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Economia

Em pausa no rali, Ibovespa cai 0,49%, a 130,2 mil; na semana, avança 2,44%

O giro ficou em R$ 31,3 bilhões nesta sexta-feira de vencimento de opções sobre ações

Redação Jornal de Brasília

15/12/2023 18h57

Foto: Reprodução/ Flickr

Após ter renovado máximas históricas intradia ontem e na manhã de hoje, o Ibovespa, vindo de fechamento anterior também em nível recorde, fez uma pausa no rali de fim de ano nesta última sessão de semana em que acumulou ganho de 2,44% – contra perda de 0,85% no intervalo precedente, que havia sucedido seis semanas de avanço consecutivo. Com a alta de 2,25% nesta primeira quinzena de dezembro, estendendo o avanço de 12,54% visto em novembro, o Ibovespa mostra ganho de 18,65% em 2023, a caminho de seu melhor desempenho anual desde 2019.

Hoje, o índice da B3 oscilou entre mínima de 129.883,62 e o novo pico histórico de 131.661,25 pontos, encerrando o dia aos 130 197,10 pontos, em baixa de 0,49% na sessão. O giro ficou em R$ 31,3 bilhões nesta sexta-feira de vencimento de opções sobre ações. “O dia foi de vencimento de opções também lá fora, o que trouxe uma volatilidade a mais na briga entre ‘comprados’ e ‘vendidos’, assim como a votação de matérias importantes na Câmara, como a MP das subvenções do ICMS, que de certa forma tem impacto negativo para as ações de varejistas”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Assim, na ponta perdedora do Ibovespa nesta sexta-feira, destaque para Casas Bahia (-10,64%), Magazine Luiza (-9,05%) e Petz (-6,43%) – o ICON, índice de consumo, fechou o dia em baixa de 1,64%. No lado oposto na sessão, Braskem (+2,90%), Banco do Brasil (+2,40%), CSN (+2,39%) e Raízen (+2,19%). Nas commodities, Petrobras fechou sem sinal único (ON -0,78%, PN +0,23%) e Vale teve ganho discreto (+0,63%) – o IMAT, índice de materiais básicos, subiu 0,13%.

Fora do aspecto setorial, a boa notícia doméstica para as contas públicas – a aprovação da MP da subvenção, considerada das mais importantes medidas arrecadatórias para 2024, ano para o qual o mercado ainda mostra desconfiança quanto à capacidade de o governo zerar o déficit fiscal conforme prometido – não alterou o caminho do Ibovespa na maior parte da sessão na B3.

A pausa desta sexta-feira era esperada em véspera de fim de semana, vindo o Ibovespa de patamares históricos. Em Nova York, o Dow Jones – que havia renovado máximas nos dois dias anteriores, e hoje o fez de novo, no fim da sessão – e o S&P 500 – agora perto de romper recorde que retrocede a janeiro de 2022 – fecharam sem direção única, em alta de 0,15% e baixa de 0,01%, respectivamente. “Depois do entusiasmo com o Fed, é normal alguma lateralidade, também lá fora. A principal pergunta, daqui para frente, é se haverá elementos que sustentem novas altas”, diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Em nível global, o apetite por risco ganhou dinamismo especial desde a quarta-feira, 13, em que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, surpreendeu boa parte do mercado com guinada de tom, bem mais suave e moderado (‘dovish’, como prefere dizer o mercado) do que se esperava. Assim, março de 2024 passou a ser a data em que se acredita, agora, que o Fed poderá começar a cortar as taxas de juros nos Estados Unidos, referência para o mundo. Há pouco tempo, ainda havia divergência se a redução nos custos de crédito na maior economia viria apenas no segundo semestre ou se começaria ainda no fim do primeiro semestre de 2024.

“Powell veio como um Papai Noel nesse fim de ano, foi o grande ‘turning point’ ponto de inflexão para os mercados”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset. Com agenda mais fraca a partir da próxima semana, a penúltima do ano, a tendência é que, na ausência de surpresas negativas, o S&P 500 possa testar sua máxima histórica ainda em 2023, avalia o gestor Hoje, mesmo em baixa, o índice amplo de Nova York fechou aos 4 719,19 pontos, não tão distante do pico histórico de 3 de janeiro de 2022, então aos 4.796 pontos, observa Mikail.

“As curvas já estão precificando juros do Fed de 75 a 100 pontos-base abaixo, ao longo de 2024, e a 125 pontos-base abaixo, no caso do BCE (Banco Central Europeu). Mesmo para quem está lá fora, acompanhando Powell e Fed bem de perto, esta semana veio como uma grande surpresa, algo realmente inesperado. Daí o ajuste que se vê nos preços dos ativos e no apetite por risco, que beneficia também emergentes como Brasil e México, os dois principais da América Latina”, acrescenta o gestor, ressaltando que, em termos de múltiplos e valuation, o Brasil ainda permanece atrativo em relação a seu principal ‘peer’ regional.

Nesse contexto, o otimismo do mercado financeiro sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo voltou a crescer no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 57,14% preveem alta para o Ibovespa na próxima semana e 28,57%, estabilidade. Apenas 14,29% esperam baixa. No Termômetro da semana passada, a maioria de 57,14% previa variação neutra; 28,57%, alta; e 14,29%, queda.

Dólar

O dólar subiu 0,45% hoje, a R$ 4,9372, acompanhando a valorização global da moeda americana, em um movimento de correção após as perdas recentes. O fluxo de saída de fim de ano levou o real a um desempenho pior do que outros pares emergentes, apesar do avanço da agenda fiscal no Congresso. Assim, a divisa dos EUA encerrou a semana com ganho de 0,16% em relação à brasileira. No mês, sobe 0,45%.

O ajuste global do dólar após as fortes perdas anotadas desde quarta-feira, com a virada dovish do Federal Reserve (Fed, o BC americano), manteve a moeda americana em alta contra o real durante quase todo o pregão. Ela chegou a tocar pontualmente a mínima de R$ 4,9056 (-0,19%) logo após a abertura, mas logo firmou-se em alta. Na máxima, avançou até R$ 4,9509 (+0,73%).

A variação aqui acompanhou o índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra seis pares fortes. No fim da tarde, ele subia 0,58%, aos 102,55 pontos. Outras divisas emergentes e de exportadores de commodities desempenharam melhor que o real, mesmo com perdas modestas do petróleo. O dólar caía contra o rand sul-africano (-0,07%) e subia levemente ante o peso mexicano (+0,06%) no fim da tarde.

O dólar futuro para janeiro subiu aos R$ 4,9390 (+0,44%). O giro financeiro, termômetro do apetite por negócios no mercado de câmbio, foi de US$ 14 milhões.

“O peso mexicano ficou de lado, o dólar caiu contra o rand e, aqui, subiu, mesmo com as agendas andando no Congresso. Isso parece ser a pressão do fluxo de fim de ano, remessas de dividendos de empresas para o exterior”, afirma o head da tesouraria do banco de câmbio Travelex Bank, Marcos Weigt. “Não parece ter outra razão, externa ou interna, para o real desvalorizar tanto hoje.”

Nem o avanço da agenda fiscal no Congresso foi suficiente para apoiar o real. A Câmara aprovou no início da tarde a medida provisória da subvenção do ICMS e rejeitou todas os destaques que tentavam alterar o texto-base da proposta. Agora, a MP vai à análise do Senado. Ela é a principal aposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para turbinar a arrecadação e zerar o déficit primário em 2024.

Também à tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), colocou em pauta a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, que foi aprovada em primeiro turno. O relator da matéria na Casa, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), divulgou um novo relatório após negociações para chegar a um texto de acordo com o Senado. Ele diminuiu as exceções no ao excluir cinco setores dos regimes específicos, que têm tratamento tributário diferenciado.

Para o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, parte da alta do dólar hoje ainda pode ser atribuída ao temor fiscal deflagrado ontem pela derrubada do veto presidencial à desoneração da folha de pagamentos. Ele também cita um movimento de realização dos lucros em vários ativos, devido à proximidade do fim do ano, que pode ter ajudado a derrubar o real.

Juros

Os juros futuros fecharam a sessão perto da estabilidade, depois de chegar a firmar trajetória de queda moderada à tarde, descolando-se do sinal de cautela que prevaleceu no exterior e do viés negativo exibido pelo câmbio e nas ações. No fim da segunda etapa o ambiente internacional mais carregado acabou reconduzindo as taxas para perto ajustes. O avanço da pauta econômica no Congresso colaborou para esfriar a tentativa de realização de lucros, assim como também ajustes técnicos de posições típicos de fim de ano num mercado amplamente vendido em taxas. Na semana em que o Federal Reserve fez a festa dos ativos, a curva devolveu entre 25 e 35 pontos-base nos principais contratos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou a 10,090%, de 10,109% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 fechou estável em 9,71% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,80%, de 9,81%, e a do DI para janeiro de 2029 fechou a 10,21%, de 10,24%.

Ainda que não tenham conseguido sustentar o movimento de baixa até o fim, as taxas tiveram comportamento mais benigno comparado aos demais ativos domésticos, que partiram para uma realização de lucros mais firme. Mesmo com a forte queima de prêmios durante a semana, o mercado de juros adiou um ajuste consistente – nas máximas do dia os principais contratos não chegaram a subir 10 pontos-base.

“Hoje é um dia difícil para analisar o DI. Tudo levava a crer que haveria abertura, com a curva nos EUA recuperando taxas após os discursos de diretores do Federal Reserve”, afirmou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Tanto o presidente da distrital de Nova York, John Williams, quanto o líder da regional de Atlanta, Raphael Bostic, tentaram corrigir o excesso de otimismo sobre corte de juros no primeiro semestre de 2024. “A curva americana reagiu, mas aqui não estamos acompanhando”, constatou a economista, ponderando porém que o movimento de queda dos DIs foi limitado a um certo intervalo no período da tarde.

A virada para baixo começou após o anúncio da Fitch sobre a afirmação da nota de crédito soberana do Brasil com manutenção da perspectiva estável. Mas nas mesas de operação os profissionais questionam se tal fato teria mesmo potencial de engatilhar a melhora, uma vez que não houve alterações nem na nota nem no outlook. Mais do que isso, a Fitch fez uma série de ponderações negativas que, em tese, serviriam para estimular uma piora da curva, alertando, por exemplo, que o cumprimento da meta de primário zero em 2024 parece “cada vez mais duvidoso”.

Nesse contexto, a percepção é de que a notícia da Fitch serviu de argumento para montagem de posições vendidas nos ajustes de carteira nesta reta final do ano. “O mercado todo está aplicado. Os fundos estão desesperados por cortes de juros para se salvarem em 2023”, afirma um economista.

Em outra frente, a força tarefa do Congresso para aprovar a pauta fiscal antes do recesso parlamentar serviu como contraponto ao exterior negativo. “Parece que o governo terá algumas vitórias”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

A Câmara aprovou hoje a Medida Provisória (MP) da subvenção do ICMS, que vai agora para análise do plenário do Senado. É a principal aposta da equipe econômica para garantir o déficit zero nas contas públicas no ano que vem, com potencial de arrecadação em torno de R$ 35 bilhões. Aprovou ainda a reforma tributária em primeiro turno, o que traz alívio ao mercado mais pelo fato de se ter mais uma matéria fiscal endossada pelos parlamentares do que pelo texto em si.

Estadão Conteúdo

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