Menu
Economia

Dólar cai e fecha abaixo de R$ 5,00 com exterior e pauta econômica no Congresso

O fortalecimento recente do real é atribuído a menor pressão sobre os juros longos americanos e à valorização recente de commodities

Redação Jornal de Brasília

24/10/2023 18h46

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 24, em queda de 0,46%, cotado a R$ 4,9937 – abaixo de R$ 5,00 no fechamento pela primeira vez desde 26 de setembro. Foi o quarto pregão consecutivo de queda da divisa no mercado doméstico de câmbio. O fortalecimento recente do real é atribuído a menor pressão sobre os juros longos americanos e à valorização recente de commodities agrícolas e do minério de ferro, que nesta terça avançou mais de 3% na esteira de anúncio de estímulos fiscais na China. 

Embora o quadro internacional continue sendo fator preponderante para a formação da taxa de câmbio, analistas observam que a retomada da pauta econômica do governo Lula no Congresso contribui para a apreciação do real, uma vez que tende a diminuir a percepção de risco fiscal. 

A perspectiva é a de que o projeto de lei sobre taxação de fundos de alta renda (exclusivos e offshore) – uma das medidas gestadas no ministério da Fazenda para aumentar a receita e cumprir a meta de déficit zero em 2024 – seja aprovado na Câmara nesta semana. 

Lá fora, o dólar se fortaleceu em relação a pares, em especial na comparação com o euro. O índice de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) composto da zona do euro (indústria e serviços) recuou em outubro, atingindo o menor nível em 35 meses

A fraqueza da economia europeia esfria a possibilidade de mais aperto monetário pelo Banco Central Europeu (BCE). Já os índices PMIs nos EUA surpreenderam para cima, corroborando o quadro de juros elevados por período prolongado desenhado pelo Federal Reserve – que, segundo aposta quase unânime de investidores – deve anunciar manutenção da taxa básica na próxima semana (dia 1º de novembro). 

“Os PMIs na Europa acabaram com qualquer sentimento de recuperação do euro e da libra. A diferença entre as economias americana e europeia não poderia ser maior. A questão é até que ponto isso já está refletido nos altos níveis do dólar”, afirma o analista de mercado da Ebury, Eduardo Moutinho, para quem uma mudança na taxa de juros no encontro do BCE nesta semana (quinta-feira, 26) é “altamente improvável”.

Em relação à divisas emergentes e de países emergentes, o dólar apresentou um comportamento misto, incluindo pares latino-americanos da moeda brasileira. Embora as commodities metálica tenham se valorizado, em especial o minério de ferro, os preços do petróleo caíram mais de 2%, voltando a fechar abaixo de US$ 90 o barril. 

O retorno da T-note de 10 anos, que chegou a tocar 5,00% no momento de mais estresse, apresentou ligeiro recuo nesta terça, operando na casa de 4,82%. A taxa do título de 30 anos caiu mais de 1%, para 4,94%. 

Além de questões técnicas e inversão de apostas de grandes investidores, analistas acreditam que parte da queda recentes dos yields em meio à busca por proteção nos Treasuries diante do aumento dos riscos geopolíticos com a guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas. 

O sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, afirma que o dólar tem se enfraquecido em relação ao real nos últimos dias com o movimento de recuo das taxas longas dos Treasuries. Ele também vê a leitura, por parte de ala relevante dos investidores, de que o Fed não deve mais promover altas adicionais de juros, embora possa mantê-los em níveis elevados por mais tempo.

“Além disso, temos commodities agrícolas e o minério de ferro se valorizando bem nos últimos dias, o que é bom para as exportações do Brasil e ajuda nesse processo de recuperação do real”, diz Izac, que vê o dólar girando ao redor de R$ 5,00 daqui para frente. “Se os projetos do governo para aumentar receita forem aprovados, pode haver uma diminuição do risco país e uma apreciação do real.”

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam em baixa nesta terça-feira, apoiados pela melhora do câmbio, pela queda nos preços do petróleo e perspectiva positiva para a tramitação da pauta econômica no Congresso. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,935%, de 11,041% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2026 recuou de 10,97% para 10,93%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,98% no fechamento (11,16% na segunda-feira) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,40%, de 11,58% na segunda-feira.

O mercado de juros vinha ensaiando uma correção já há algumas sessões, especialmente os fundos de investimento que estavam de olho nos prêmios reforçados na curva, mas em tentativas que não conseguiam prosperar, sobretudo pela pressão vinda do exterior.

Nesta terça-feira, a curva norte-americana esteve menos pressionada, abrindo espaço para a retomada do ajuste frustrado de segunda-feira. A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, destaca que o avanço do real, na contramão da maioria das demais moedas ante o dólar, teve papel importante nesta terça para o desempenho dos DIs. “Só o fato de não estarmos vendo grande desvalorização da moeda já é positivo. O movimento de desvalorização do petróleo também acabou contribuiu com a dinâmica da inflação”, disse. 

A queda do dólar no Brasil contrariou a tendência de alta que prevaleceu no exterior e que ajudou a pressionar o petróleo para baixo. O barril do Brent para janeiro, referência para os preços da Petrobras, fechou em US$ 87,16.

Os yields dos Treasuries mostraram alguma volatilidade, em dia marcado por PMIs nos Estados Unidos acima do esperado, mas fracos na Europa, além de leilões de T-Note de 2 anos com demanda acima da média. A taxa da T-Note de 10 anos zerou a alta vista na primeira parte da sessão e recuava a 4,82% no fim da tarde.

Ao mesmo tempo, o mercado operou também de olho no noticiário de Brasília. Há atenção especial ao projeto de lei de tributação dos fundos de alta renda, que aguarda votação na Câmara. “Foi adiado para amanhã mas há expectativa de que possa ser negociado e votado, o que, tecnicamente, na visão do Ministério da Fazenda, é relevante para a equação da política fiscal”, diz Abdelmalack.

A expectativa era de que, com a volta do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ao Brasil o projeto que mira fundos exclusivos e offshore pudesse ser analisado nesta terça. Porém, segundo apurou o Broadcast Político, deve ser apreciado apenas a partir da quarta-feira em plenário.

No Senado, a expectativa é pela apresentação do relatório da reforma tributária. O parecer do senador Eduardo Braga (MDB-AM) ainda era aguardado para ser protocolado ainda nesta terça, após o fechamento deste texto. Na reta final das negociações, senadores e a Fazenda discutiam a possibilidade de fechar a porteira dos produtos da cesta básica que terão alíquota zero.

Já a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta terça o projeto de lei que prorroga a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores. O texto incluiu um dispositivo que concede redução na alíquota previdenciária a prefeituras de cidades pequenas. Há uma ala do governo que defende que o presidente Lula vete o dispositivo, em função das perdas de receita. O impacto fiscal da medida, segundo cálculos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), é de cerca de R$ 11 bilhões ao ano.

Na Warren Rena, a avaliação do economista-chefe Felipe Salto e do analista Erich Decat é de que a desoneração avança “com a pior configuração possível para o fiscal”. “O veto será a única saída”, dizem.

Bolsa

O Ibovespa interrompeu nesta terça-feira série negativa de cinco sessões, que o havia mantido nos menores níveis de fechamento desde 5 de junho. Nesta terça-feira, contou com a recuperação parcial de Petrobras (ON +1,54%, PN +1,50%), que havia tombado mais de 6% no dia anterior, e especialmente de Vale, que subiu 2,29% após leve perda na segunda-feira. Assim, a referência da B3 acentuou alta em direção ao fechamento e avançou 0,87%, aos 113.761,90 pontos, tendo mostrado ao longo do dia ganho similar aos de Nova York, entre 0,62% (Dow Jones) e 0,93% (Nasdaq) no encerramento da sessão.

Nesta terça-feira, o Ibovespa oscilou de mínima na abertura aos 112.813,83 até os 114.248,72 pontos, na máxima do dia, com giro financeiro a R$ 20,5 bilhões na sessão. Na semana, o índice mostra agora avanço de 0,54%, ainda cedendo 2,40% em outubro. No ano, o Ibovespa sobe 3,67%.

Na B3, a recuperação vista nas ações dos carros-chefes das commodities mais do que compensou a falta de sinal único na maior parte do dia para as de grandes bancos, em que o destaque, no fechamento, ficou com Santander (Unit +2,54%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, CVC (+5,49%), Alpargatas (+5,24%) e Locaweb (+4,33%). No lado oposto, Magazine Luiza (-6,62%), Casas Bahia (-3,77%) e Suzano (-3,47%).

A presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, disse nesta terça que a empresa está “apanhando muito na Bolsa” porque “sempre acreditou em loja física”. Ela também afirmou que a crise atual do varejo não é a primeira do setor e, na sua visão, servirá para solidificar a empresa, frente ao crescimento dos últimos anos.

Se o dia foi negativo para Magalu, Petrobras se estabilizou nesta terça-feira, ainda que em grau discreto se comparado à correção vista no dia anterior. “Ontem, as ações da Petrobras tiveram uma reação grande, negativa, à possibilidade de mudança no Estatuto da empresa, mas hoje houve recuperação do ativo, em dia também mais favorável para o câmbio em que o dólar foi negociado abaixo de R$ 5 na mínima do dia, e também no fechamento”, diz Alan Soares, analista da Toro Investimentos.

O diretor de Governança e Conformidade da Petrobras, Mario Spinelli, afirmou nesta terça ao Broadcastque apesar da proposta de mudança no Estatuto Social – no sentido de excluir vedações à indicação de administradores previstas na Lei nº 13 303, de 2016 -, a governança continuará sólida. Ou seja, segundo ele, nada mudará na companhia se houver aprovação da proposta na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) que será realizada até dezembro.

“A mudança ajusta o estatuto a qualquer que seja a decisão do Judiciário (sobre a Lei das Estatais)”, disse o diretor à jornalista Denise Luna, do Broadcast no Rio. Ele se referia à discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre exigências legais para nomeação de administradores. “Queremos evitar que tenha que ser convocada uma outra AGE para isso”, acrescentou Spinelli. 

De qualquer forma, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) acionou nesta terça a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no sentido de que venha a impedir eventuais indicações políticas na Petrobras, após a aprovação de mudanças estatutárias. Segundo a colunista Malu Gaspar, de O Globo, o parlamentar pede que a CVM impeça eventuais nomeações na companhia que colidam com a Lei das Estatais até que o STF julgue em definitivo a decisão monocrática do ex-ministro Ricardo Lewandowski, que suspendeu restrições previstas no texto da legislação a nomeações de ministros de Estado, funcionários com cargo de confiança e representantes de partidos políticos.

No quadro mais amplo, desde o exterior, o dia foi marcado ainda na abertura dos mercados por moderada retomada do apetite por risco, em meio a leitura mais aguda em outubro para o índice de atividade composto (PMI industrial + serviços) nos Estados Unidos, de acordo com dados preliminares divulgados nesta terça pela S&P Global. Da Ásia, mais cedo, a emissão trilionária de títulos do Tesouro em yuans, anunciada na China, chega em momento no qual os agentes econômicos seguem atentos a sinais de estímulo no outro lado do mundo – algo positivo principalmente para a demanda por commodities, segmento de peso na B3.

Por outro lado, a falta de sinais de escalada no conflito do Oriente Médio deflagrado no último dia 7 pelo ataque do Hamas a Israel tem resultado, nas últimas sessões, em acomodação dos preços do petróleo, tanto no Brent como no WTI, o que alivia em parte os temores em torno da inflação global, observa Bernard Faust, sócio da One Investimentos. Ele se refere em particular ao efeito que eventual envolvimento do Irã, aliado do grupo palestino, teria sobre a passagem de petróleo pelo Estreito de Ormuz, por onde fluem cerca de 20% do fluxo global da commodity.

Contribuindo também para a redução da cautela dos investidores na sessão, os rendimentos dos Treasuries, especialmente de vencimentos mais longos como os de 10 e 30 anos, tiveram acomodação nesta terça-feira, após o da T-Note de 10 anos ter chegado a tocar o nível de 5% no dia anterior. Nesta terça, ficaram em torno de 4,80% para o mesmo vencimento, em meio a alertas de grandes players do mercado de que o “salto recente pode ter sido exagerado, diante do maior risco de desaceleração das principais economias ainda este ano”, aponta em nota a Guide Investimentos.

“Com a acalmada no exterior e o dólar voltando a trabalhar mais perto de R$ 5, o mercado começa a olhar um pouco mais para o contexto doméstico, para a questão fiscal, especialmente com relação a iniciativas do governo para atingir a meta de déficit zero no ano que vem, como a de tributação de offshores e fundos exclusivos, que pode resultar em receita de R$ 21 bilhões. E, no Senado, a expectativa é de que comece a destravar a reforma tributária”, diz Marco Prado, CIO da BullSide Capital.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado