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Economia

Dólar recua 0,43% no dia, a R$ 5,0313, e encerra semana em baixa de 1,12%

Passado o momento de estresse, houve uma onda de realização de lucros intraday, com o mercado local se alinhando à queda da moeda americana

Redação Jornal de Brasília

20/10/2023 18h32

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 20, em queda de 0,43%, cotado a R$ 5,0313, no mercado doméstico de câmbio, em dia de sinal predominante de baixa da moeda norte-americana e recuo das taxas dos Treasuries longos. Pela manhã, a moeda até ensaiou uma alta firme e se aproximou do teto de R$ 5,10, quando registrou máxima a R$ 5,0986 em movimento atribuído por operadores ao recuo de mais de 3% do minério de ferro. Apesar da crise no setor imobiliário, o Banco do Povo da China, (PBoC, o BC chinês) optou por manter suas principais taxas de juros inalteradas.

Passado o momento de estresse, houve uma onda de realização de lucros intraday, com o mercado local se alinhando à queda da moeda norte-americana no exterior, em especial em relação ao principais pares do real, os pesos mexicano e colombiano. Na mínima, o dólar à vista tocou a casa de R$ 5,02 (R$ 5,0259). 

Com investidores correndo para o abrigo dos Treasuries na véspera do fim de semana, dada a incerteza sobre os desdobramentos da guerra no Oriente Médio, com eventual invasão da Faixa de Gaza por tropas israelense, as taxas dos papéis caíram. O retorno da T-note de 10 anos, que na quinta-feira se aproximou de 5%, operava no fim da tarde ao redor de 4,91%. 

“O mercado local operou bem em linha com o exterior. Divisas emergentes se apreciando um pouco e a curva americano fechando. Obviamente, o dólar como principal moeda é procurado como refúgio. Mas o déficit fiscal muito alto é uma notícia ruim para a moeda americana. Então temos essa dicotomia. E hoje o dólar está caindo lá fora”, afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia. 

Na semana, contudo, o yield da T-note de 10 anos – referência para os negócios de renda fixa no mundo – subiu mais de 6%, diante de preocupações com o déficit americano, que pode aumentar em razão da ajuda prometida pelo governo Joe Biden a Israel e à Ucrânia, e desequilíbrios técnicos entre oferta e demanda. A secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, reforçou nesta sexta o pedido de Biden para que o Congresso aprove orçamento suplementar.

Mesmo com a alta das taxas dos Treasuries, que costuma castigar divisas emergentes, o dólar termina a semana com queda de 1,12% no mercado doméstico. O real ostenta nesse período o melhor desempenho entre as principais divisas latino-americanas. Com a valorização nos últimos cinco pregões, a moeda agora apresenta apenas ligeira alta em outubro (+0,09%). A valorização do real na semana é atribuída em parte ao avanço das cotações do petróleo e dados recentes positivos da economia chinesa. 

“Apesar da escalada dos juros americanos, com a taxa de 10 anos flertando com os 5% ao ano, o real tem conseguido manter o seu valor”, afirma a analista Lais Costa, da Empiricus Research, destacando que a moeda brasileira mantém um ótimo desempenho em 2023, oferecendo ganhos de quase 16% “considerando o carrego”, ou seja, a remuneração oferecida pelas taxas de juros. O real tem, no ano, desempenho relativo inferior apenas em relação aos pesos colombiano e mexicano, outros dois países com taxas de juros elevadas. 

Costa observa que, com ajuste técnico no mercado local de juros futuros, as taxas passam a embutir perspectiva de Selic já perto de 11% no fim do atual processo de redução da taxa básica. “Esse é um cenário possível. Se, de fato, o BC indicar que pararemos o ciclo de corte de juros muito acima do juro neutro, o real deve continuar entregando uma boa performance.”

Bolsa

Mesmo com o desempenho negativo de carros-chefes da B3, como Vale e Petrobras, o Ibovespa moderou perdas ao longo da tarde e conseguiu reter a linha dos 113 mil pontos no fechamento desta última sessão da semana, em intervalo no qual encadeou nesta sexta-feira a quarta retração diária, que resultou em queda de 2,25% no acumulado desde a segunda-feira – na semana anterior, tinha avançado 1,39%.

Nesta sexta-feira, o índice da B3 oscilou de 112.533,33 a 114 089,58 pontos, encerrando em baixa de 0,74%, a 113.155,28 pontos, no menor nível de fechamento desde 5 de junho, então perto dos 112,7 mil pontos. 

O giro financeiro foi a R$ 24,1 bilhões, reforçado pelo vencimento de opções sobre ações nesta véspera de fim de semana.

No mês, o Ibovespa cede 2,93%, limitando o ganho do ano a 3,12%.

Em Nova York, os principais índices de ações mostraram perdas maiores do que as vistas aqui na sessão, com o Dow Jones em baixa de 0,86%, o S&P 500, de 1,26%, e o Nasdaq, de 1,53%, no fechamento do dia – na semana, caíram 1,61% (Dow Jones), 2,39% (S&P 500) e 3,16% (Nasdaq) 

Na B3, a cautela externa mais uma vez deu o tom aos negócios nesta sexta-feira, de forma a favorecer, entre os ativos de risco, apenas o petróleo em parte do dia, com o Brent negociado acima de US$ 93 por barril nas máximas da sessão – ao fim, a commodity também perdeu força e encerrou em baixa, após anúncio do governo norte-americano de que realizará novas compras para repor estoques estratégicos.

Por aqui, Petrobras não acompanhou o movimento nas cotações da commodity mesmo quando essas subiam, aparando os ganhos acumulados pelas ações da empresa na semana a 3,79% (ON) e 4,33% (PN). Na quinta à noite, depois do fechamento da Bolsa, a estatal anunciou reajuste nos preços domésticos do diesel (aumento) e da gasolina (redução) nas refinarias, em vigor a partir deste sábado, 21.

No encerramento desta sexta-feira, Petrobras ON caía 1,09% e a PN, 1,28%, em dia também ruim para Vale ON, em queda de 2,70%, com o tombo de 3,17% nos contratos futuros do minério de ferro em Dalian, China, em meio à retomada de temores sobre o setor imobiliário no país asiático. Os grandes bancos também foram mal na sessão, tendo à frente Bradesco (ON -1,27%, PN -1,87%, ambas nas mínimas do dia no fechamento). Na ponta perdedora do Ibovespa, Magazine Luiza (-4,35%), Azul (-3,51%) e CSN (-3,29%). No lado oposto, Grupo Casas Bahia (+4,00%), BRF (+3,85%) e Natura (+2,96%).

“A Bolsa voltou a ser puxada hoje para baixo em função do cenário global de aversão a risco, com a percepção de que é provável que ocorra, neste fim de semana, a invasão terrestre de Israel à Faixa de Gaza – o que reforça o movimento de busca por ativos considerados mais seguros”, diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando na semana o rompimento do limiar de 5% nos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, ante as dúvidas do mercado sobre o nível final dos juros de referência do BC dos EUA no atual ciclo de alta.

Fora dos Estados Unidos, “a preocupação com o mercado imobiliário continua na China, mostrando que os sinais de incentivo do governo, no curto prazo, não têm causado muito efeito, pressionando assim o minério de ferro e as empresas do setor listadas na nossa Bolsa”, acrescenta o operador.

Nesse cenário externo difícil, “a queda do Ibovespa foi muito condicionada hoje por Vale e pelas ações do setor metálico, em reação ao que se espera da demanda chinesa”, observa Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, destacando também o ajuste em Petrobras, com as ações da empresa “realizando em cima dos lucros acumulados na semana”.

Além disso, o desempenho sinalizado nesta sexta pelo IBC-Br para a atividade econômica, na mais recente leitura do índice – considerado dado antecedente do PIB -, contribuiu para cautela adicional em relação a segmento da Bolsa já amassado, o de varejo, assim como observações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o desempenho da economia neste terceiro trimestre, em desaceleração, acrescenta o analista.

“Nesta semana, os dados divulgados sobre os setores de varejo e serviços no Brasil mostraram desaceleração em agosto. O consumo de bens e serviços pelas famílias vem arrefecendo ao longo dos últimos meses”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “E o IBC-Br de agosto, divulgado hoje de manhã, pior do que o esperado, trouxe queda de 0,77% ante julho, o que reforça a percepção sobre desaceleração da economia brasileira. Os dados de agosto, em conjunto, sugerem menor demanda dos agentes econômicos e possível acomodação da atividade neste terceiro trimestre.”

Nessa conjuntura doméstica e externa menos favorável ao apetite por risco, cresceu fortemente o pessimismo do mercado sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes da pesquisa, 42,86% acreditam que próxima semana será de perdas para o Ibovespa e para outros 42,86%, a percepção é de alta. Os que esperam estabilidade são 14,29%. No levantamento da semana passada, as expectativas para o índice se dividiam entre alta (60,00%) e variação neutra (40,00%), sem nenhuma resposta prevendo queda.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam a sessão desta sexta-feira em queda, após três dias de alta, em trégua determinada pelo cenário externo e também por fatores domésticos. As taxas cederam junto com o alívio na curva dos Treasuries e com a queda do dólar e do petróleo. Também ajudaram no movimento o anúncio de redução nos preços da gasolina e o recuo do IBC-Br de agosto maior do que o consenso das estimativas. A devolução de prêmios, porém, foi moderada diante das expressivas altas registradas na semana, tanto que, em relação à sexta-feira passada, as taxas subiram, com ganho de inclinação para a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 11,075%, de 11,175% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 caiu de 11,15% para 11,03%. O DI para janeiro de 2027 projetava no fechamento taxa de 11,21% (11,33% na quinta) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,64% (11,71% na quinta). No balanço da semana, os vencimentos de curto prazo avançavam em torno de 8 pontos e os intermediários e longos, cerca de 20 pontos.

Os investidores já vinham tentando abocanhar um pouco dos prêmios embutidos na curva nos últimos dias, mas sem sucesso, atropelados pela disparada dos juros dos Treasuries. Nesta sexta, essa busca foi viabilizada pela pausa na trajetória altista dos yields. A taxa da T-Note de dez anos, que na quinta flertou com a marca de 5%, voltava a 4,92% no fim da tarde, nível ainda muito elevado, mas que não deixa de ser um respiro para as taxas locais. “É muito mais ajuste técnico do que fundamento nesta ponta longa, com lá fora ajudando”, afirma o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira. 

Também nos Treasuries houve um movimento de correção misturado com um pouco de aversão ao risco, via fuga para a qualidade, em meio ao crescimento dos temores geopolíticos com a guerra Israel-Hamas e os possíveis efeitos sobre a economia dos EUA do modo “higher for longer” na política monetária do Federal Reserve. Os preços do petróleo também cederam, apoiados em ajustes técnicos depois das altas da semana e no anúncio do governo dos EUA de que vai recompor seus estoques estratégicos.

O noticiário doméstico nesta sexta teve vez no comportamento das taxas locais. Tanto o anúncio de redução de 4% nos preços da gasolina a partir do sábado quanto o desempenho fraco do IBC-Br endossam a avaliação de que o Copom tem condições de seguir cortando a Selic em 0,5 ponto porcentual nas próximas reuniões, num momento em que as apostas de desaceleração no ritmo vinham crescendo.

A decisão da Petrobras, balizada na defasagem para cima nos preços domésticos, surpreendeu o mercado pelo timing. “Não se esperava um corte agora dada a alta do dólar e do petróleo. Resta saber se será sustentável, dado que a commodity, a depender dos desdobramentos da crise no Oriente Médio, pode rapidamente voltar a US$ 100, o que teria impacto tanto na inflação dos EUA quanto na política do Fed. É um risco a ser monitorado”, afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

De todo modo, o reajuste em baixa amplia a expectativa de IPCA na meta neste ano. Pesquisa do Projeções Broadcast mostra que a mediana para o índice caiu pela primeira vez abaixo de 4,75% – o limite superior da meta de inflação. Já o IBC-Br de agosto caiu 0,77%, mais do que apontava a mediana das previsões, de -0,60%, coletadas pelo Projeções Broadcast, reforçando o cenário de fraqueza da economia no terceiro trimestre.

Estadão Conteúdo

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