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Brasil

PMs atiraram 37 vezes em ação que levou a morte de suspeito em Santos

A Escudo foi desencadeada na Baixada Santista após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, da Rota, baleado no dia 27 de julho, uma quinta-feira

Redação Jornal de Brasília

11/09/2023 20h07

Secretário da Segurança Pública, Derrite, Delegado Geral, Dr. Artur Dian e Comandante Geral da PM, Coronel Cássio, participam da “Operação Escudo”, no Guarujá. Foto: Polícia Civil de SP/Twitter

PAULO EDUARDO DIAS E TULIO KRUSE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Em 22 ocorrências da Operação Escudo que terminaram com a morte de suspeitos na Baixada Santista, no litoral paulista, os policiais militares efetuaram 136 tiros. Todos os mortos eram homens, com idades entre 14 e 49 anos.

A reportagem teve acesso a 24 boletins de ocorrência referentes a 25 das 28 pessoas mortas a tiros por policiais em Guarujá e Santos, entre os dias 28 de julho e 2 de setembro. Um dos documentos refere-se a duas mortes.

A Escudo foi desencadeada na Baixada Santista após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, da Rota, baleado no dia 27 de julho, uma quinta-feira, durante um patrulhamento na Vila Zilda, em Guarujá.

No dia 5 deste mês, a operação chegou ao fim. “São 28 confrontos de infratores que infelizmente optaram por resistir às prisões e acabaram efetuando disparos contra os policiais -22 casos em Guarujá e seis em Santos”, afirmou Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública, a jornalistas em entrevista concedida nesse mesmo dia.

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que nenhuma denúncia de abuso durante a operação foi registrada. Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) declarou que os laudos do IML (Instituto Médico-Legal) foram elaborados com rigor técnico, isenção e nos termos da lei e nenhum deles apontou sinais de tortura ou incompatibilidade com os episódios relatados.

Em 22 dos boletins aos quais a reportagem teve acesso, os PMs precisaram a quantidade de tiros disparados. Em dois, apenas afirmaram ter apertado o gatilho, sem declarar a quantidade.

Dos 22 com dados especificados a respeito da quantidade de disparos, somente um caso foi registrado com apenas um tiro. Ele aconteceu por volta das 7h30 do dia 30 de julho, na rua da Paz, no morro do Macaco, em Guarujá.

Aos policiais civis, os PMs envolvidos na ocorrência disseram que utilizavam câmeras no momento do confronto -esse é o único dos 24 boletins analisados pela reportagem em que o uso do equipamento foi confirmado pelos policiais. Segundo a versão deles, um sargento ordenou ao suspeito que largasse a arma, mas, como não foi atendido, disparou um tiro de fuzil.

O morto, Rogério Andrade de Jesus, 49, estaria em posse de uma pistola, que foi apreendida.

A ocorrência com maior número de disparos, entre as 22 das quais constam informações sobre a quantidade de tiros, foi na manhã do dia 21 de agosto no morro Santa Maria, em Santos. Foram 37 tiros de fuzil e pistola por parte dos agentes públicos.

Segundo o relato dos policiais militares, eles estavam em patrulhamento quando avistaram homens armados. Assim que viram os PMs, os suspeitos teriam se escondido em uma área de mata.

De acordo com os policiais, houve perseguição e os criminosos passaram a atirar do alto de uma colina.

Os PMs teriam revidado.

Conforme o boletim de ocorrência, os indivíduos continuaram atirando e passaram a descer a colina para acessar a avenida João Belchior Marques Goulart. Nessa via estavam dois cabos da PM, ambos motoristas de carros policiais, que viram a movimentação e também atiraram.

Durante a ação, Vinicius de Souza Silva, que havia feito 20 anos no dia anterior, morreu. Ele estaria em posse de uma pistola .40 com numeração raspada. A arma, que tinha oito cápsulas intactas, foi apreendida. O boletim de ocorrência não cita quantos tiros teriam sido dados por Silva.

Por parte dos PMs, um cabo afirmou ter atirado 14 vezes com sua pistola. Um segundo policial disse que atirou cinco vezes e um terceiro, outras três, com o mesmo tipo de arma. Três policiais carregavam fuzis. Dois deles atiraram cinco vezes. Um outro declarou ter apertado o gatilho em três ocasiões.

Logo após a morte de Vinícius, moradores do morro Santa Maria protestaram contra a ação policial, alegando que houve atraso no acionamento do atendimento médico. A Santa Casa informou que o rapaz, ferido com disparos de arma de fogo, chegou sem vida ao hospital e foi encaminhado ao IML em seguida.

A comunidade fez uma barricada com pedaços de madeira e cones de plástico, que foram incendiados diante de uma equipe policial. A cena foi gravada e transmitida nas redes sociais.

Segundo a SSP, criminosos iniciaram o confronto, pondo em risco tanto a população quanto os participantes da ação.

A maior parte das 22 ocorrências teve entre 2 e 9 disparos. A segunda ocorrência em que mais tiros foram dados ocorreu por volta das 20h30, em 31 de julho, em Morrinhos, Guarujá. Foram 14 disparos e duas mortes.

Esse caso teve participação de policiais da Rota. Eles disseram que, em uma mesma situação, tiveram que revidar em dois confrontos. Dispararam quatro tiros de fuzil e dez de pistola.

Os mortos foram identificados como Maicon Souza Santa Roza, cuja profissão e idade não constam do boletim de ocorrência, e do garçom Filipe do Nascimento, 22.

Pouco após o homicídio, a família de Filipe afirmou à reportagem que ele foi assassinado, alegando que moradores viram ele entrar em um barraco da comunidade acompanhado de policiais e ouviram os disparos.

O corpo foi entregue ao IML sem identificação e reconhecido pela esposa dois dias depois. Procurada à época, a SSP disse que os policiais atuaram dentro da legalidade e que casos serão investigados.

A esposa do garçom declarou ter ouvido das filhas, de 7 e 9 anos, que Filipe estava dentro de casa por volta das 20h, quando um PM abriu a porta, perguntou se ele tinha “coisas erradas” guardadas em casa e se usava drogas. As filhas disseram que não e contaram que ele foi levado por policiais para fora de casa.

A viúva mudou de estado e voltou a morar com a família no Nordeste. Filipe morava na comunidade Morrinhos 4 com as duas filhas e com a esposa, com quem estava casado havia um ano e dois meses. Ele trabalhava em um quiosque na praia das Astúrias. Sua mulher disse que chegou a conversar com um PM no mesmo dia da morte, quando viu sua bicicleta ser jogada no mato, e deixou o Guarujá por medo de perseguição.

Conforme a SSP, todas as mortes decorrentes de intervenção policial estão em investigação pela Deic de Santos, com apoio do DHPP, e pela Polícia Militar.

A pasta ainda anunciou que a Operação Escudo resultou em 976 criminosos presos, dos quais 388 eram procurados da Justiça. Foram apreendidos 71 adolescentes infratores. No período, as forças de segurança dizem que recolheram 119 armas e 966,5 kg de entorpecentes.

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