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Economia

Fundo Amazônia pode ser ampliado para no mínimo US$ 10 bi e ajudar combater crime, diz Marina

A estimativa de decuplicar o fundo criado em 2008 com US$ 1,2 bilhão doados pela Noruega e pela Alemanha é de Carlos Nobre

FolhaPress

18/01/2023 14h38

Foto: Agência Brasil

A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva (Rede), está otimista com as possibilidades de captação para ampliar para além de dez vezes os recursos do Fundo Amazônia.

“Não gosto de colocar um número. Queremos ampliar o fundo e vamos nos esforçar para captar mais. Por que vou limitar a US$ 10 bi? Quem sabe podemos ultrapassar”, disse ela, em entrevista à Folha no Fórum Econômico Mundial, em Davos.

A estimativa de decuplicar o fundo criado em 2008 com US$ 1,2 bilhão doados pela Noruega e pela Alemanha é de Carlos Nobre, um dos cientistas brasileiros com maior trânsito internacional, também presente no evento na Suíça.

“A meta de chegar a US$ 10 bilhões em doações para o Fundo Amazônia é totalmente factível”, avalia o climatologista e professor da USP (Universidade de São Paulo). “Este é o volume de investimento mínimo de que precisamos para salvar a Amazônia e construir uma nova bioeconomia de floresta em pé.”

Como a emergência climática virou um dos temas centrais em Davos, onde estão reunidos importantes líderes globais até sexta-feira (20), o encontro é visto como uma ótima oportunidade para prospecção de recursos para o Fundo Amazônia.

Na terça-feira (17), com o apoio de 45 parceiros, o Fórum Econômico Mundial lançou a Giving to Amplify Earth Action (GAEA), iniciativa global para financiar e desenvolver novas e já existentes parcerias públicas, privadas e filantrópicas para ajudar a desbloquear os US$ 3 trilhões de financiamento necessário frear o desastre ambiental iminente e restaurar a biodiversidade até 2050.

“O potencial de ampliação do fundo é muito grande. Neste momento, nós estamos identificando vários parceiros e prospectando formas de ampliar esses aportes por meio da iniciativa privada, da filantropia e dos governos”, afirmou a ministra.

“Temos que ter uma certa agilidade, porque há uma grande sensibilidade e é bom que esse desejo de contribuir seja recepcionado pela nossa capacidade de apresentar os acordos para essas doações.”

Ela cita a Fundação Leonardo Di Caprio, que planeja captar US$ 100 milhões para a proteção ambiental no Brasil, além da Fundação Bezos, que leva o nome do fundador da Amazon.

“Em jantar com WWF já pude ver outros parceiros interessados em ajudar o Fundo Amazônia, que é um sucesso, disruptivo e virou um endereço certo da cooperação com o Brasil.”

A ministra está em uma maratona de encontros bilaterais com potenciais investidores do setor privado, governos e filantropos.
Criado com o objetivo de reduzir as emissões de carbono e combater o desmatamento na Amazônia, o Fundo Amazônia também pode ser usado excepcionalmente para situações emergenciais, como ajudar a controlar à criminalidade na região, ameaçada pelo garimpo e extração ilegal de madeira.

“O fundo tem essa possibilidade, sim, de emergencialmente ser utilizado para ações de fiscalização e de combate e controle, inclusive em parceria com a Polícia Federal”, disse Marina.

A ministra afirma, no entanto, que quando foi criado o Fundo Amazônia não era para ser usado para substituir os aportes do governo federal para fazer a sua obrigação. “Mas como o governo Bolsonaro subtraiu os recursos e estamos iniciando o ano sem suporte necessário, vamos usar por um tempo emergencialmente estes recursos para as ações de comando e controle.”

Nobre também defende que o dinheiro do fundo possa ser usado para atividades operacionais como a fiscalização e o fortalecendo da atuação do Ibama e da Polícia Federal.

Em 2015, o governo Temer conseguiu R$ 150 milhões do Fundo Amazônia para essa finalidade. “Em 2023, é preciso primeiro atacar o que está acontecendo na Amazônia, combater toda a ilegalidade. Isso é algo inicial, que tem de acontecer neste ano, de uma forma muito eficaz”, diz Nobre.

“É preciso muito investimento e a total presença de Estado, o que tem um custo elevado. Logicamente, depois, o desmatamento vai reduzir.”

A partir daí, defende o cientista, criam-se as condições para colocar o foco do investimento em grandes projetos de restauração na Amazônia, tanto de reflorestamento como de regeneração natural. O cálculo inicial é de que seriam necessários cerca de US$ 20 bilhões para restaurar mais de 50 milhões de hectares de floresta.

“Nós queremos que, cada vez mais, o Fundo Amazônia possa ser utilizado para desenvolvimento da pesquisa científica, para os projetos dentro das comunidades, para investimentos de base sustentável no campo do turismo e da bioeconomia”, enfatiza Marina.

Vários painéis em Davos alertam para o fato de que as crises de energia e do aumento do custo de vida em razão da Guerra da Ucrânia colocam em jogo a ambição de direcionar o planeta para um caminho de aquecimento de 1,5°C.

“Estamos em um ponto crítico em nossos esforços para colocar o planeta de volta nos trilhos para atender às nossas ambições climáticas”, disse Klaus Schwab, fundador e presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial.

Para atingir a velocidade e a escala necessárias para salvar a Terra, Schwab entende que é preciso desbloquear não apenas capital privado e fundos governamentais, mas também o setor de filantropia, “como uma força verdadeiramente catalítica para alcançar a aceleração necessária”.

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