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Economia

Após impulsionarem Bolsa, estrangeiros retiram recursos do Brasil

O principal motivo para a reversão do fluxo estrangeiro foram mudanças nas apostas sobre os juros nos Estados Unidos.

Redação Jornal de Brasília

28/03/2024 6h14

Foto: Banco de imagem

MARCELO AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Com incertezas sobre os juros americanos e ruídos políticos locais, a Bolsa brasileira vem perdendo recursos do exterior. Desde o início do ano, investidores estrangeiros já sacaram R$ 21,8 bilhões da B3, arrastando, com eles, o desempenho do Ibovespa.

A saída ocorre após um forte movimento de otimismo. No último trimestre do ano passado, o saldo de investimento estrangeiro na B3 foi de R$ 45 bilhões, o que levou o Ibovespa a bater seu recorde nominal histórico. Agora, o índice tem queda de 4,84% em 2024.

O principal motivo para a reversão do fluxo estrangeiro foram mudanças nas apostas sobre os juros nos Estados Unidos.

No fim de 2023, dados mais fracos de inflação e emprego fortaleceram projeções de que as taxas americanas começariam a cair já em março deste ano, o que impulsionou mercados de maior risco.

Nos últimos meses, porém, novos números mostraram resiliência da economia americana, o que esfriou as projeções mais otimistas sobre um afrouxamento de juros.

“Ao longo do ano, as expectativas foram sendo ajustadas e a expectativas de corte de juros sendo levadas cada vez mais para frente, o que atrapalhou o fluxo para países emergentes como o Brasil. A curva de juros nos EUA se deslocou para cima, e o fluxo de investidores estrangeiros ficou negativo durante boa parte do trimestre”, afirma Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimentos.

Em sua última reunião, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) decidiu manter os juros americanos na faixa entre 5,25% e 5,50% e projetou três cortes nas taxas neste ano.

A expectativa, no entanto, é que a primeira redução ocorra apenas no segundo semestre.

O mercado local, porém, também foi afetado por ruídos políticos envolvendo as empresas de maior peso do Ibovespa: a Petrobras e a Vale.

No caso da petroleira, a decisão do conselho de administração de reter a distribuição de dividendos extraordinários, sob pressão do governo, derrubou seus ativos.

Diversos bancos rebaixaram suas recomendações de compra para os papéis. A companhia chegou a perder mais de R$ 55 bilhões em valor de mercado em um dia.

Já a mineradora sofreu com tentativas do governo Lula de emplacar um nome de sua confiança para o comando da companhia.

“As tentativas de intervenção na Petrobras e na Vale aumentaram a percepção de risco entre os investidores e ampliaram dúvidas sobre um possível governo mais intervencionista. A situação política e econômica do Brasil, comparada ao ambiente mais estável e atrativo nos EUA, explica, em grande parte, a saída de capitais estrangeiros da Bolsa brasileira em 2024”, afirma a economista Bruna Alleman, chefe de investimentos internacionais da Nomos.

O especialista em mercado de capitais Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, faz a mesma avaliação. Para ele, os ruídos políticos trazem volatilidade e afastam investidores, em especial os de perfil mais conservador, que estão menos dispostos a correr riscos.

“Qualquer sinal de interferência em companhia aberta por parte do governo é algo que gera um ruído desnecessário. As empresas deveriam ser mais autônomas possível, e o mercado vai oscilar ao sabor da possibilidade e da chance que o governo tem de conseguir ter êxito nessas intervenções”, diz Jorge.

Na semana passada, o banco de investimentos Goldman Sachs recomendou, em relatório, que investidores apostem contra empresas estatais brasileiras e priorizem a alocação de recursos em companhias privadas, que podem se beneficiar do atual ciclo de queda de juros.

Segundo os analistas do Goldman, os recentes desenvolvimentos em torno da política de dividendos da Petrobras lembraram investidores de casos de maior envolvimento do governo em empresas estatais.

“Tais eventos normalmente levaram a um prêmio de risco mais elevado para ativos brasileiros”, diz o relatório.

Apesar disso, as incertezas sobre o exterior segue sendo o principal catalisador para o desempenho tímido dos ativos brasileiros. Além dos juros americanos, o desaquecimento da economia chinesa segue preocupando e aumentando a cautela de investidores.

O desempenho mais fraco da economia da China, inclusive, afeta diretamente as ações da Vale, já que o país é um grande comprador de minério de ferro, e as projeções de menor demanda vêm derrubando os preços da commmodity —e, consequentemente, os papéis da mineradora.

Nesse sentido, o estrategista de ativos Bruno Madruga, da Monte Bravo, afirma que os recentes ruídos políticos são pontuais, e o mercado brasileiro segue atrelado aos movimentos dos juros americanos.

“A movimentação do mercado está muito mais ligada aos Estados Unidos do que à Petrobras ou à Vale nesse período. No caso da Vale, houve queda no minério de ferro e naturalmente houve saída de capital estrangeiro nesse ativo. Na Petrobras, houve oscilação do petróleo. Essas interferências são ruídos de curto prazo”, afirma Madruga.

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