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Concursos & Carreiras

Lula garante novos concursos públicos, mas estudantes temem concorrência árdua

Na semana passada, o presidente Lula se pronunciou sobre a assinatura de um reajuste para os então servidores, que não têm aumento desde 2016. Além do acréscimo de 9% nos salários, prometeu mais vagas para concursos ainda em 2023

Redação Jornal de Brasília

01/05/2023 16h25

Levantamento inédito aponta mais de 160 mil vagas de concursos para 2022

Foto: Reprodução

Isabela Mascarenhas e Milena Dias
Jornal de Brasília/Agência Ceub

“Na minha época, eu via que tinha uma certa dificuldade na prova, mas tinha bem menos concorrentes para o concurso público”, relata Margarido Silva, servidor público aposentado de 63 anos, que fez a prova em 1984.

Na semana passada, o presidente Lula se pronunciou sobre a assinatura de um reajuste para os então servidores, que não têm aumento desde 2016. Além do acréscimo de 9% nos salários, prometeu mais vagas para concursos ainda em 2023.

Mais concorrência

Segundo a plataforma Ache Concursos, os concursos antigamente eram, de fato, mais fáceis e menos concorridos que os de hoje em dia.

De acordo com a plataforma de apoio aos concurseiros, nas décadas de 80 e 90 havia menos materiais especializados, menos empresas e materiais preparatórios. Atualmente, já existem muitos cursinhos e conteúdos online. Ainda assim, o nível de dificuldade é maior agora.

Thaís Ferreira, de 29 anos, está estudando para o concurso do Tribunal Superior Eleitoral Unificado há cerca de um ano. Ela relata ser um processo difícil, já que é necessário muito foco, perseverança e, normalmente, os resultados só aparecem a longo prazo.

“Eu acho que os concursos estão mais concorridos hoje em dia do que eram antes, principalmente porque a quantidade de informação que as pessoas têm hoje em dia é maior que na minha época. Tinham apostilas, não tinham cursos online e nem muitas opções para ter o material da prova”, conta Marcelo Neves, funcionário público de 48 anos.

A Ache Concursos ainda ressalta que atualmente são cobradas jurisprudências que raramente eram mencionadas anos atrás. João Marcos Lopes, 21, estudante de direito afirma: “no meu curso, a gente aproveita muitas matérias na maioria dos concursos. Por exemplo, direito administrativo e direito constitucional estão na maioria dos concursos para vários cargos”.

João Marcos relata que quer estudar para a prova porque o mais comum para profissionais do direito é fazer a prova da OAB e então ser um advogado que recebe proporcionalmente às causas dele. “Já o servidor público, sempre vai ter o salário garantido, e um salário bom, uma quantia boa”.

Estabilidade

Tais Portela, estudante de química, diz que, para ela, vale muito a pena ser concursada, principalmente pela estabilidade financeira. “Eu faço licenciatura em química, então para mim, seria muito vantajoso ser concursada e também ir para a iniciativa privada como alternância”, afirma a estudante de 21 anos.

Da mesma forma, Camilla Ferreira faz faculdade de educação física. Ela, que tem 21 anos, pensa que fazer parte do setor público é uma forma de valorizar e dar mais reconhecimento para a profissão, além da maior remuneração. Ela diz que sua meta sempre foi fazer um concurso público, mas antes deveria concluir o curso superior.

Nem pensar

Já Breno Camarô é da área da tecnologia. Ele tem 20 anos, estuda engenharia de software e não deseja participar de um concurso público. Breno acredita que, na sua área de atuação, não vale a pena porque os projetos públicos são muito burocráticos, por isso demoram muito para ser executados. E como a tecnologia está em constante evolução, pode ser que se tornem obsoletos.

Igualmente, Gabriela Nunes, de 21 anos, estudante de odontologia, também acha que, para ela, não compensa fazer concurso. “Apesar da segurança de ser concursada, para mim não vale a pena. Eu posso fazer várias especializações e receber melhor em empresas privadas”, conta.

Rute Borges, 21, que estuda fisioterapia, também diz que não gostaria de ser funcionária pública. Ela considera que para sua área de atuação é melhor ter seu próprio consultório ou trabalhar em clínica privada. “Além disso, sempre pensei que o passo seria depois que terminar o ensino médio já ir direto pro ensino superior e não para o trabalho público”.

Rute Borges, estudante de fisioterapia, prefere iniciativas privadas a concursos públicos na sua área.

Apesar disso, ela acredita que a maior vantagem dos órgãos públicos é a estabilidade financeira, o que não se encontra na maioria das empresas privadas.

