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Economia

Em alta pela 5ª sessão seguida, Ibovespa sobe 0,71%, aos 119,2 mil pontos

A terça-feira foi de correção para os preços do petróleo em Londres e Nova York, em baixa acima de 4%, o que o levou a ser negociado

Redação Jornal de Brasília

07/11/2023 19h35

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Divulgada pela manhã, a ata relativamente benigna do Copom, que contribui para o mercado precificar mais dois cortes de meio ponto porcentual na Selic nas próximas reuniões, em dezembro e janeiro, formou boa combinação com o recuo dos rendimentos dos Treasuries e dos preços do petróleo nesta terça-feira, contribuindo para o quinto avanço consecutivo do Ibovespa, aos 119.268,06 pontos, alta de 0,71% na sessão. Assim, atingiu o maior nível de fechamento desde 14 de setembro, então aos 119.391,55 pontos.

Hoje, o índice oscilou dos 118.026,33 aos 119.576,62 (+0,97%), saindo de abertura aos 118.422,18 pontos. O giro financeiro subiu a R$ 28,4 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 0,94% e, no mês, avança 5,41%, recolocando a alta do ano a 8,69%.

No fim da tarde, a aprovação por ampla margem (20 votos a seis) do relatório da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado ajudou a fortalecer a confiança dos investidores, levando o Ibovespa um pouco mais adiante, nas máximas da sessão. Também foi benéfica a aprovação de relatório preliminar sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com a manutenção da meta de déficit zero para 2024, na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso.

Na B3, o bom desempenho das ações de bancos, no dia seguinte à divulgação do balanço trimestral do Itaú (PN +2,80%), foi o contraponto à correção em Vale (ON -1,99%) – terceira maior perda entre os componentes do Ibovespa na sessão, com a moderada retração de preço do minério na China. Petrobras (ON -2,21%, PN -1,66%) também figurou entre as maiores quedas desta terça-feira Prio (-2,48%) e BRF (-1,56%) completaram a lista das principais perdas do dia.

A terça-feira foi de correção para os preços do petróleo em Londres e Nova York, em baixa acima de 4%, o que o levou a ser negociado nas mínimas desde julho, com o fortalecimento do dólar e em meio a sinais de arrefecimento da demanda chinesa pela commodity. O forte ajuste nas cotações do insumo contribui para amenizar os receios em torno da trajetória da inflação global, com efeito benéfico para os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, cujo avanço tem sido um fator de preocupação. Em novo sinal de alerta sobre a maior economia asiática, a China reportou queda de 6,4% nas exportações, na base anual – leitura bem pior do que o mercado esperava.

“Usufruímos hoje de movimento semelhante ao da última sexta-feira, quando o mercado digeria relatório sobre emprego mais fraco nos Estados Unidos, ao fim de uma semana de decisões sobre juros lá como aqui. E esses dados da sexta-feira tiraram pressão da curva de juros americana, com efeito também para as curvas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Houve adição de prêmios de agosto a outubro, afetando os ativos fora dos Estados Unidos, um período em que se viu apreciação do dólar e depreciação desses ativos. Neste começo de novembro, parece estar havendo certa reversão desse movimento”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Nesse contexto de busca por ativos depreciados, na ponta do Ibovespa nesta terça-feira destaque para as ações das varejistas Magazine Luiza (+23,78%) e Casas Bahia (+11,76%), à frente de Hapvida (+8,54%) e Soma (+7,58%). Destaque também, entre os bancos, para Bradesco (ON +2,06%, PN +2,64%) e Santander (Unit +2,77%, na máxima do dia no fechamento).

O desempenho de grandes nomes do setor financeiro foi beneficiado, na sessão, pelos números trimestrais do Itaú, divulgados na noite anterior. O banco trouxe “resultados sólidos, com destaque para a qualidade da carteira de crédito, cuja inadimplência está abaixo do mercado, e para números fortes de margem financeira com clientes”, aponta a analista Júlia Aquino, da Rico Investimentos, acrescentando que Itaú tem o terceiro maior peso no Ibovespa, atrás apenas de Vale e Petrobras.

