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Economia

Dólar à vista fecha dia a R$ 5,0414 e acumula valorização de 0,29% em outubro

Na véspera da decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos, o comportamento da taxa de câmbio foi muito influenciado

Redação Jornal de Brasília

31/10/2023 18h47

Em meio à instabilidade e trocas de sinal, o dólar à vista se firmou em baixa no fim da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 31, em queda de 0,11%, cotado a R$ 5,0414. A divisa encerra outubro com ganhos de 0,29%, mas longe dos níveis vistos na primeira semana do mês, quando chegou a fechar acima da linha de R$ 5,15. 

Na véspera da decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos, o comportamento da taxa de câmbio foi muito influenciado por fatores técnicos, como a disputa pela formação da última taxa Ptax de outubro e a rolagem de posições no mercado futuro. Houve variação de cerca de sete centavos entre mínima (R$ 5,0090) e máxima (R$ 5,0705). 

A pauta fiscal doméstica seguiu no radar dos investidores, em meio a negociações em Brasília entre o governo e o Congresso para aprovar projetos que levem ao aumento da arrecadação. Analistas observam que a perspectiva crescente de que a meta de déficit primário zero seja abandonada inibe apostas favoráveis ao real no curto prazo. 

Segundo apuração do Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados nesta terça, em reunião com ministros e líderes de bancadas na Câmara no Palácio do Planalto, que não quer contingenciar despesas em 2024. O presidente da República teria reforçado que pode alterar a meta fiscal, em linha com declarações a jornalistas, na sexta-feira, 27. 

Após ter se irritado na segunda-feira com jornalistas por questionamentos sobre eventual abandono da meta fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se esquivou do assunto nesta terça-feira em fala antes de encontro com Lula. Em Brasília, é dado como certo que a meta será alterada para um déficit em torno de 0,50% do PIB no ano que vem. 

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, as declarações de Lula na sexta-feira, acenando com abandono da meta de déficit zero, e as declarações de Haddad na segunda-feira em entrevista “foram muito ruins”. Embora já se soubesse que o objetivo estabelecido dificilmente fosse alcançado, não se esperava que o governo propusesse uma mudança de forma tão prematura.

“O que ficou claro é que Lula não quer contingenciar gastos e avisou que, se as medidas tributárias não forem aprovadas, vai mudar a meta. As medidas para ampliar a arrecadação são difíceis de aprovar e podem ser alteradas no Congresso. Já é quase certeza de que a meta vai ser alterada”, diz Lima. 

O economista-chefe da Western ressalta que, apesar da alta recente do dólar, a piora da taxa de câmbio por causa dos ruídos fiscais foi bem contida em comparação com o comportamento dos juros futuros. O real ainda é sustentando por preços de termos de trocas favoráveis, que levam a saldos comerciais robustos, e pela taxas de juros elevadas.

“O Banco Central vai ter de ser o guardião nesse processo para ancorar as expectativas. A taxa de juros pode cair menos do que se imaginava no ciclo total em razão do fiscal. Isso tem segurado o câmbio, que piorou menos do que os juros”, diz Lima, ressaltando que, por ora, espera que o Comitê de Política Monetária, que anuncia sua decisão na quarta-feira, mantenha a sinalização de cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual. 

Lá fora, o índice DXY avançou mais de 0,50% e operava no fim da tarde ao redor dos 106,650 pontos. Entre os indicadores dos EUA, destaque para a alta dos preços de casas em agosto para novo recorde histórico. 

Houve ganhos firmes do dólar em relação ao euro, após PIB no terceiro trimestre e inflação ao consumidor em outubro na zona do euro virem abaixo do esperado, reforçando a perspectiva de recessão na região. O iene apresentou perdas de mais de 1,5% na esteira da decisão do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manter taxas inalteradas.

Taxas de juros

Os juros futuros percorreram a última sessão de outubro sem firmar tendência clara, alternando avanços e baixas moderados durante o dia, prevalecendo no fechamento um viés de alta, com exceção da ponta curta.

O mercado testou uma correção após a escalada das taxas na segunda-feira, aparando exageros relacionados às declarações do ministro Fernando Haddad, sobre a meta fiscal, que, contudo, segue em risco. Essa trégua foi possibilitada também pelo comportamento nesta terça mais neutro da curva dos Treasuries. As taxas fecharam o mês acumulando alta em todos os vértices, com destaque para o trecho intermediário, o que mais subiu.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 passou a 11,080%, de 11,126% no ajuste de segunda-feira, e a do DI para janeiro de 2026, para 11,04%, de 11,03% na segunda. A taxa do DI para janeiro de 2027 avançou de 11,20% para 11,22% e a do DI para janeiro de 2029, de 11,58% para 11,59%. 

