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Brasil

Seca perturba a vida dos moradores de Manaus

Na sexta-feira, o governador Wilson Lima decretou estado de emergência em 55 municípios do Amazonas, inclusive Manaus

Redação Jornal de Brasília

01/10/2023 7h34

Foto: MICHAEL DANTAS/ AFP

Não muito longe do ponto turístico onde se encontram as águas pretas do Rio Negro e as barrentas do Solimões, dois dos principais afluentes do Amazonas, um lago desapareceu, deixando exposta uma grande extensão de terra rachada.

Onde estava o Lago do Aleixo resta apenas um pequeno curso d’água, um símbolo da gravidade da seca que afeta o estado do Amazonas e sua capital, Manaus, principal cidade da Amazônia Legal.

Sobre o estreito curso d’água, um homem sem camisa empurra arduamente uma canoa onde leva uma geladeira. A água bate na altura dos joelhos.

À sua volta, é possível ver as bordas da floresta amazônica.

Carregando uma pesada sacola plástica, Maria Auxiliadora da Silva, uma aposentada de 62 anos, tenta se equilibrar sobre o tronco de uma árvore jogado no chão para evitar afundar na lama perto do córrego, a caminho de casa.

“A gente tem que resistir porque não tem para onde ir. Aí, o jeito é ficar aqui até a água voltar”, diz ela à AFP, enquanto olha com tristeza para sua casa flutuante de madeira, encalhada no barro.

“Olha o flutuante como está. Ele era bem direitinho, agora está desse jeito aí, meio acabado”, diz a mulher, com os cabelos encaracolados e grisalhos presos em um coque.

Nos arredores também há muitas embarcações encalhadas.

Um grande barco regional de dois andares, destinado ao transporte de dezenas de passageiros, adernou. Na lateral, é possível ler seu nome: “Vitória de Jesus”.

Efeitos psicológicos

Graciete Abreu, uma agricultora de 47 anos, vende verduras em um mercado do distrito de Colônia Santo Aleixo, perto do lago que desapareceu, cerca de 20 km a leste do centro de Manaus.

Para levar suas mercadorias do seu sítio, às margens do Rio Negro, normalmente ela só precisaria viajar em uma pequena embarcação. Mas com a seca, tem que caminhar várias horas para chegar ao destino.

“A gente pega a canoa e arrasta até onde dá. Aí a gente deixa ela e vai a pé de novo para o nosso roçado, onde a gente planta”, conta esta mulher negra, que usa um boné azul com pedaços de tecido que a protegem do sol.

Mas, segundo ela, além dos danos materiais, a seca também tem “efeitos psicológicos” para quem vê a paisagem mudada pela estiagem.

Foto: MICHAEL DANTAS/ AFP

O cenário desolador se repete em Marina do Davi, um dos principais portos fluviais de Manaus, onde dezenas de barcos estão encalhados na lama.

“A gente trabalha com barco e o barco está encalhado, prejuízo é maior”, suspira Raimundo Bernardo, um empresário de 43 anos.

Na sexta-feira, o governador Wilson Lima decretou estado de emergência em 55 municípios do Amazonas, inclusive Manaus.

As autoridades locais também adotaram uma série de medidas para ajudar as populações afetadas, com a distribuição de 50.000 refeições.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou, na quinta-feira, que o governo federal vai enviar ajuda humanitária de “emergência” devido ao “risco em relação ao abastecimento tanto de alimentos, como de água potável (…), produtos de higiene e remédios”.

No Amazonas, estado com 4 milhões de habitantes, entre os quais há um grande número de indígenas, o baixíssimo nível dos cursos d’água causou a morte de milhares de peixes e dezenas de botos-cor-de-rosa, endêmicos dali.

A região, explicou a ministra, sofre atualmente o impacto do fenômeno El Niño, que reduz a formação de nuvens e, portanto, de chuvas, e cujos efeitos são cada vez mais intensos em um país particularmente “vulnerável” às mudanças climáticas.

© Agence France-Presse

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