Pela manhã, “a ata do Copom, referente à reunião que trouxe a Selic para 12,25% ao ano, sacramentou praticamente outro corte de meio ponto para dezembro, que colocará a taxa de juros a 11,75% no fechamento do ano. O ritmo de corte é considerado ainda apropriado, mas houve mensagem sobre o fiscal, após as falas recentes do ministro Haddad e do presidente Lula”, diz Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, referindo-se a sinais do governo no sentido de possível flexibilização do compromisso de déficit primário zero para 2024

“O Copom considera importante que o governo busque a execução das metas fiscais já estabelecidas, de forma a manter a ancoragem das expectativas de inflação para o ano que vem – as quais vêm aumentando nas últimas leituras do Focus por conta das incertezas sobre o fiscal”, acrescenta o economista.

“O conteúdo da ata deu grande peso ao ambiente de incerteza, com destaque para o cenário global, o que demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. Além da sinalização de manutenção do ritmo de queda de 50 bps nas próximas reuniões caso se confirme o cenário esperado, fica claro que saiu do radar do Copom, pelo menos nesse momento, a possibilidade de aceleração do ritmo”, observa em nota Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos.

No exterior, a realização vista especialmente nos títulos de 10 anos do Tesouro americano contribuiu para o moderado apetite por ações em Nova York, onde o destaque do dia ficou com o Nasdaq (+0,90% no fechamento), mais exposto à perspectiva de curto prazo para a taxa de juros de referência nos Estados Unidos.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 7, em queda de 0,26%, cotado a R$ 4,8750 – menor valor de fechamento desde 19 de setembro. Foi o quinto pregão consecutivo de baixa da moeda americana no mercado doméstico, que já acumula desvalorização de 3,30% em novembro. Na mínima, a divisa rompeu o nível de R$ 4,86 (R$ 4,8593). Operadores apontam a perspectiva de manutenção de diferencial de juros interno e externo favorável nos próximos meses, o fluxo expressivo de recursos via comércio exterior e o andamento da agenda econômica no Congresso como pontos que impulsionaram a moeda brasileira. Foi aprovado à tarde na Comissão Mista de Orçamento (CMO) o relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com meta de déficit zero em 2024.

Ao alívio nas taxas dos Treasuries nos últimos dias, após dados abaixo do esperado do mercado de trabalho nos EUA na semana passada reforçarem a aposta de manutenção dos juros pelo Federal Reserve em dezembro, soma-se a perspectiva de que não haverá aceleração do ritmo de queda da taxa Selic. A avaliação é a de que ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada hoje pela manhã, trouxe um tom levemente mais duro. No documento, o comitê diz que o ambiente externo se tornou mais desafiador, o que “exige cautela por parte de países emergentes”.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que hoje apenas o real e o peso mexicano apresentaram ganhos em relação ao dólar entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes. “Houve um alívio das taxas americanas e aqui parece que vamos ter juro elevado por um bom tempo. Temos taxas reais elevadas um diferencial de juros ainda muito alto, que estimula a busca por carry trade. É a mesma condição do México”, afirma Weigt, acrescentando que o saldo expressivo da balança comercial garante um fluxo contínuo de dólar e dá mais conforto aos investidores.

O tesoureiro do Travelex observa que a mudança de nível das taxas longas nos EUA foi bem pronunciada nos últimos dias, tirando pressão sobre as divisas emergentes. O retorno da T-note de 10 anos, que chegou a atingir 5,00% no fim de outubro, furou no fim da semana passada o piso de 4,60%. As taxas longas americanas recuaram em bloco mais uma vez hoje, com a T-note de 10 anos ao redor de 4,58%, em meio ao tombo das cotações internacionais do petróleo e consequente alívio das pressões inflacionárias.