No mês, a ponta curta abriu em torno de 25 pontos, enquanto os DIs de médio prazo saltavam 45 pontos, ante o fechamento de setembro. Os longos acumulavam ganho de cerca de 30 pontos.

Segundo profissionais da área de renda fixa, a dinâmica do mercado mesclou correções técnicas após os fortes movimentos de stop loss entre sexta-feira e a segunda-feira, incluindo ainda os ajustes de posições em carteiras típicos de fim de mês, e devolução de excessos com releitura da fala de Haddad na segunda-feira. A percepção de que a meta de zerar o déficit primário em 2024 não deve resistir segue na mesa, mas houve uma reconsideração sobre o que isso pode significar para a credibilidade do ministro.

“O que vimos ontem foi mais um fogo de palha, seria normal o mercado estressar. Não era sustentável a especulação até de que Haddad poderia cair. Houve exagero e o mercado corrigiu”, disse o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. 

Para Velho, é fato que os resultados fiscais serão ruins, com déficit bem maior que o esperado, “mas não é o término dele como ministro”.

O mercado na segunda se incomodou com o fato de Haddad não ter defendido de forma contundente a meta zero quando perguntado pelos jornalistas, após o presidente Lula ter questionado a viabilidade do objetivo na sexta-feira. O mercado nunca apostou nisso de fato, mas valorizava o comprometimento do governo em atingi-lo. Mais cedo, circularam na imprensa informações de que o cenário mais provável é de uma alteração da meta para déficit de 0,25% ou 0,50%.

Nos aspectos mais técnicos, o sócio-gestor e estrategista de renda fixa da Garin Investimentos, Felipe Beckel, lembra que o mês foi muito negativo para os fundos multimercados, que têm bastante participação de renda fixa e câmbio nas carteiras. “Ninguém quer tomar posições muito estruturais e os fundos preferem operar mesmo o curto prazo, ainda mais neste cenário externo delicado”, disse, avaliando que a escalada das tensões no Oriente Médio parece estar se dando de forma “silenciosa”.

Para o Copom, com as apostas no corte de 0,5 ponto porcentual bem consolidadas, a expectativa se volta ao comunicado e à sinalização sobre os próximos passos do ciclo, além das considerações dos diretores sobre os impactos do aumento dos juros longos nos EUA e a mais recente escalada do risco fiscal doméstico.

Bolsa

Ao contrário do dia anterior, quando não conseguiu acompanhar ganhos acima de 1% nos três principais índices de ações de Nova York, o Ibovespa teve recuperação moderada nesta terça-feira, 31, embora sem conseguir apagar perda de 0,14% acumulada nessas duas primeiras sessões de semana mais curta e que convida à cautela, com o feriado da quinta-feira no Brasil, pós-Copom. Assim, a referência da B3 oscilou dos 112.098,12 aos 113.597,32 pontos, da mínima à máxima do dia, encerrando em alta de 0,54%, aos 113.143,67 pontos, com giro financeiro a R$ 19,0 bilhões.

O Ibovespa terminou outubro acumulando perda de 2,94% no mês, vindo de ganho de 0,71% em setembro, que havia sucedido queda de 5,09% em agosto – um mergulho que tinha interrompido uma sequência positiva entre abril e julho, que levava então o índice da B3 a acumular, em 31 de julho, alta de 11,13% no ano. Com a correção que se impôs a partir de agosto, e que se mantém neste fim de outubro com fatores de risco como a guerra no Oriente Médio e a escalada dos rendimentos dos Treasuries longos nos Estados Unidos, o Ibovespa mostra agora avanço de apenas 3,11% em 2023.

Após ter cedido 7,16% no primeiro trimestre, com perdas acumuladas em fevereiro (-7,49%) e março (-2,91%), no que foi seu pior trimestre de abertura de ano desde 2020 (o primeiro da pandemia), o Ibovespa teve boa recuperação no intervalo abril-junho de 2023, quando avançou 15,9%, puxado em especial pelo salto de 9% em junho, que colocou o primeiro semestre no positivo (+7,61%).

