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Brasil

Usuário de crack é um dos mortos pela PM em operação em Guarujá, diz ouvidor

A vítima era Jefferson Junio Ramos Diogo, que foi morto às 20h10 do dia 29 na favela da Prainha

Redação Jornal de Brasília

10/08/2023 19h02

Foto: Reprodução

TULIO KRUSE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, relatou ao chefe do Ministério Público a suspeita de mais uma morte de inocente pela Polícia Militar na Operação Escudo, no litoral paulista. Ele disse nesta quinta-feira (10) que um homem que morava em São José dos Campos, sem qualquer relação com o tráfico de drogas da Baixada Santista, estava de passagem por Guarujá quando foi morto com tiros de fuzil.

A vítima era Jefferson Junio Ramos Diogo, que foi morto às 20h10 do dia 29 na favela da Prainha.

Segundo Silva, a família dele relatou que ele era um usuário de crack que costumava perambular na rodoviária do Tietê, na zona norte da capital. Segundo Aparecido, os familiares não sabem como ele chegou a Guarujá, mas o corpo foi reconhecido no IML (Instituto Médico Legal) de Praia Grande pela irmã.

O ouvidor relatou o caso durante uma reunião de várias entidades de defesa de direitos humanos e políticos com o Procurador-Geral de Justiça do estado, Mário Sarrubbo, sobre os relatos de abuso policial na operação que deixou ao menos 16 mortos. De acordo com os participantes, Sarrubbo garantiu que todas as mortes serão investigadas e que ao menos quatro procedimentos de investigação já foram abertos para apurar as mortes pessoas polícia.

Silva contou que, segundo a família, o homem deixou São José dos Campos após sofrer agressões na rua, foi à capital atrás da ex-mulher e dos três filhos e passou a perambular entre Guarulhos e a capital.

Até então ainda não havia informações sobre a família dessa vítima. Segundo o boletim de ocorrência, quatro PMs contaram que estavam em uma patrulha a pé numa favela quando viram três homens, sendo que dois estariam armados e um teria uma mochila.

Os policiais declararam que um homem teria apontado uma arma em direção a eles, e três PMs atiraram em direção ao suspeito para evitar a agressão. Dois suspeitos teriam fugido para o lado e o terceiro, ferido e ainda armado, correu para o outro lado.

Os policiais contaram ainda que “como o mesmo ainda portava a arma, oferecendo risco a equipe, necessitou realizar mais disparos”. Os policiais contaram ter apreendido duas pistolas uma 9 mm e uma .40, além da mochila com drogas.

A ocorrência foi comunicada às 23h, cerca de três horas após a morte. Esse mesmo boletim foi atualizado por um escrivão, cerca de 30 minutos depois, para informar que o relato do boletim “divergiu dos depoimentos dos policiais militares os quais declararam que o suspeito realizou disparos contra a equipe e no histórico essa informação está ausente”.

Diogo está entre os 16 mortos registrados pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) na operação. A Ouvidoria das Polícias chegou a receber denúncias de 19 mortes, mas algumas suspeitas não se confirmaram e o órgão agora trabalha com o mesmo número da secretaria.

Além da denúncia sobre a morte, o ouvidor chamou atenção para o risco de adulteração das cenas de crime, uma vez que boletins de ocorrência registram que os locais foram abandonados antes da chegada da perícia por “fala de segurança”.

A Folha de S.Paulo também mostrou que algumas mortes levaram mais de cinco horas para serem comunicadas a delegacias, o que aumenta o risco de adulteração de provas. Procurada na última terça (8), a SSP diz que todas as circunstâncias das mortes são investigadas pela Polícia Civil e em inquérito policial militar. “Os processos estão detalhadamente documentados e são acompanhados pelo Ministério Público e Poder Judiciário, inclusive com todas as informações sobre horários indagados, que também serão analisados em conjunto com os demais contextos.”

Segundo a secretaria, em caso de morte, são tomadas algumas medidas de polícia judiciária antes de começar o registro do boletim de ocorrência.

Ainda em rua resposta, a pasta diz que nas ocorrências que resultaram nas 16 mortes foram apreendidas 17 armas de fogo, um colete balístico, cinco rádios transmissores, 19,2 kg de maconha, 5,4 kg de cocaína, 4 kg de crack e 427 gramas de skunk. “Dentre os mortos, estava uma das lideranças do crime organizado na baixada santista que tinha passagem por tráfico de drogas, roubo, sequestro e cárcere privado e homicídio. Outros dez também tinham antecedentes criminais.”

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