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Brasil

Universidades precisam se unir por verba da ciência, diz novo reitor da USP

João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta (8) que escolheu Carlotti para comandar a USP nos próximos quatro anos

FolhaPress

09/12/2021 7h52

Foto: Reprodução

Isabela Palhares
São Paulo, SP

Escolhido para ser o novo reitor da USP, maior universidade da América Latina, o médico Carlos Gilberto Carlotti Júnior diz que as instituições de ensino do país precisam se unir para exigir a recuperação do orçamento científico brasileiro.

Carlotti diz que, como reitor da universidade com maior produção científica do país, precisa exercer um papel de liderança para cobrar a valorização do setor. Ele também avalia que manter a excelência acadêmica significa fortalecer a diversidade do ambiente universitário.

João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta (8) que escolheu Carlotti para comandar a USP nos próximos quatro anos. O médico foi o mais votado na consulta interna da universidade, mas a decisão final era do governador, que poderia escolher o segundo indicado.

Professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Carlotti apresentou como propostas durante a eleição a criação de uma Pró-Reitoria de Inclusão Social e Diversidade, a recomposição salarial e do quadro docente e a recuperação de unidades da USP, como o HU (Hospital Universitário) e o Crusp (moradia estudantil).
Ele assume o cargo no dia 25 de janeiro, aniversário da capital paulista.

Pergunta – O que o senhor enxerga como principal desafio da USP neste momento?
Carlos Gilberto Carlotti JúniorA USP é tão grande, diversa e plural que é difícil falar de um único ponto. O primeiro é que precisamos manter a excelência da universidade em suas três missões: ensino, pesquisa e extensão.
Para manter essa excelência, precisamos, por exemplo, fazer modificações nos currículos dos nossos cursos de graduação para que espelhem as necessidades dos alunos e da sociedade. A formação que temos hoje é muito restrita à área específica que o estudante escolheu. Precisamos que de currículos multidisciplinares, com formação mais humana, mais global.

Em relação à pesquisa, precisamos pensar em fontes mais permanentes de financiamento para que possamos trabalhar de forma mais agressiva e inovadora. Hoje, como os recursos são escassos, só produzimos aquela ciência que sabemos que vai ter resultado positivo, com isso, deixamos de ser inovadores.
Por último, precisamos aumentar nosso vínculo com a sociedade. A USP faz muito bem a sua extensão, mas precisamos ampliar, fazer com que nosso conhecimento chegue à população em forma de produtos e mudanças sociais.

Uma das principais propostas do senhor durante a eleição foi o fortalecimento das políticas de permanência estudantil. O orçamento da universidade permite a ampliação dessas ações?
CGCJ – A USP fez um trabalho forte e importante de inclusão nos últimos anos, mas não fizemos ações de permanência na mesma intensidade. Se não agirmos agora, vamos ter problemas nos próximos anos com aumento da evasão escolar.

O Conselho Universitário aprovou o orçamento da USP para 2022 já prevendo aumento de recursos para a permanência estudantil, avaliando que a pandemia ampliou ainda mais a necessidade de ações para alunos em vulnerabilidade.

Esse aumento não ocorrerá de forma irresponsável, ou seja, colocando em risco à saúde financeira da universidade. Também pretendo procurar recursos extraorçamentários, com parceiros da iniciativa privada, para melhorar as nossas ações de permanência.

O senhor pretende resolver a situação do Crusp, que há anos é alvo de denúncias de abandono e graves problemas estruturais?
CGCJ – O Crusp precisa parar de ser visto como um problema sem solução, que deve ser deixado dentro de uma gaveta fechada longe dos olhos. Essa foi a política em relação ao Crusp por muitos anos.Esse é um problema que precisa ser resolvido e nossa primeira proposição é uma aproximação com os alunos já nos primeiros dias de gestão.
O prédio do Crusp precisa de modificações nas cozinhas, lavanderias, em toda a estrutura. Precisamos nos aproximar dos estudantes e estabelecer uma parceria para que essas reformas de fato aconteçam.

Vahan Agopyan [atual reitor] quando assumiu defendeu a desvinculação do HU (Hospital Universitário), o que nunca ocorreu, mas resultou em diminuição de repasses e contratações. O senhor defende a desvinculação ou pretende recuperar a estrutura do HU?
CGCJ – O HU deve ficar na universidade. Não há sequer discussão para sua desvinculação. Infelizmente, o HU só tem hoje 50% de seus leitos em funcionamento por conta do déficit de pessoal. Queremos recompor o quadro de funcionários e atividade médica do hospital.
O HU é importante para o atendimento da população e também para a formação de nossos alunos da área da saúde. O ensino de várias das nossas unidades dependem dele. Espero que em alguns a gente consiga restabelecer o HU.

O senhor defendeu a recomposição salarial dos servidores e professores. Ela acontecerá já neste ano?
CGCJ – Temos um orçamento bem favorável para o próximo ano e vejo a recomposição salarial como possível. Vejo também a possibilidade de novas contratações.Ainda não posso dizer qual seria o valor desse reajuste, porque ainda é preciso analisar os números, mas nossa meta é fazer a recomposição salarial dos últimos anos.
A prioridade nesse momento é recompor os salários dos servidores com menores salários e dos docentes em início de carreira. Esses novos professores sofreram não apenas com a falta de reajuste, mas também pela não incorporação de gratificações que ocorreu nos últimos anos.

A Capes e CNPq, principais agências de fomento do país, vivem grave crise financeira e política. Que reflexos essa situação traz para a USP?
CGCJ – Elas são as nossas principais fontes de recurso para o pagamento de bolsas aos pesquisadores e estudantes, apesar da Fapesp. Precisamos recuperá-las.
Vejo com muita preocupação a diminuição do orçamento para a ciência, porque todo o nosso sistema fica ameaçado com esses cortes. As universidades precisam se unir, e a USP deve liderar esse processo, para recuperar esse orçamento. Não podemos olhar para a Capes e CNPq como nossas inimigas, mas como as grandes parceiras que sempre foram.

O Enem também sofre grave crise, com denúncias de interferência ideológica em sua elaboração. A USP avalia rever sua participação no Sisu [que usa nota do Enem para selecionar os ingressantes]?
CGCJ – Nossa posição é de apoio ao Enem e ao Sisu pela possibilidade que nos trazem de captar bons alunos de todo o país para estudar na USP. Até o momento não há nenhum indicativo de que essas situações em torno do Enem colocaram em risco sua capacidade de seleção. Vamos continuar acompanhando para garantir que o exame mantém essa qualidade. A boa seleção de estudantes é fundamental para a nossa universidade.

Raio-X

Carlos Gilberto Carlotti Júnior, 61
É médico formado pela FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP, onde realizou residência médica em neurocirurgia, mestrado e doutorado. É docente da unidade desde 1996, sendo seu diretor no período de 2013 e 2016. Também foi pró-reitor de Pós-Graduação da USP, durante a gestão do atual reitor Vahan Agopyan.

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