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Brasil

Sul do Brasil pode ter cinco vezes mais eventos extremos até 2100, diz estudo

A vazão máxima de cheias frequentes, que ocorrem em períodos menores que dez anos, tem projeção de crescimento de 14% no Rio Grande do Sul, 17% em Santa Catarina e 18% no Paraná até o ano de 2100

Redação Jornal de Brasília

28/11/2025 8h52

Foto: Governo do Paraná/AFP

Foto: Governo do Paraná/AFP

CARLOS VILLELA
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS)

A região Sul do Brasil deve enfrentar desafios climáticos cada vez mais extremos nas próximas décadas, com aumento na frequência e na intensidade de chuvas e enchentes.

É o que aponta um estudo do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, em parceria com a Agência Nacional de Águas, publicado na terça-feira (25). Segundo a pesquisa, a ocorrência de enchentes na região pode se tornar até cinco vezes mais frequente em eventos em 100 anos.

A vazão máxima de cheias frequentes, que ocorrem em períodos menores que dez anos, tem projeção de crescimento de 14% no Rio Grande do Sul, 17% em Santa Catarina e 18% no Paraná até o ano de 2100.

Segundo os pesquisadores, esse aumento pode elevar o nível das cheias em até 3 metros em rios de regiões de serra e entre 50 centímetros e 1 metro em regiões planas.

O aumento na frequência e nas vazões representa um desafio para moradores de áreas que já enfrentam problemas quase anuais de enchentes, como cidades às margens dos rios Jacuí, Caí e Taquari, além das regiões ribeirinhas de Porto Alegre.

Essas áreas ainda se recuperam dos impactos da enchente do ano passado, a maior da história do Rio Grande do Sul.

A tragédia causou 185 mortes, deixou 23 desaparecidos e 806 pessoas feridas. Segundo a Defesa Civil, cerca de 540 mil pessoas ficaram desalojadas e 2,3 milhões foram afetadas diretamente, o equivalente a um em cada cinco habitantes do estado.

O estudo projeta que, no Rio Grande do Sul, a vazão máxima de cheias consideradas raras, aquelas que ocorrem em períodos superiores a dez anos, deve aumentar 13%.

Apesar desse crescimento, o índice é o menor da região Sul: o Paraná pode registrar aumento de 25%, e Santa Catarina, de 17%.

Há ainda um alerta para a possibilidade de enchentes maiores na bacia do rio Itajaí-Açu em Santa Catarina, que corta polos regionais como Blumenau, Itajaí e Navegantes.

No domingo (23), um temporal no vale do Itajaí deixou 11 municípios em estado de emergência, mais de 200 pessoas desalojadas e mais de 360 casas atingidas. Em Luiz Alves, cidade mais afetada, foi registrado em 12 horas a média de chuvas prevista para novembro inteiro.

O relatório também identifica risco significativo para a bacia do rio Uruguai, que nasce na divisa com Santa Catarina e deságua no rio da Prata.

A vazão do Uruguai deve aumentar 15% nas cheias regulares e 14% nas raras, o maior crescimento entre os oito rios analisados. O Solimões aparece em seguida, com 4,2% e 3,6%, respectivamente. Já os rios Amazonas, Paraguai, Paraná, São Francisco, Tocantins e Araguaia não apresentaram alterações.

O Uruguai também é o único rio que deve registrar aumento na disponibilidade hídrica, de 7,9%. As quedas chegam a 23% no Araguaia, 15% no Amazonas e 12% no Paraná.

Apesar do aumento projetado das enchentes, o estudo alerta também para o risco de secas. Mesmo com a previsão de alta na precipitação média anual — 4,8% no Rio Grande do Sul e 4,7% em Santa Catarina —, a duração do período seco deve crescer, respectivamente, três e cinco dias.

O Paraná concentra o maior risco de crise hídrica na região Sul, com projeção de queda de 2% na precipitação anual, e pode enfrentar um aumento de dez dias no período seco.

“Esses resultados ressaltam mudanças significativas nos regimes hidrológicos dos rios sul-americanos e exigem adaptação na gestão dos recursos hídricos e na antecipação de cheias”, diz o estudo, organizado pelos pesquisadores Rodrigo Cauduro Dias de Paiva, Walter Collischonn, Saulo Aires de Souza e Alexandre Abdalla Araujo.

Para gerar as projeções, foram utilizados um modelo hidrológico capaz de simular fluxos de água e ondas de cheia, além de 28 Modelos Climáticos Globais (GCMs), e os resultados encontrados foram comparados ao período histórico de 1951 a 2014.

Entretanto, o texto diz que as projeções têm limitações, como uma possível subavaliação das mudanças devido à baixa sensibilidade dos modelos climáticos utilizados, além da imprevisibilidade associada a fenômenos ainda desconhecidos.

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