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Brasil

Revolução cabra da peste

Pernambuco conserva ódio ao Brasil do Império que massacrou a sua gente

Gustavo Mariani

26/07/2022 11h32

Lá se vão 205 viradas do calendário gregoriano que faz Pernambuco olhar o Brasil de “zói revirado”, como fala o seu povo, no popularzão interiorano. E tanto não é mentira que, quando a ossada de Dom Pedro I foi trazida, de Portugal, durante as comemorações dos 150 anos da independência brasileira, para ser colocada no Monumento do Ipiranga, em São Paulo, em 1972, o governo pernambucano solicitou ao governo federal que o navio que a transportava não passasse pelo seu mar territorial.

Dom Pedro I foi imperador brasileiro entre 1822 e 1831. Viveu até 1834, quando já havia abdicado do trono e retornado a Portugal. Nesse seu tempo de vida teve tempo para repelir, sem o mínimo de piedade, a tentativa da província pernambucana, de se separar do governo central.

Pernambuco era um dos rincões mais ricos do período imperial, o que mais fazia a corte lucrar, comercialmente, pela exportação de produtos da cana-de-açúcar, do algodão, do couro e do tabaco. Assoprando por lá os ventos da revolução francesa, a terra reclamou do excesso de tributos pagos para sustentar os luxos da monarquia. Incomodava-se, também, com a intervenção de Portugal na administração da capitania e por não reduzir impostos nem quando a natureza castigava as suas lavouras. Motivos para sua gente desejar ser independente e republicana.

Por conta de desacordos com o Império, rolou a Revolução Pernambucana, em 6 de Março de 1817, movimento que foi chamado, também, de Revolução dos Padres, devido a participação de membros da Igreja Católica. Instalado um governo provisório republicano e convocada uma assembleia constituinte, separando os poderes executivo, legislativo e judiciário, Pernambuco pediu o apoio de outras capitanias e já negociava, com os Estados Unidos, a instalação de um consulado, para manterem relações comerciais diretas.

Por ali, o Exército imperial invadiu Pernambuco, enquanto a Marinha bloqueava o Porto de Recife. Venceram os revolucionários e, no 19 de maio, acabou-se o sonho pernambucano, de governo republicano. Vários “revoltosos” foram esquartejados e tiveram seus corpos arrastados e expostos pelas ruas de Recife. Quem ficava preso, acabava nas prisões, abandonado.

Passadas sete temporadas, Pernambuco repudia a constituição outorgada por Pedro I e parte para a Confederação do Equador, junto com o Ceará e o Rio Grande do Norte. O Império contra-ataca, com força militar terrestre liderada pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva, e comando naval entregue ao mercenário inglês Lord Cochrane (foto).

Foi dominado. Dois meses depois, era a vez do Ceará. Os chamados “revoltosos” terminaram presos e não tiveram a clemência do Imperador. Um dos líderes, o Frei Caneca, foi condenado à forca, mas diante da recusa do carrasco, de executá-lo, terminou sendo fuzilado, bem como muitos outros companheiros de rebeldia.

O fim da Confederação do Equador não representou o fim da raiva da antiga capitania contra o Imperador. O tempo que passou não foi suficiente para historiadores quererem o 6 de março sendo data mais querida do que o 7 de setembro, da Independência de um Brasil que não teve pena do povo pernambucano – há dois séculos.

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