Com a correção após julho, o Ibovespa, na moeda norte-americana, fechou setembro a 23.188,74, um pouco mais ‘barato’ do que no encerramento de agosto, quando mostrava 23.376,98 pontos, mês em que, além da retração de 5,09% para o índice de ações nominal, houve avanço de 4,69% para o dólar frente ao real – em setembro, tais variações ficaram, respectivamente, em +0,71% e +1,53%, com o dólar, de volta a R$ 5, em alta mais forte do que a do índice de ações no mês.

Agora em outubro, com o dólar a R$ 5,04 no fechamento desta última sessão do mês, o Ibovespa, na moeda norte-americana, foi a 22.442,90 pontos, abaixo dos níveis registrados nos dois meses anteriores. Em outubro, o dólar teve variação contida em relação ao real, em alta de 0,29% no intervalo.

Na mínima desta terça, pouco acima do limiar de 112 mil pontos, o Ibovespa tocou o menor nível desde 6 de outubro no gráfico intradiário, tendo batido durante aquela sessão nos 111.598,57 pontos. Desde o último dia 20, o índice da B3 tem operado em parte da sessão abaixo dos 113 mil pontos, tendo encerrado na faixa dos 112 mil em três oportunidades no mês, nos dias 30, 25 e 23 de outubro. 

Graficamente, “se o Ibovespa perder a região dos 112 mil pontos, perde também a média móvel de 200 períodos, referência observada de perto pelo mercado, na medida em que, abaixo desse nível, pode abrir caminho para quedas mais abruptas, que o levariam, provavelmente, aos 108,3 mil pontos, a região de suporte seguinte”, diz Stefany Oliveira, head de análise de trade da Toro Investimentos. 

Na última sessão do mês, o Ibovespa mostrou à tarde avanço semelhante ao dos índices de Nova York, que mostraram alta de 0,38% (Dow Jones), 0,48% (Nasdaq) e 0,65% (S&P 500) no encerramento do dia, majoritariamente positivo também nos mercados da Europa e da Ásia, ainda que em grau moderado.

Aqui, os investidores, ajustando as carteiras em fim de mês, deixaram em segundo plano as preocupações com a perspectiva para o fiscal no Brasil, após os controversos sinais deixados nas duas sessões anteriores pelo presidente Lula e, de certa forma, também pelo ministro Fernando Haddad, com relação ao compromisso de zeragem do déficit primário no próximo ano, previsto no arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso. 

“Nos Estados Unidos, a situação também não é muito favorável. De forma resumida, há um receio similar por lá, com despesas e dívidas crescentes, que vêm pressionando o juro longo”, observa Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research.

“Antes da abertura, os dados divulgados bem cedo no exterior, como o PMI chinês em contração, decepcionaram, mas, no Brasil, veio uma leitura favorável sobre a taxa de desemprego, pela manhã. Haddad decepcionou ontem ao deixar em aberto a questão do déficit zero para 2024, o que preocupa pelo lado fiscal. Mas tivemos queda hoje na curva de juros, o que sempre ajuda a Bolsa”, diz Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos.

Pela manhã, os dados do IBGE sobre a taxa de desemprego deram suporte à percepção de que a economia se mantém resiliente, gerando postos de trabalho com carteira assinada, o que ampara o consumo das famílias. No trimestre até setembro, a taxa de desemprego foi a menor desde 2014, para intervalo mensal equivalente, e a menor, independente do período de medição, desde fevereiro de 2015. E a população ocupada chegou agora a nível recorde na série histórica iniciada em 2012. 

“A taxa de desemprego no trimestre até setembro de 2023 ficou em 7,7%, uma queda de 1,0 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado e uma diminuição de 0,1 p.p. em relação ao mês anterior”, aponta o economista Rafael Perez, da Suno Research, acrescentando que os dados do mês mostram um mercado de trabalho “resiliente e aquecido”. 

Na ponta do Ibovespa nesta última sessão do mês, destaque para Gol (+8,92%), Pão de Açúcar (+8,38%) e BRF (+6,17%), com Braskem (-3,08%), Magazine Luiza (-2,92%) e Bradesco (PN -1,41%) no canto oposto. 

Entre as ações de commodities, o dia foi positivo para Vale (ON +1,20%), mas negativo para Petrobras (ON -0,86%, PN -0,97%), com o petróleo em baixa de 1,5% na sessão. Os grandes bancos fecharam na maioria em queda, à exceção de Santander, em alta de 0,79%.

Estadão Conteúdo

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