Nesse sentido, Margarido relata que o motivo de escolher o concurso público foi exatamente pensando na estabilidade. Ele considera que, na época em que prestou concurso, na década de 80, era mais difícil a busca por uma boa qualidade de vida. “O pensamento era: eu preciso de dinheiro para continuar vivendo, comendo e me vestindo. Então era trabalhar, pra depois começar a estudar”.

A funcionária pública de 53 anos, Maria de Fátima, alega que sua geração tinha a necessidade de arrumar um emprego o quanto antes devido às condições de pobreza de muitos. Ela conta que sua vontade de fazer um curso superior era até maior do que a de passar em um concurso público, mas que não deixou de fora a busca por emprego nessa área. Mais tarde, se formou como desejava.

Rosângela Elvira, de 52 anos, também servidora, conta que, em sua época, as pessoas tinham uma preocupação maior com o financeiro. “As pessoas procuravam muito mais estabilidade financeira antigamente, até porque precisavam ajudar em casa. A preocupação em garantir um emprego era bem maior do que a de ter uma formação”, relata a servidora.

Rosângela também relata que em sua época não se falava tanto de vestibular no ensino médio e não era considerado tão importante quanto hoje em dia. Ela afirma que o interesse em concursos era mais comum que em prestar vestibular, já que as faculdades eram inacessíveis para estudantes que não possuíam boas condições financeiras. Inclusive, segundo o Censo da Educação Superior, 87,6% das instituições de educação superior ainda são privadas.

De acordo com o gráfico feito pelo Censo da Educação superior, o número de matrículas em cursos superiores realmente aumentou com o passar dos anos, principalmente na categoria privada.

Além do lado financeiro, Marcelo Neves, afirma que resolveu prestar concurso público porque estava um pouco desanimado com seu curso na faculdade: “eu não tinha convicção que eu tinha escolhido o curso certo, não estava empolgado, aí surgiu a oportunidade de fazer um concurso e eu me interessei principalmente para conseguir uma renda antes da formação”, relata.

Dentre os 11 entrevistados, três estudantes consideram desvantagem prestar concurso hoje em dia em suas áreas específicas. Já os demais, apesar do desejo do serviço público, consideram mais importante ter uma formação superior primeiro.

Os mais velhos, já concursados, acreditam que de qualquer forma seja importante o concurso público, mas sem desconsiderar a universidade.

Concursos públicos

No dia 10 de abril, a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, disse em seu Twitter que estava finalizando detalhes sobre a promoção de novos concursos públicos junto ao presidente Lula.

“Assim que ele for aprovado, o governo pode encaminhar o reajuste dos servidores. A meta, temos conversado com os líderes no Congresso, é que tenhamos uma aprovação célere desse projeto, para que seja aprovado ainda no mês de abril e o reajuste dos servidores possa valer a partir de maio”, disse a ministra em entrevista à Voz do Brasil.

Lula quer substituir quem foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, considerando que não eram colocados nos cargos da maneira correta, mas sim como “amigos” de Bolsonaro. Ele ressalta a importância de criar novos concursos em várias áreas diferentes para repor o que tinha desaparecido.

O chefe executivo afirma que a única maneira de resolver o problema é colocando novos concursados no lugar, já que seres humanos, mesmo com a alta tecnologia, são indispensáveis para o público.

“ Imaginei que num decreto só pudesse acabar com tudo, mas não é possível porque você não pode fazer com que a máquina fique paralisada, ela tem que funcionar. E aos poucos você vai ter que ir colocando servidor no seu lugar”, disse.

Ainda não foram divulgadas quais serão as novas vagas, mas, segundo a Banca Avaliativa IBFC (Instituto Brasileiro de Informação e Capacitação) os mais procurados são tribunais de justiça e outros órgãos desta natureza.

Álvaro Júnior, coordenador do cursinho IGEPP, também afirma que os concursos públicos mais procurados são: Banco Central, Câmara dos Deputados, Tribunal Superior Eleitoral Unificado (TSE Unificado) e para Gestor Federal.

Glaucia Oliveira, funcionária da Processus Concursos, também conta que os mais procurados são os do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de Agente de Custódia da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e do Banco do Brasil.

Álvaro relata que a procura por cursinhos vem aumentando desde o ano passado, mas é esse ano que está mesmo fazendo a diferença devido ao novo Governo e a ideia de reconstrução de Estado. Já Glaucia, conta que a procura se manteve a mesma, mesmo com a pandemia e outros fatores: “o público voltado para concurso persiste independente das saídas dos editais ou não, porque sabem que alguma hora vai sair”, afirma.

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