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Economia

Dólar à vista tem leve queda e volta a fechar abaixo de R$ 5,00; Ibovespa sobe 1,73%

As oscilações foram contidas, com o dólar variando pouco mais de três centavos entre a mínima (R$ 4,9891) e a máxima (R$ 5,0195)

Redação Jornal de Brasília

26/10/2023 18h21

Em mais um pregão marcado por troca de sinais, o dólar à vista se firmou em leve baixa à tarde, em meio à aceleração dos ganhos do Ibovespa, e encerrou a sessão desta quinta-feira, 26, cotado a R$ 4,9902, recuo de 0,23%. Como na quarta-feira, as oscilações foram contidas, com o dólar variando pouco mais de três centavos entre a mínima (R$ 4,9891) e a máxima (R$ 5,0195). Na semana, a divisa acumula desvalorização de 0,82%.

Apesar do avanço acima do esperado da primeira leitura do PIB americano no terceiro trimestre, as taxas dos Treasuries recuaram com sinais de desaceleração inflacionária, abrindo espaço para apreciação da maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Entre pares do real, os pesos mexicano e colombiano, além do rand sul-africano, ganharam mais de 1%. 

Entre as commodities, as cotações do petróleo caíram mais de 2%, com o contrato do Brent para janeiro novamente abaixo de US$ 90. Investidores monitoram o desenrolar do conflito no Oriente Médio Tropas israelenses promoveram breve incursão terrestre na Faixa de Gaza na quarta à noite, enquanto preparam invasão terrestre.

Por aqui, a leitura benigna do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro e a aprovação do projeto de lei de taxação de fundos exclusivos e offshore na Câmara dos Deputados na quarta à noite, embora tragam sinais positivos para o desempenho da economia e o quadro fiscal, não conseguiram dar fôlego extra à moeda brasileira.

“O mercado de câmbio andou de lado hoje. Os dados divulgados não alteram a expectativa para a política monetária aqui e no exterior”, afirma o especialista em câmbio da Manchester Investimentos, Thiago Avallone, em referência ao PIB dos EUA e o IPCA-15 de outubro.

Na semana que vem, haverá nova “super quarta”, com decisão de política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Banco Central brasileiro. A aposta quase unânime dos investidores é que o Fed vai manter as taxa básica americana inalterada, mas trará no comunicado menção a possibilidade de nova alta. Por aqui, o BC deve reduzir a Selic mais uma vez em 0,50 ponto porcentual, para 12,25% ao ano.

O PIB dos EUA cresceu ao ritmo anualizado de 4,9% no terceiro trimestre deste ano, acima da mediana de Projeções Broadcast (4,5%). O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu à taxa anualizada de 2,9% no período, o que representa aceleração ante o segundo trimestre (2,5%).

Analistas destacam, contudo, que o núcleo do PCE, que desconsidera preços de alimentos e energia, desacelerou de 3,7% no segundo trimestre para 2,4% no terceiro (taxa anualizada), o que sinaliza perda de força da inflação. Amanhã, o Departamento de Comércio dos EUA divulga o PCE de setembro. 

Do lado doméstico, o IPCA-15 desacelerou de 0,35% em setembro para 0,21% em outubro, em linha com a mediana de Projeções Broadcast. Economistas destacaram a abertura positiva do índice, com perda de força de núcleos e medidas subjacentes. 

À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial na semana passada (de 16 a 20 de outubro) foi negativo em US$ 703 milhões. No acumulado do mês (até o dia 20), contudo, o fluxo é positivo em US$ 3,375 bilhões, com entradas líquidas de US$ 1,010 bilhão (canal financeiro) e US$ 2,365 bilhões (comércio exterior). 

O head de câmbio da Nova Futura, Luis Guilherme, observa que até houve um movimento forte de internalização de recursos por parte de grandes players brasileiros nos últimos dias, mas que parece já ter se esgotado, levando o dólar um movimento de “lateralização” na quarta e na quinta-feira. 

“Vimos um fluxo forte de grandes companhias brasileiras com operações lá fora que trouxe esse dólar para perto de R$ 5,00. Não fosse isso, já poderia estar mais perto de R$ 5,20”, afirma Guilherme, que vê o real menos atrativo com a redução do diferencial entre juros internos e externos. “Os juros lá fora devem voltar a subir, enquanto aqui já temos mais um corte de 0,50 ponto encomendado. Essa taxa mais alta nos EUA acaba drenando recursos e a tendência é o dólar dar uma esticada.”

Bolsa

Apesar da dinâmica negativa de Petrobras (ON -0,74%, PN -1,03%), com queda na casa de 2% para o Brent e o WTI na sessão, o Ibovespa enfim se desconectou da cautela externa que ainda deu o tom aos negócios em Nova York nesta quinta-feira, retomando a linha dos 114 mil pontos, em alta de 1,73% no fechamento, no que foi o maior ganho em porcentual para o índice desde 1º de setembro (1,86%). Nesta quinta, encerrou o dia aos 114.776,86 pontos – maior nível de fechamento desde o último dia 17 (115 908,43) -, bem mais perto da máxima (114.885,61), no fim da tarde, do que da mínima (112.840,03) correspondente à abertura da sessão. 

Na semana, voltou nesta quinta-feira ao positivo (+1,43%), ainda cedendo 1,53% no mês. Em 2023, sobe 4,59%. O giro financeiro desta quinta-feira foi a R$ 21,5 bilhões.

À exceção de Petrobras, as ações de maior peso e liquidez na B3 mostraram sinal positivo ao longo da tarde, com destaque no fechamento para o setor metálico (Vale +2,14%, Gerdau +1,58%, CSN +2,26%) e grandes bancos (Itaú +2,48%, Santander +2,85%, Bradesco +2,55%, na PN, e +2,34%, na ON). Na ponta do Ibovespa, Gol (+8,29%), Carrefour Brasil (+6,96%) e IRB (+6,09%), com BRF (-2,25%) e as duas ações de Petrobras no canto oposto, além de Prio (-0,74%).

“No cenário doméstico, o IPCA-15 referente a outubro, divulgado pela manhã, veio marginalmente acima do esperado, mas dentro de uma margem considerada ‘ok’ para o período. As ações reagiram positivamente já na abertura da B3. Os papéis ligados a petróleo sofreram um pouco mais hoje, acompanhando a correção dos preços da commodity, depois de um aumento expressivo em decorrência da guerra no Oriente Médio”, diz Alex Carvalho, analista da CM Capital.

“Lá fora, o PIB dos Estados Unidos veio acima do esperado para o terceiro trimestre, mostrando uma economia ainda acelerada, o que mantém o Federal Reserve pressionado quanto à orientação da política monetária”, acrescenta o analista, referindo-se ao ‘spike’ dos juros de mercado na maior economia do mundo – apesar do relativo alívio visto nas taxas, por lá, nesta quinta-feira. “Os juros nos Estados Unidos devem seguir altos por mais tempo, o que tem derrubado os índices de ações.”

Nesta quinta, não foi diferente nesse ponto, com Dow Jones em queda de 0,76%, o S&P 500, de 1,18%, e o Nasdaq – que reúne as ações de “crescimento”, mais expostas à perspectiva para os juros americanos -, em baixa de 1,76% no fechamento do dia.

“O PIB do terceiro trimestre, em alta de 4,9%, superou a maioria das estimativas, embora fosse amplamente esperado que esse trimestre particularmente forte estivesse ajudando os Estados Unidos nesse ciclo histórico de aumento das taxas de juros”, observa em nota Adam Hetts, head global de multiativos na Janus Henderson Investors. Mas a “festa do terceiro trimestre” pode acabar em “ressaca significativa”, acrescenta.

“Muitos fatores positivos não persistirão, com consumidor mais fraco, inflação teimosa, dólar forte e impacto defasado dos aumentos das taxas de juros”, escreve o gestor, apontando que essa combinação de fatores tende a definir um “cenário restritivo rumo ao quarto trimestre, o que tornaria realmente excepcional um crescimento semelhante do PIB” logo à frente. 

“Apesar do ambiente externo negativo, o Ibovespa subiu hoje. O PIB americano veio muito forte, o que traz bastante receio quanto aos próximos passos do Fed”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, lembrando que o BC dos Estados Unidos volta a se reunir, para deliberar sobre a taxa de juros de referência, na semana que vem. “E amanhã tem a divulgação do PCE, o indicador preferido do Fed sobre a inflação ao consumidor”, acrescenta o analista, observando também que a leitura do IPCA-15, praticamente em linha, contribuiu para o descolamento do Ibovespa na sessão.

“O IPCA-15 registrou uma alta de 0,21% em outubro e, nos últimos 12 meses, acumula 5,05%, levemente acima dos 5,00% registrados em setembro deste ano”, diz o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung. 

Ele acrescenta que a abertura do índice mostra uma trajetória “benigna” para os preços, em fatores como serviços e serviços subjacentes, em desaceleração no mensal como em 12 meses, algo “bastante positivo para o cenário do Banco Central”. Além disso, “a média dos núcleos de inflação passou de 5,1% em setembro para 4,9% em outubro.”

Por outro lado, o índice de difusão – métrica que busca monitorar o espalhamento ou disseminação das altas de preço – subiu para 47,1%, ante 41,7% em setembro. Mas, na avaliação de Sung, tal avanço não chega a ser preocupante, na medida em que o nível está abaixo dos últimos anos.

Taxas de juros

Os dados benignos sobre a inflação no Brasil e a queda das taxas dos Treasuries após indicadores mostrarem alta de preços mais contida nos Estados Unidos guiaram o movimento do mercado brasileiro de DI, com os juros futuros recuando ao longo de toda a curva, mas com mais intensidade nos vértices de médio e de longo prazo, onde as taxas chegaram a cair mais de 20 pontos-base. O foco nos indicadores deixou em segundo plano notícias com potencial para modificar o cenário de preços no futuro – como o anúncio de aumento do ICMS sobre combustíveis a partir de fevereiro de 2024.

Dados publicados mais cedo pelo governo dos Estados Unidos apontaram que a economia do país cresceu 4,9% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, em base anualizada, e que mesmo assim o núcleo da inflação medida pelo índice de gastos com consumo (PCE) desacelerou de 3,7% para 2,4% na mesma base de comparação.

O indicador, divulgado a menos de uma semana da próxima decisão do Federal Reserve sobre os juros norte-americanos, provocou queda de 10 a 15 pontos-base ao longo de toda a curva dos Treasuries, com investidores tentando se antecipar aos dados da inflação do PCE referente a setembro, que serão publicados na sexta-feira.

Além da pressão vinda de fora, também pesou sobre as taxas de DI a divulgação do IPCA-15 de outubro, que apesar de ter subido mais do que o mercado previa, muito em função de uma alta significativa no preço das passagens aéreas, apontou desaceleração tanto dos núcleos quanto da inflação cheia.

“O IPCA-15 mostrou que tem espaço para o Banco Central cortar juros em ritmo mais forte. O problema é que não pode acelerar justamente porque nos Estados Unidos a gente não sabe se o Fed vai precisar aumentar a taxa de juros”, disse Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

Rodrigo Correa, estrategista da Nomos, ressalta que a influência externa sobre o mercado de juros brasileiro está mais forte nas últimas semanas, principalmente por causa das dúvidas a respeito da trajetória das taxas americanas, e que isso já restringiu as expectativas de até onde a Selic pode cair no ano que vem. 

Embora as preocupações com o exterior prevaleçam, investidores também monitoram notícias domésticas com potencial para modificar o cenário fiscal e de preços que nesta quinta tiveram pouco impacto nos preços, como a decisão do Confaz de elevar o ICMS sobre combustíveis a partir de fevereiro do ano que vem. 

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, considera que embora estas notícias sejam relevantes para o cenário econômico, o foco dos investidores está muito mais voltado para eventos com impacto no curtíssimo prazo. 

Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, aponta que a cautela trazida pelo noticiário doméstico pode ter sido tímido diante do forte movimento de queda registrado nesta quinta entre as taxas de DI. “Se a gente pegar a curva curta, de 2024, está 0,08 negativa. Não está acompanhando essa queda muito grande, está vendo queda maior para juros mais longos. Talvez o mercado entenda que todas estas notícias façam um impacto na curva curta, mas na curva longa, não”, avaliou. 

A taxa para janeiro de 2025 fechou a 10,805%, de 10,923% no ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 recuou a 10,755%, de 10,997% na mesma base de comparação. A taxa para janeiro de 2029 teve queda para 11,170%, de 11,438% no ajuste de quarta-feira.

Estadão Conteúdo

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