Por aqui, em evento pela manhã, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu que o ritmo de corte da Selic em 0,50 ponto porcentual é, por ora, apropriado, considerando a “visibilidade” para as próximas duas reuniões do Copom. Ele ressaltou que, embora tenha diminuído, o diferencial entre juros interno e externo ainda é alto. O real, disse Campos Neto, tem se destacado como moeda relativamente estável entre emergentes. O pior cenário para o mundo emergentes, segundo o presidente do BC, seria um cenário em que o prêmio de risco nos países desenvolvidos comece a subir. Se, ao mesmo tempo, houver piora fiscal no Brasil, o cenário pode ficar mais complicado, alertou.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira em queda. Embora a ata do Copom tenha sido o destaque da agenda, a curva de juros continuou sendo conduzida pelos eventos no exterior. O recuo nos rendimentos dos Treasuries e o tombo do petróleo resultaram em queda para as taxas locais, sob influência ainda da expectativa positiva para as pautas econômicas no Congresso.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,820%, de 10,861% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 10,71% 10,62%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,76% (10,91% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 terminou em 11,13%, de 11,30%.

O retorno da T-Note de 10 anos voltou a rodar abaixo de 4,60% e o do T-Bond de 30 anos, abaixo de 4,80%. Vale lembrar que as taxas longas americanas foram destaque entre os fatores altistas citados no balanço de risco do Copom no comunicado da reunião de quarta-feira e hoje também na ata.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, porém, não vê sustentação para a queda da curva dos EUA enquanto o cenário fiscal por lá estiver nebuloso. “Só vai fechar para valer com uma percepção mais positiva sobre o fiscal, que deve voltar ao foco com a retomada da discussão sobre o teto da dívida”, afirma. O atual acordo fechado pelo Congresso americano expira no dia 17. “E se o juro nos EUA persistir nos 5%, não vai ter Selic a 9%”, completa.

O recuo dos yields se deu na esteira de comentários de dirigentes do Federal Reserve e no recuo de mais de 4% do petróleo. Apesar da queda da commodity, o real teve boa performance, com o dólar caindo para o patamar de R$ 4,87. A commodity e o câmbio são dois fatores importantes para o processo de desinflação no Brasil, que foi ressaltado hoje pela ata do Copom. O documento foi considerado “hawkish” pelos analistas, não pela avaliação do quadro local, mas sim pelos alertas com relação ao ambiente internacional, que podem limitar o tamanho do ciclo da Selic.

“O Copom avalia que o cenário doméstico lhe permite continuar com o ciclo de cortes iniciado em agosto ao ritmo de 50 pontos-base por reunião. Porém, a discussão sobre o cenário externo deixa claro também que o Comitê entende que pode colocar restrições na extensão desse ciclo”, comenta Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management.

Na ata, o Copom repetiu a qualificação de “mais volátil e adverso” sobre o cenário internacional já trazida no comunicado, com “múltiplos mecanismos de transmissão da economia internacional para a economia doméstica, financeiros e econômicos, que devem ser incorporados na tomada de decisão”. Os diretores dão atenção especial à elevação das taxas de longo prazo nos Estados Unidos, que restringe as condições financeiras

Na seara fiscal, o avanço das matérias econômicas no Congresso hoje fez algum contraponto ao incômodo com a possibilidade de mudança da meta de primário no ano que vem. A CCJ do Senado aprovou por 20 a 6 o relatório da reforma tributária. A expectativa é de que seja apreciado ainda nesta semana em plenário. Ainda, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou o relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com meta de déficit zero em 2024.

“Foi uma boa notícia para o ministro Haddad. A preservação do déficit zero para o ano que vem não garante que essa meta seja entregue, mas estimulará o encaminhamento das medidas de arrecadação pelo Congresso e reforçará o arcabouço, dando credibilidade ao governo na área fiscal”, afirmam Felipe Salto e Josué Pellegrini, economistas da Warren Rena. Lembram, porém, que as possibilidades de alteração seguem sobre a mesa.

Estadão Conteúdo

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