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Economia

BC indica ‘ajustes adicionais em ritmo menor’ nos juros

O BC sinalizou que o ciclo de aperto monetário não chegou ao fim e o ritmo de ajuste da taxa básica de juros será reduzido

FolhaPress

08/02/2022 13h36

BC

Foto: Agência Brasil

Para as próximas reuniões, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central indicou que fará “ajustes adicionais em ritmo menor” na taxa básica de juros (Selic), conforme ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (8). Em reação, o mercado já projeta elevação de suas expectativas.

“Um novo ajuste de 1,5 ponto percentual, seguido de ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, detalhou a autoridade monetária.

O BC sinalizou que o ciclo de aperto monetário não chegou ao fim e o ritmo de ajuste da taxa básica de juros será reduzido a partir do próximo encontro, marcado para os dias 15 e 16 de março. Mas o passo dessa desaceleração continua em aberto.

“A incerteza particularmente elevada sobre preços de importantes ativos e commodities, assim como o estágio do ciclo, fez o Comitê considerar mais adequado, neste momento, não sinalizar a magnitude dos seus próximos ajustes”, explicou a autarquia, na ata.

O mercado reagiu ao tom ‘hawkish’, termo referente a uma política contracionista de alta de juros, usado pelo BC na ata do Copom, enquanto o comunicado divulgado após o encontro da última semana havia sido lido pela maioria dos analistas financeiros como de neutro à ‘dovish’ (mais brando).

Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, o discurso mais rígido “coloca um viés inequívoco de alta para a taxa Selic terminal”, projetada pela instituição, até então, em 11,75%. “Vamos avaliar o fluxo de dados adiante para calibrar melhor nossas projeções para a política monetária de curto prazo”, disse.

O Bank of America também recalculou suas projeções para as próximas reuniões. O banco elevou sua expectativa para a Selic até maio deste ano para 12,25%, prevendo uma alta de 1 ponto percentual em março e 0,5 ponto percentual no encontro seguinte. A estimativa anterior da instituição era de 11,25%.

O patamar terminal da taxa básica de juros, antes apontado como 11,75% pelo Itaú Unibanco, também foi revisado. “Passamos a esperar agora que o ciclo de aperto monetário termine com a taxa Selic em 12,5% ao ano. Seguimos esperando um movimento de 1 ponto percentual na próxima decisão, em março”, projetou Mario Mesquita, economista-chefe, em relatório.

Na avaliação de Alberto Ramos, diretor do grupo de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, o Copom sinalizou tanto que o ciclo de aperto não terminará em março, como a Selic terminal ficará provavelmente acima de 12% ao ano.

Em relatório, o especialista disse esperar um aumento de 1 ponto percentual na reunião de março (com risco de 1,25 ponto percentual dependendo da evolução da inflação e do respectivo balanço de riscos), além de outro aumento em maio a depender dos dados.

Na última semana, o Copom elevou a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Com isso, a Selic voltou aos dois dígitos pela primeira vez após quase cinco anos, a última vez havia sido em julho de 2017. A taxa Selic agora está no maior patamar desde maio de 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB), quando os juros eram de 11,25% ao ano.

O ciclo de aumento dos juros no Brasil -oito altas seguidas, totalizando 8,75%- terá a maior elevação desde a introdução do sistema de metas de inflação, em 1999. Houve altas comparáveis somente entre 2002 e 2003 (8,5%, com ritmo mais veloz) e entre 2013 e 2015 (7%). Em março de 2021, a Selic estava em 2% ao ano, menor patamar histórico.

A ata do Copom também apontou que o Banco Central demonstrou preocupação com a adoção de políticas fiscais visando controlar a inflação no curto prazo, pontuando que as medidas podem gerar efeito de alta na inflação -as projeções já se encontram acima da meta tanto para 2022 quanto para 2023.

“O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, indicou.

A inquietação da autoridade monetária ocorre em meio à discussão sobre PEC dos Combustíveis. “A incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação”, diz a ata. “Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas.”

“O Banco Central parece reconhecer o potencial impacto negativo de iniciativas relacionadas a isenções fiscais, como as relativas aos preços dos combustíveis que vêm sendo discutidas nas últimas semanas”, analisou Megale.

As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2022 e 2023 estavam, na semana do encontro, em 5,4% e 3,5%, respectivamente. Ambas estavam acima do centro das metas para os períodos, de 3,5% e 3,25%. Esse foi o cenário utilizado na simulação do BC.

A pesquisa Focus é feita pela autoridade monetária semanalmente. Nela, o BC coleta as projeções de economistas de instituições financeiras e casas de análise para os principais indicadores da economia, como inflação, PIB (Produto Interno Bruto) e taxa de juros, para os próximos quatro anos.

As projeções de inflação do Copom situam-se em 5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Para este ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já é superior ao máximo permitido no intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, que é de 5%. Isso representará, se confirmado, o estouro da meta de inflação pelo segundo ano consecutivo.

“O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

Durante o último encontro, o colegiado avaliou diversos ritmos de ajuste e duração do ciclo do aperto monetário em suas simulações, assim como diferentes taxas terminais para a Selic. O documento também pontuou que, no cenário externo, o ambiente continua menos favorável, com preços mais pressionados.

O Copom considera que o risco de um aperto monetário mais célere nos Estados Unidos aumenta diante da persistência inflacionária, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda de Covid-19 adiciona incerteza à conjuntura.

No cenário nacional, enquanto a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica brasileira, o desempenho da agropecuária, a retomada dos serviços e a recuperação do mercado de trabalho são fatores que ajudam a sustentá-la.

Mas a ata trouxe outros fatores que podem atrapalhar o crescimento da atividade: “Os índices de confiança divulgados desde a última reunião seguem mostrando deterioração, e desenvolvimentos climáticos afetaram as projeções de importantes culturas agrícolas.”

O colegiado constatou que a inflação ao consumidor continua elevada, com alta disseminada entre vários componentes. “A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou, ainda refletindo a gradual normalização da atividade no setor”, diz a ata. As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022, ante previsão de 3,8% feita em dezembro, e 5,4% para 2023.

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