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Economia

Guerra da Ucrânia deve elevar inflação e desacelerar o PIB no Brasil, dizem economistas

Na avaliação do economista Alexandre Schwartsman, o conflito entre Rússia e Ucrânia afeta produtos importados pelo Brasil, como petróleo, gás e trigo

Redação Jornal de Brasília

24/02/2022 15h22

Veículos militares ucranianos passam pela Praça da Independência no centro de Kiev em 24 de fevereiro de 2022. Foto: Daniel Leal/AFP

A consequência da invasão da Rússia à Ucrânia na economia brasileira deve ser o reforço de um quadro de estagflação – ou seja, um aumento da inflação com a redução do ritmo de atividade. Na avaliação de economistas, o efeito deverá ser imediato na já combalida economia brasileira.

O economista Armando Castelar, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), haverá reflexos no preço do petróleo, dos combustíveis, trigo, pão e alimentos mais caros. Nas contas do economista, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano deve passar dos atuais 6% para 6,2% a 6,3%. A previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022, por sua vez, que era de 0,6%, deve recuar para algo entre 0,3% a 0,4%.

Castellar lembra que o resultado do IPCA-15 deste mês, de 0,99% e acima do esperado, já indica que talvez o Banco Central tenha de ir além de 12,25% ao ano com a Selic, a taxa básica de juros. E, com esse choque, ele acredita que essa tendência possa ser reforçada. “Possivelmente, além da reunião (do Comitê de Política Monetária) de março e de maio, vai ter de subir juros em junho.”

Na avaliação do economista e consultor, Alexandre Schwartsman, o conflito entre Rússia e Ucrânia afeta produtos importados pelo Brasil, como petróleo, gás e trigo. “Quando há um aumento de preços em produtos que exportamos mais, há o impacto da inflação, mas também há o efeito positivo para o produto, o que movimenta a atividade. Nesse caso, teremos só o impacto do aumento de preços.”

Além disso, destaca ele, a pressão de alta do dólar também tem um efeito inflacionário. Só hoje a moeda americana subiu 1,98% ante o real, de R$ 5,01 para R$ 5,10. A moeda vinha experimentando nos últimos dias um movimento de baixa e chegou a ficar abaixo de R$ 5,00. “Esse é um cenário em que os países emergentes podem ter dificuldades para captar recursos”, diz Schwartsman

Para Castellar, a primeira reação a choques deste tipo, tanto por parte de investidores do mercado financeiro como da economia real, é segurar os planos e aguardar para avaliar o que fazer. Esse tipo de choque também amplia a aversão ao risco, fortalecendo as aplicações em títulos do Tesouro Americano, que são papéis mais seguros. “Países emergentes são vistos como mais arriscados.”

O reflexo desse movimento, observa o economista, deve ser uma suspensão temporária na apreciação do real, algo que se acelerou nas últimas semanas com a forte entrada de capital na Bolsa. No entanto, Castelar frisa que o padrão histórico observado em choques provocados por conflitos internacionais mostra que eles são transitórios. Isto é, são críticos num primeiro momento e, gradativamente, há uma acomodação. “Esses choques não duram muito tempo.” A sua previsão é que num prazo entre quatro a seis meses a economia estará reagindo e a tendência é que os fundamentos econômicos prevaleçam.

Estadão Conteúdo

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