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Economia

Em sessão volátil, dólar à vista encerra a R$ 5,0353, em baixa de 0,04%

Após a onda de apetite ao risco na segunda-feira, o ambiente externo se mostrou nesta terça mais conturbado

Redação Jornal de Brasília

17/10/2023 18h59

Dólar

Foto: Reprodução/ Flickr

Após a queda de 1,01% na segunda-feira, o dólar apresentou comportamento volátil nesta terça-feira, 17, com trocas de sinal ao longo do dia, em meio à divulgação de indicadores fortes da economia norte-americana e dúvidas sobre os desdobramentos geopolíticos da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas. Com mínima a R$ 5,0105 e máxima a R$ 5,0658, ambas registradas pela manhã, a moeda encerrou a sessão desta terça-feira cotada a R$ 5,0353, em queda de 0,04%. 

Após a onda de apetite ao risco na segunda-feira, o ambiente externo se mostrou nesta terça mais conturbado. Houve nova rodada de estresse das taxas dos Treasuries. A taxa da T-note de 10 anos voltou a superar o nível de 4,80%, com máxima em 4,86%. A alta das taxas teve início pela manhã com a leva de dados dos EUA e se acentuou à tarde diante de impasse político no Congresso norte-americano. As vendas no varejo americano subiram 0,7% em setembro, bem acima das expectativas (0,3%). Já a produção industrial avançou 0,3% em setembro, enquanto a previsão era de queda de 0,1%. 

Nos EUA, o deputado republicano Jim Jordan, aliado do ex-presidente Donald Trump, não conseguiu obter votos suficientes para ser eleito presidente da Câmara dos Representantes dos EUA – o que eleva as incertezas em relação a um acordo sobre o Orçamento para evitar o risco de paralisação do governo (shutdown) em novembro. Isso em um momento no qual o Tesouro americano aumenta a emissão de títulos e tem que rolar a dívida pagando juros mais elevados. 

O head de gestão da Nova Futura Asset, Christian Lupinacci, observa que o real se comportou melhor que outros ativos locais, uma vez que o Ibovespa recuou e as taxas de juros futuros apresentaram alta firme. Ele ressalta que os fundos multimercados nacionais ainda carregam posições expressivas “vendidas” em dólar no segmento futuro (que ganham com a baixa da moeda americana), o que dá certo suporte ao real. 

“Houve um estresse pela manhã com as vendas no varejo nos EUA e no meio da tarde com Treasuries, mas o dólar voltou a cair. Temos pontos favoráveis ao real, como balança comercial muito forte e a percepção de que o Banco Central brasileiro não vai acelerar o ritmo de cortes da Selic”, afirma Lupinacci, acrescentando que a preservação de taxa real doméstica elevada, dado o arrefecimento da inflação, tende a atrair fluxo estrangeiro.”Fazer grandes previsões de tendência com juro longo americano em alta e a guerra é dar um tiro no escuro. As alocações têm que ser mais de curto prazo”. 

Nos EUA, houve ligeiro recuo das chances de manutenção da taxa básica americana na reunião de política monetária do Banco Central em novembro, da casa de 93% para pouco menos de 90%. O presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, disse que vê “progresso” na luta contra a inflação e uma economia “bem mais avançada no processo de normalização da demanda do que muitos indicadores diriam”. 

Além das apostas em torno do aperto monetário e do risco de um shutdown nos EUA , pesa sobre os mercados a incerteza geopolítica. Notícias de bombardeio a hospital na Faixa de Gaza com morte de civis acirraram os ânimos. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, cancelou sua participação na reunião com o presidente americano, Joe Biden, e com outros líderes do Oriente Médio. 

