%. Já o vice-presidente para supervisão do BC americano, Michael Barr, disse que a questão mais importante não é se os juros devem subir mais neste ano, mas por quanto tempo terão que permanecer “em nível suficientemente restritivo”.

Referência do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY tocou novamente o nível dos 107,000 pontos, especialmente em razão dos ganhos da moeda americana em relação ao euro. Dados de PMI industrial da zona do euro mostraram queda na passagem de agosto para setembro, em linha com a expectativa de analistas. 

As taxas dos Treasuries avançaram em bloco. Principal ativo do mundo e referência para os mercados globais de renda fixa, o retorno da T-note de 10 anos subiu mais de 2%, tocando 4,70% na máxima, maior nível desde outubro de 2007. Já as cotações do petróleo recuaram, com o tipo Brent em baixa de 1,62%, cotado a US$ 90,71 o barril, às vésperas da reunião da Organização dos Países Produtores de Petróleo e aliados (Opep+)

No front doméstico, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 8,904 bilhões em setembro, abaixo da mediana da pesquisa Projeções Broadcast (US$ 9,10 bilhões), mas, ainda assim, recorde para os meses de setembro. No ano, a balança comercial acumula superávit de US$ 71,309 bilhões. O governo revisou a projeção de superávit neste ano de US$ 84,7 bilhões para US$ 93 bilhões.

O economista da Pezco Helcio Takeda afirma que a perspectiva de superávit comercial recorde em 2023 não deve impedir que o dólar se mantenha acima de R$ 5,00 até o fim do ano. “O dólar parece estar mais sujeito a fatores internacionais, como o avanço dos yields das Treasuries, que acabam exercendo influência muito maior do que os fundamentos do País, como o superávit comercial renovando recordes e o déficit tranquilo em conta corrente”, afirma.

Juros

Os juros futuros fecharam a primeira sessão de outubro em forte alta, 

Influenciados pela aversão ao risco no exterior e geração de vagas apurada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) acima do teto das estimativas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 superou 11% e fechou em 11,035%, de 10,829% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 subiu a 10,83%, de 10,57%. A taxa do DI para janeiro de 2027 terminou em 11,04%, de 10,80%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 11,50%, de 11,30% no ajuste de sexta-feira.

As taxas do miolo da curva chegaram a abrir mais de 20 pontos-base ao longo da tarde, sob pressão do exterior e do Caged. O saldo de 220.844 vagas criadas em agosto superou o teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, que era 209 692 postos.

“Temos o setor de serviços como protagonista, indicando resiliência da atividade e também trajetória mais lenta do grupo de serviços, que é o que vem sendo observado pelo Banco Central”, comentou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Sozinho, o setor de serviços, com 114.439 postos, respondeu por metade do saldo líquido de agosto.

Segundo cálculos do economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, a precificação da curva a termo preservava os 10% de probabilidade de aceleração no ritmo de queda da Selic para 0,75 ponto no Copom de novembro e 90% de chance de 0,50 ponto. Para a reunião de dezembro, as apostas em 0,75 ponto estão zeradas e a probabilidade de uma diminuição da dose para 0,25 ponto já está entre 35% e 30%, contra 65% a 70% de chance de 0,50 ponto. “Para o Copom de janeiro, a probabilidade de 0,25 já está em 40%”, afirma Serrano. A curva projeta Selic já um pouco acima de 11,75% para o fim de 2023 e em 10,50% no fim de 2024.

A resiliência da economia traz preocupações sobre a eficácia do ciclo de aperto monetário promovido também nos EUA. Não só se espera juro elevado por um período prolongado como os PMIs acima do esperado despertaram novamente as apostas de retomada da alta pelo Federal Reserve na reunião de novembro, ainda que continuem minoritárias. O juro da T-note de 10 anos chegou a 4,70% nas máximas do dia, maior nível em 16 anos, e o do T-bond de 30 anos, a tocar recorde de 13 anos, em 4,81%. A taxa da T-Note de 2 anos, por sua vez, na máxima foi a 5,12%.

O economista André Perfeito comenta que até a curva nos EUA voltar a ficar positivamente inclinada, a variável de ajuste será a parte longa. “Dada a inclinação negativa da curva de juros nos EUA e dado que os juros curtos não vão cair, única solução lógica para isso será a elevação dos juros longos. Os efeitos será o fortalecimento do dólar e a perspectiva de juros mais elevados no mundo num ambiente inflacionário mais desafiador”, afirma.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado