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Economia

Dólar avança 2,20% na semana com quadro eleitoral e remessas no radar

Com mínima de R$ 5,4990 e máxima de 5,5463, fechou cotado a R$ 5,5297, encerrando a semana com valorização de 2,20%

Redação Jornal de Brasília

19/12/2025 18h58

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

São Paulo, 19 – Em sessão volátil e marcada por trocas de sinal, o dólar subiu mais um degrau e emendou o sexto pregão consecutivo de ganhos em relação ao real. Com mínima de R$ 5,4990 e máxima de 5,5463, fechou cotado a R$ 5,5297, encerrando a semana com valorização de 2,20% – o que levou a alta acumulada em dezembro para 3,65%.

Segundo operadores, questões técnicas típicas de fim de ano e o aumento de remessas ao exterior jogaram contra o real. Parte das pressões altistas foi amenizada pela intervenção do Banco Central, que vendeu oferta integral de US$ 2 bilhões em leilões de linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra).

Para o gestor de fundos multimercados da Azimut Brasil Wealth Management, Marcelo Bacelar, fatores idiossincráticos têm ditado o comportamento da taxa de câmbio nas últimas semanas. “Estamos vendo o prêmio de risco aumentando com a questão política e a história da remessa de dividendos. É isso que está fazendo preço”, afirma Bacelar.

Embora as questões locais estejam dominando o comportamento da taxa de câmbio, parte do avanço do dólar pela manhã foi atribuído a temores de que o aperto monetário no Japão pudesse levar a um desmonte parcial de operação de carry trade com divisas emergentes de países de juros altos, caso do real.

Quinta à noite, o Banco do Japão (BoJ) anunciou elevação da taxa básica de juros de 0,50% para 0,75% ao ano. Foi a segunda elevação em 2025, após o ajuste feito em janeiro. O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, disse que novas elevações de juros virão se a economia e os preços evoluírem segundo as projeções da instituição.

Ao contrário do que se esperava, o iene não se valorizou. Pelo contrário, amargou queda de mais de 1% em relação ao dólar, aliviando eventuais pressões sobre o real. A percepção é de que investidores esperavam um tom ainda mais conservador por parte do BoJ e acabaram desmontando posições favoráveis à moeda japonesa diante da mensagem transmitida pelo BC japonês.

O dólar operou em queda no fim da manhã e no início da tarde sob o impacto da intervenção do Banco Central com leilões de linha. Operadores avaliam que a injeção de liquidez ajudou a mitigar as pressões vindas do aumento de remessas ao exterior, que, por ora, parece menor do que se esperava e bem distante do observado no fim de 2024.

Dados do setor externo divulgados pela manhã mostraram que o déficit em conta corrente foi de US$ 4,943 bilhões em novembro, um pouco abaixo da mediana apontada pelo Projeções Broadcast (US$ 5,050 bilhões). Já o Investimento Direto no País (IDP) surpreendeu ao somar US$ 9,820 bilhões no mês passado, muito próximo do teto das estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast (US$ 9,9 bilhões). Em 12 meses, o IDP equivale a 3,47% do PIB, superando o tamanho do déficit em transações correntes (3,47% do PIB).

O economista Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, observa que, apesar de saídas líquidas de US$ 2,7 bilhões de investimentos em carteira em novembro, no ano o saldo é positivo em US$ 11,4 bilhões, com entrada líquida de US$ 14,9 bilhões em títulos da dívida. “As entradas em renda fixa refletem principalmente o interesse do investidor estrangeiro no diferencial de juros”, afirma Goldenstein, em nota.

Bacelar, da Azimut, avalia que o apelo do carry trade deve diminuir ao longo de 2026 à medida que o Banco Central reduza a taxa Selic, estreitando o diferencial de juros interno e externo O gestor aponta que os últimos acontecimentos no mundo político já aumentaram a volatilidade da moeda, resultando em um carry ajustado pela volatilidade menos atraente.

“O jogo interno será preponderante para o real em 2026. E as variáveis estão piorando. Um corte de juros pelo BC sem a perspectiva de uma mudança no quadro fiscal a partir de 2027 é desfavorável para a moeda”, afirma Bacelar, em referência à expectativa de que, em caso de reeleição do presidente Lula, não haja alteração significativa na condução da política fiscal.

Bolsa

O Ibovespa seguiu o roteiro da acomodação, em marcha lenta de recuperação desde a volatilidade que se impôs há duas semanas, em 5 de dezembro, quando o risco político voltou a traçar limites ao apetite por ativos como ações. Antes da piora do ambiente eleitoral, o mercado acionário vinha sendo favorecido pela perspectiva de juros mais baixos nos EUA e também no Brasil, no primeiro trimestre de 2026. Sem desdobramentos nesta sexta-feira, 19, que levassem os participantes a operar em cima do noticiário de Brasília e da corrida presidencial do próximo ano, o índice da B3 subiu 0,35%, aos 158.473,02 pontos, no fechamento da sessão, com giro a R$ 32,3 bilhões, reforçado pelo vencimento de opções sobre ações.

O desempenho desta sexta não foi suficiente para apagar perda de 1,43% na semana e de 0,38%, até aqui, no mês – na semana anterior, tinha mostrado retomada de 2,16%. No ano, o Ibovespa sobe 31,75%. Da mínima à máxima do dia, oscilou dos 157.906,06 até os 159.551,94 pontos, tendo saído de abertura aos 157.928,31 Foi o segundo dia de recuperação parcial do índice, que veio de tombo de 2,40% na terça-feira, seguido por perda de 0,79% na sessão seguinte. Quinta, havia avançado 0,38%.

Em dia com ganhos entre 0,38% (Dow Jones) e 1,31% (Nasdaq) no fechamento de Nova York, o Ibovespa lutou em boa parte da sessão por ao menos reaver o nível de 159 mil pontos, após ter renovado recorde intradia a 165 mil pontos, há exatamente duas semanas. Desde então, conseguiu sair de 157 mil para 162 mil pontos, em fechamento da última segunda-feira, no melhor momento da recuperação moderada que sucedeu o ‘Flávio Day’: como ficou conhecido o tombo de 4,31%, o maior desde fevereiro de 2021, na sessão de 5 de dezembro, quando do anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República.

Nesta última sessão do intervalo, o Ibovespa contou com o apoio dos carros-chefes das commodities – Vale (ON +0,71%) e Petrobras (ON +0,71%, PN +0,36%) – e das ações de bancos (destaque para Itaú PN +0,92%), uma combinação que costuma assegurar alta para o índice de referência da B3, pela participação que detêm em sua composição ponderada. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Braskem (+6,56%), CVC (+4,12%) e IRB (+2,50%). No lado oposto, CSN Mineração (-4,01%), CSN (-3,23%) e Cyrela (-2,39%).

“O início do ciclo de cortes da Selic deve catalisar o fluxo local para ações, movimento que historicamente impulsiona o Ibovespa. Nos últimos cinco ciclos, o índice avançou em 60% dos casos nos seis meses anteriores ao primeiro corte e em 100% nos seis meses seguintes”, aponta Bruna Sene, analista de renda variável da Rico. “Nos Estados Unidos, o último dado referente ao mercado de trabalho (payroll) reforçou a percepção de que o Banco Central americano (Fed) deve manter uma postura paciente, com expectativa majoritária de manutenção da taxa de juros na reunião de janeiro”, acrescenta a analista.

“Enquanto aguarda a votação do Orçamento 2026, o mercado local respira e tenta voltar a patamar positivo em dezembro, corrigindo quedas anteriores, e de olho, ainda, em movimentações eleitorais”, diz Bruno Perri, economista-chefe, estrategista e sócio-fundador da Forum Investimentos. “Especulações e rumores de mercado de que pesquisas na semana que vem mostrarão o enfraquecimento marginal da candidatura de Lula ajudam no otimismo, em dia de agenda mais fraca por aqui.”

Para Bruna Centeno, economista na Blue3 Investimentos, a recuperação vista neste complemento de semana foi favorecida pelo ajuste de baixa na curva do DI e por retomada também nas bolsas de Nova York, o que contribuiu para a seleção de papéis descontados, como de bancos como Itaú e Bradesco (ON +0,89%, PN +0,93%). “Isso contribuiu para deixar os ruídos políticos um pouco em segundo plano, na sessão.”

Após uma semana carregada de documentos e indicações importantes, como a ata do Copom, na terça-feira, a última sessão do intervalo foi relativamente tranquila, na ausência de novos “gatilhos” para os negócios, observa Rachel de Sá, estrategista de investimentos da XP. “A semana foi de volatilidade também nos Estados Unidos, com as dúvidas em torno do setor de IA e as posições sobre o que o Federal Reserve fará, para frente, com relação aos juros americanos. O mercado ainda é de vol volatilidade, em especial no setor de tecnologia dos Estados Unidos.”

O quadro das expectativas para as ações no curtíssimo prazo manteve-se inalterado no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta. Entre os participantes, 60% esperam alta para o Ibovespa na próxima semana, contra 20% que preveem estabilidade e outros 20%, queda, exatamente como na edição anterior.

Juros

Em um dia de liquidez reduzida e ausência de dados econômicos e novidades no noticiário político, os juros futuros negociados na B3 tiveram acomodação no último pregão de uma semana agitada.

Segundo agentes, a perda de inclinação da curva nesta sexta-feira, 19, reflete principalmente um movimento natural de correção, após o estresse causado pela volatilidade do cenário político ter provocado abertura de mais de 20 pontos-base nas taxas longas no saldo semanal. Alguns participantes do mercado mencionam, ainda, rumores nas mesas de renda fixa sobre eventual melhora do senador e pré-candidato à presidência Flávio Bolsonaro em relação a Lula em trackings e pesquisas, mas essa percepção não é um consenso.

Com os investidores corrigindo possíveis excessos dos últimos dias e cada vez mais atentos à disputa presidencial, as taxas futuras encontraram espaço para ceder. Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,829% no ajuste anterior para 13,775%. O DI para janeiro de 2029 recuou de 13,335% no ajuste de quinta para 13,245%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,54%, vindo de 13,625% no ajuste.

O fechamento das taxas nesta sexta, porém, não chegou perto de devolver totalmente o estrago causado pela volatilidade política Na semana, Flávio reiterou sua disposição em participar do pleito de 2026, enquanto a possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – nome preferido do mercado e tido como o mais propenso a realizar um ajuste fiscal -, parece ter ficado mais distante.

Do lado dos dados, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e o Relatório de Política Monetária (RPM) não trouxeram mudanças em relação ao tom conservador do Banco Central, mas declarações do presidente do BC, Gabriel Galípolo, no sentido de que as portas não estão fechadas para um corte em janeiro deram algum ânimo aos investidores. No cômputo total de uma semana carregada, o DI para janeiro de 2027 abriu 14 pontos-base, a taxa para janeiro de 2029 subiu 23 pontos-base, e a de janeiro de 2031 avançou 22,5 pontos-base.

“Foi uma sessão de ajustes técnicos após um movimento forte na semana”, avalia João Freitas, estrategista de investimentos do Santander. “Apesar do choque no balanço semanal, nesta sexta a agenda estava mais esvaziada. A ausência de dados e de notícias acaba levando a uma correção”, afirma, observando que a alta acumulada de segunda até esta sexta teve como maior condutor o ambiente político mais incerto.

Diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, Tiago Hansen observa que o quadro externo melhorou na segunda etapa do pregão, o que também conferiu alguma devolução dos prêmios de risco embutidos nos DIs. Mas acrescenta um possível gatilho eleitoral para a perda de ímpeto das taxas.

Publicada nesta sexta, pesquisa eleitoral do Instituto Opinião realizada em todo o País com 2 mil entrevistados mostra que, em eventual segundo turno, o presidente Lula tem 42% das intenções de voto, contra 37,6% de Flávio – uma diferença de apenas 4,4 pontos porcentuais. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos. “Tem essa questão eleitoral sim, mas teve também um alívio global hoje [sexta]”, ressalta Hansen.

Por aqui, a semana foi marcada por ausência de sinalizações, tanto na ata do Copom quanto no RPM, sobre quando será o início do ciclo de flexibilização da Selic, o que mantém o mercado dividido entre janeiro e março. Freitas, do Santander, destaca que a precificação da curva indica 53% de chances de manutenção na primeira reunião de 2026 do colegiado, e 47% de probabilidade de corte de 0,25 ponto porcentual.

“O mercado tinha ficado otimista sobre o começo dos cortes em janeiro, assim como sobre um ritmo mais forte de cortes. Isso diminuiu um pouco, mas as falas de Galípolo colocaram um contrapeso e mostraram que o Copom vai observar dados e a economia em geral para decidir”, disse o estrategista.

Em coletiva sobre o RPM, o comandante do BC adotou, na visão do mercado, um tom mais ‘dovish’ do que o do documento, ao deixar claro que o comitê ainda não tomou uma decisão, e que “não há seta nem porta fechada” sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Estadão Conteúdo

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