“O dia foi de volatilidade elevada, com pressão pela manhã com dados americanos. Em seguida o dólar chegou a se aproximar da marca psicológica de R$ 5,00 na mínima, mas logo retomou o movimento de alta e chegou a superar R$ 5,05”, afirma o operador Thiago Lourenço, operador da Manchester, que vê possibilidade de uma pressão maior vendedora caso o PIB chinês do terceiro trimestre, previsto para ser divulgado nesta terça à noite, surpreenda para cima.

Taxas de juros

Os juros futuros subiram nesta terça-feira, 17, acompanhando a piora dos Treasuries, cujos rendimentos voltaram a romper níveis importantes ao longo da etapa vespertina.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 11,065%, de 10,912% no ajuste de segunda-feira, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,69% para 10,92%. A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 11,10%, de 10,88%, e a do DI para janeiro de 2029 avançou 11,51%, de 11,32%.

A curva local replicou o estresse nos títulos do Tesouro norte-americano, que já operavam com alta expressiva desde manhã após dados de atividade nos Estados Unidos acima do esperado. Tanto a produção industrial quanto as vendas do varejo de agosto superaram o consenso, reforçando a ideia dos juros elevados por tempo prolongado e até resgatando apostas em nova alta pelo Federal Reserve no curto prazo.

No fim da manhã, houve alguma descompressão dos prêmios de risco com a melhora do câmbio e as taxas chegaram a zerar a alta e oscilar em torno dos ajustes anteriores, mesmo com a manutenção da pressão nos Treasuries.

Na segunda etapa, os yields ampliaram o movimento, após o deputado republicano Jim Jordan não conseguir votos suficientes para ser eleito presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, e os DIs retomaram o avanço. Jim Jordan recebeu 200 votos, mas não obteve o apoio da maioria dos 435 deputados, o que mantém a Câmara dos Representantes paralisada. “Volta a preocupação sobre o shutdown da máquina pública na medida em que vai se aproximando novamente a necessidade de um novo acordo orçamentário”, explica a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.

As dificuldades políticas tornam ainda mais distante a possibilidade de uma solução definitiva para o Orçamento e, com isso, os EUA têm vivido de acordos de curto prazo que trazem volatilidade aos ativos e reforçam a incômoda situação fiscal do país. O atual acerto tem validade até 17 de novembro.

No fim da tarde, a taxa da T-Note de 2 anos estava em 5,20%, mas na máxima chegou a 5,22%. A T-Note de 10 anos projetava taxa de 4,83%, com máxima em 4,86%.

Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management, considera que, mais do que os potenciais impactos econômicos da tensão no Oriente Médio, “neste momento, o principal risco para a economia mundial é a elevação dos juros longos nos Estados Unidos”. “É muito difícil avaliar até onde essas taxas podem subir, mas a experiência nos ensina que, se essa tendência se mantiver, problemas podem surgir. Toda cautela é pouca”, afirma, em relatório.

Na agenda doméstica, o volume de serviços prestados em agosto caiu 0,9% ante julho, mais do que apontava o piso das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast (-0,8%). O dado mal conseguiu aliviar as taxas no começo da sessão, porque logo na sequência foram divulgadas as vendas do varejo nos EUA.

Bolsa

Vindo de leve ganho de 0,67% na abertura da semana, o Ibovespa se reaproximou nesta terça-feira, 17, do limiar de 117 mil pontos durante a sessão, mas não encontrou fôlego para se descolar do sinal negativo de Nova York à tarde, em meio à retomada de pressão sobre os rendimentos dos Treasuries após nova rodada de dados sobre a economia norte-americana mais fortes do que o esperado, divulgados ainda pela manhã, e com o imbróglio político em Washington, ante a persistência de impasse sobre quem presidirá a Câmara de Representantes.

Assim, o índice da B3 encerrou o dia em baixa de 0,54%, aos 115 908,43 pontos, tendo chegado no melhor momento aos 116.916,68 pontos, então em leve alta de 0,33%, com mínima a 115.563,93 e abertura aos 116.526,43 pontos na sessão. O giro desta terça-feira subiu um pouco, para R$ 21,2 bilhões. No mês, o Ibovespa ainda cai 0,56%, mas sobe 0,13% na semana. No ano, avança 5,63%.

“Os dados americanos mais fortes – hoje, sobre a produção industrial e as vendas do varejo – reforçam a perspectiva de juros americanos altos por mais tempo, o que suga dinheiro do resto do mundo, puxando o dólar e resultando também em queda da Bolsa, que subia mais cedo”, diz Gabriel Meira, economista e sócio da Valor Investimentos. 

Nesse contexto, a percepção de que a política monetária na maior economia do mundo tende a permanecer em nível restritivo por longo tempo se combina, agora, a uma segunda frente de incerteza sobre a geopolítica: a guerra no Oriente Médio contra o Hamas, um front que se abre cerca de um ano e oito meses após outro conflito ainda sem solução, entre Rússia e Ucrânia, com efeitos em ambos os casos para os preços de commodities, principalmente as de energia. 

“Tivemos semanas bem conturbadas por conta do estresse nos yields dos Treasuries, especialmente nos vencimentos mais longos, o que se refletiu na curva doméstica. Depois, os rendimentos por lá cederam um pouco, o que ajuda aqui também, inclusive a Bolsa. A guerra tem um impacto direto caso venha uma escalada no conflito, com consequências especialmente para commodities como o petróleo, que vai ser uma ‘proxy’ importante para o que está acontecendo na geopolítica”, diz Lucca Ramos, sócio da One Investimentos.

“Hoje os dados do varejo americano vieram um pouco acima do esperado para setembro, e as curvas de juros, tanto a ponta curta como a longa, viraram para cima na sessão, após esses dados”, observa Alan Soares, analista da Toro Investimentos. “Nessa mesma pegada, de virada, o dólar futuro subia ainda pela manhã”, acrescenta o analista, referindo-se a movimento que chegou a prevalecer também em certos momentos do meio para o fim da tarde.

“Antes da abertura, o dia era de expectativa positiva para a Bolsa, com a Petrobras trazendo resultados de produção recorde para petróleo e gás, em momento no qual a commodity tem buscado permanecer perto da marca de US$ 90 por barril”, diz Soares.

“A petrolífera informou ontem que produziu 3,98 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia durante o terceiro trimestre de 2023 – um aumento de 7,8% em relação aos três meses anteriores, o que animou os investidores”, observa Vanessa Naissinger, especialista da Rico Investimentos.

Dessa forma, mesmo com o petróleo em viés de baixa na maior parte desta terça-feira – mas em alta no fechamento em Londres e Nova York -, Petrobras ON e PN tiveram desempenho positivo, com ganho respectivamente de 2,27% e 2,70%, em máxima do dia para a preferencial no encerramento. Ainda assim, o avanço da petrolífera foi insuficiente para carregar o Ibovespa a ganhos na sessão, favorável também para Vale (ON +0,82%). O dia, contudo, foi negativo para a maioria das ações de peso e liquidez na B3, entre as quais os bancos, com Santander (Unit -2,30%) à frente.

Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, além das ações de Petrobras, destaque também para Gol (+4,28%), 3R Petroleum (+2,11%) e Vamos (+1,05%). No lado oposto, Magazine Luiza (-5,59%), Cielo (-4,32%), Carrefour (-4,21%) e Yduqs (-4,15%). 

“A Bolsa se mostrou errática ao longo do dia, chegando a mostrar alguma melhora no início da tarde, com Nova York, quando o mercado se animava um pouco com a possibilidade de não se mexer mais nos juros dos Estados Unidos este ano. Só não foi pior porque Petrobras e Vale ficaram no campo positivo, enquanto varejo e bancos aceleraram queda mais para o final da sessão”, diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos. O índice de consumo (Icon) fechou em baixa de 1,53% nesta terça-feira.

Estadão Conteúdo

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