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Brasil

Restoque, dona de Dudalina e John John, tem nota de risco rebaixada para calote

O fluxo de caixa das operações da empresa seria negativo em R$ 180 milhões em 2022, prevê a Fitch

Redação Jornal de Brasília

30/03/2022 18h22

Após dois adiamentos do pagamento de juros de uma emissão de debêntures, a varejista de moda de alto padrão Restoque, dona das marcas Le Lis Blanc, Dudalina e John John, teve sua nota de risco rebaixada nesta quarta-afeira, 30, pela Fitch para a categoria “Restricted Default (RD)” (calote restrito).

A avaliação dos analistas da agência de classificação de risco e de outras fontes ouvidas pelo Broadcast é que a empresa deve ter geração de caixa insuficiente para honrar seus compromissos financeiros e pode ser forçada a fazer nova reestruturação da dívida ou precisar de nova linha de crédito. Entre os credores, a WNT Gestora de Recursos quer converter R$ 1,5 bilhão de passivos em ações da varejista.

Em dezembro, a Restoque conseguiu o primeiro adiamento do pagamento dos juros das debêntures, para esta quarta-feira (30). O pagamento original deveria ter sido feito no mês final de 2021. Agora, em assembleia dos detentores de debêntures na última sexta-feira (25), conseguiu nova postergação, desta vez para 30 de junho.

Mesmo com o aval dos credores para adiar o recebimento dos juros, a Fitch não está otimista que a Restoque vá conseguir honrar seus compromissos. “A Fitch considera que a empresa apresenta geração de caixa insuficiente e flexibilidade financeira bastante limitada para honrar seus compromissos financeiros futuros”, destaca a agência. Com isso, pode ser forçada a entrar em um novo processo de reestruturação das obrigações financeiras junto aos credores.

A emissão das debêntures foi registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em fevereiro de 2021, e somou R$ 1,43 bilhão, com vencimento em junho de 2025. Segundo fontes, o argumento da empresa é que a pandemia se arrastou mais que o esperado, dificultando a reabertura do comércio e a geração de caixa, comprometendo assim sua capacidade de arcar com os serviços da dívida. Para complicar, a alta de juros deixou a operação mais salgada. A operação saiu na época com CDI acrescido de 2,8% ao ano, só que a Selic estava a 2%. Agora, a taxa básica caminha para superar 13%.

Além de adiar o pagamento dos juros das debêntures, a Restoque foi forçada a postergar uma capitalização de R$ 150 milhões, que seria feita por meio da emissão de ações ordinárias (ON). A operação estava prevista para ocorrer até a próxima quinta-feira (31), mas com o mercado de ações complicado, dificilmente sairia, argumentam as fontes. Com isso, foi adiada para ocorrer até 30 de junho, quando se espera que o mercado esteja melhor.

Foi nesse contexto de adiamento dos juros e sem captação que WNT, que representa 55,8% do total das debêntures em circulação, quer converter R$ 1,5 bilhão em passivos da Restoque em ações. Agora será preciso uma negociação com a empresa e com os demais detentores das debêntures, observa uma fonte.

Para efetivar essa operação, os detentores das debêntures veem a necessidade de alongamento “substancial” do prazo dos papéis, além de redução “significativa” da remuneração atual, como forma de incentivo à conversão total das debêntures em ações, segundo um documento da Restoque.

Caso essa conversão ocorra, vai ser positiva para a estrutura de capital da companhia e poderá resultar em elevação do rating corporativo, prevê a Fitch.

Insustentável

As datas das demais parcelas dos juros das debêntures de 2022 ainda estão preservadas, mas não garantidas. “Uma renegociação definitiva das condições das debêntures poderá ocorrer e, neste caso, poderá ser considerada uma troca de dívida em situação crítica”, observam os analistas da Fitch.

Com a economia crescendo menos este ano e a competição nas alturas no setor de vestuário, os desafios da Restoque para gerar caixa permanecem, mesmo com a pandemia caminhando para o fim. A Fitch espera, em seu cenário-base, que a empresa deve gerar Ebitdar ( lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização e ainda com a exclusão de despesas de arrendamento mercantil e de aluguéis) próximo a R$ 100 milhões em 2022, incompatível com o volume de dívida existente. A Restoque não divulgou ainda o balanço do quarto trimestre de 2021. Nos 12 meses até setembro, teve Ebitdar de R$ 68 milhões.

Considerando a ausência de repactuação adicional para o pagamento dos juros das debêntures, o fluxo de caixa das operações da empresa seria negativo em R$ 180 milhões em 2022, prevê a Fitch. Já o fluxo de caixa livre ficaria no vermelho em R$ 300 milhões este ano, levando à necessidade de captação de novas linhas de crédito, alerta a Fitch. “Os indicadores de alavancagem financeira da Restoque devem permanecer em patamares elevados e insustentáveis, em cenário de ausência de entrada de recursos não onerosos.” Nesse ambiente, a relação dívida líquida ajustada/Ebitdar da Restoque não deverá ficar abaixo de 19 vezes este ano.

Estadão Conteúdo

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