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Brasil

‘Não devemos polarizar catástrofe do RS’, diz Luciano Hang, dono da Havan

O prejuízo da companhia está estimado em R$ 30 milhões, mas ele diz considerá-lo pequeno se comparado ao impacto de quem perdeu suas casas.

Redação Jornal de Brasília

12/05/2024 8h24

JOANA CUNHA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Luciano Hang, dono da Havan, diz ter recebido inúmeras mensagens de amigos na semana passada, depois que os jornais publicaram uma fotografia da réplica da Estátua da Liberdade, símbolo da rede, diante da cheia em Lajeado (RS).

A imagem ajudou a mostrar a dimensão da destruição que atingiu o Rio Grande do Sul, mas o empresário afirma que é difícil transmitir com precisão o que está acontecendo.

“Não foi uma enchente, foi um tsunami, uma devastação. Tudo por onde passou essa água foi derrubado. É uma coisa que não dá para descrever”, diz.

O prejuízo da companhia está estimado em R$ 30 milhões, mas ele diz considerá-lo pequeno se comparado ao impacto de quem perdeu suas casas.

Segundo o empresário, o plano de contingência da Havan inclui antecipação de décimo terceiro salário e participação nos resultados aos funcionários atingidos.
Hang, que se tornou um ícone da polarização entre Lula e Bolsonaro desde a eleição de 2018, hoje, pede pacificação diante da tragédia e diz ver esforços conjuntos de todos os governos.

“Neste momento, não devemos polarizar uma catástrofe como esta”, afirma.

A tragédia tem sido usada nas redes sociais como munição contra o governo, superando, em alguns momentos, as postagens sobre doações e Pix para ajudar as vítimas. O próprio Hang foi alvo de fake news. Nesta semana, circularam nas redes sociais a falsa informação de que a Havan teria disponibilizado mais helicópteros do que a FAB (Força Aérea Brasileira) para atuar nos esforços no estado, além de outras mentiras. A empresa tem divulgado o trabalho de dois helicópteros para atender a população.

“O governo estadual, municipal e federal estão juntos nessa. Não precisamos dividir nem comparar quem está fazendo mais, quem chegou primeiro. Isso não importa. O que importa é que todos estão querendo fazer o melhor”, afirma.

Uma das primeiras imagens da tragédia, que deu a dimensão do nível das águas, foi uma foto em que apareceu uma Estátua da Liberdade da Havan com a água muito elevada. Como foi isso?

As pessoas estão vendo na televisão e nas redes sociais o que está acontecendo, não é como vemos daqui. [Após a divulgação da foto] recebi ligações de amigos da Espanha, da Itália e tantos lugares. Foram 22 metros de água. Não foi uma enchente, foi um tsunami, uma devastação. Tudo por onde passou essa água foi derrubado. É uma coisa que não dá para descrever.

Folha – Quantas lojas a Havan tem no estado?

Temos 16 lojas no estado sendo que duas pegaram água, em Lajeado e Porto Alegre, e tem algumas com possibilidade, porque estão na foz da lagoa dos Patos. Lá embaixo, em Rio Grande e em Pelotas, nós também temos duas lojas [sob risco iminente]. Os gaúchos são nossos vizinhos. Temos cinco [pequenas centrais] hidrelétricas no estado, que também foram atingidas.

Pode estimar, em valores, o tamanho do prejuízo da Havan?

Acho que uns R$ 30 milhões.

Como estão os funcionários? Como foi o plano de contingência?

Temos 176 lojas. Perdemos pouco perto de outras pessoas que perderam tudo. Uma loja não é o foco do nosso negócio. A gente reconstrói. Daqui a 60 dias, está tudo de pé. Vamos tentar fazer rápido para ser inspiração de que acreditamos no lugar, na cidade, no estado, e acreditamos que não vai mais acontecer outra coisa dessas.

Eu vim para cá no primeiro dia. Consegui vir, mas o tempo estava ruim. E eu disse aos nossos colaboradores: ninguém vai ser deixado para trás. Como fizemos em outras lojas, a gente não vai despedir ninguém. Hoje, estamos pagando décimo terceiro, programa de participação de resultado, antecipando tudo para todas as cidades que foram atingidas. Das 16 lojas, 7 cidades deram água ou teve alguma coisa na cidade. Hoje, todos estão com três salários na conta.

Uma parte dos funcionários está desabrigada?

Teve gente que perdeu a casa e tudo o que tinha. Vamos, um por um, ver o que podemos fazer.

Circulou uma fake news de inteligência artificial falando sobre uma suposta promoção que a Havan estaria fazendo?

A Havan só fez um Troco Solidário, em que as pessoas que vão nas lojas ajudam, fazem a doação no caixa. Aliás, é uma campanha de 16 anos. Só que as pessoas estão pegando a minha imagem, usando inteligência artificial, e pedindo pix, falando de falsas promoções de liquidação. É tudo mentira. Não existe nada que a Havan esteja fazendo que não seja o Troco Solidário, que acontece pessoalmente nas nossas lojas. Não estamos fazendo nada que não seja presencial.

Eu tinha certeza de que iriam usar a minha imagem. Eu até brinquei que eu estava passando a minha imagem para os vagabundos. Quem não quer ajudar, que pegue férias neste momento e que não vá roubar aquelas pessoas que têm pouco e que querem ajudar o povo gaúcho.

Temos ouvido outros casos de fake news, como a história de que iria faltar arroz. Lembrando que as fake news surgem no contexto de polarização, você tem refletido sobre isso que estamos passando no Brasil com esse fundo da polarização?

Neste momento de caos, de catástrofe, temos que nos unir em prol do povo gaúcho e não polarizar. Eu tenho dito que o poder público está ajudando. O poder civil está ajudando, e todos ajudando pelo povo gaúcho. Neste momento, não devemos polarizar uma catástrofe como esta.

Essa é a sua avaliação política dos órgãos que estão atuando nesta emergência?

Estou voltando pela terceira vez para o Vale do Taquari. Eu vejo o Corpo de Bombeiros, a Brigada Militar, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, a sociedade civil organizada, todos ajudando. Não é hora de dividirmos o povo brasileiro. Tem que unir para resolver esse problema. Não pode haver política numa coisa como essa. Quando eu falo em governo são os três: municipal, estadual e federal. Todos os órgãos. Todos estão querendo fazer o seu melhor.

Desde o primeiro dia, os vídeos que vocês divulgaram mostravam a dificuldade de chegar aos locais atingidos. Quais são as piores dificuldades?

No primeiro momento, era a dificuldade de chegar ao Vale do Taquari pelo mal tempo. Nós saímos com as duas aeronaves, elas passaram dificuldade para subir a serra e até pelo litoral. Nossos helicópteros biturbina são helicópteros que voam com IFR [voo por instrumentos], noturno, dentro das nuvens. Por isso, chegamos rápido e bem no princípio do problema.

Como é a sua avaliação? É mudança climática que vamos continuar enfrentando nos próximos anos?

Somos PhD em enchentes. Nós moramos no Vale do Itajaí [em Santa Catarina, onde foi fundada a Havan]. Nas nossas cidades, Blumenau, Gaspar, Brusque, isso acontece quase que anualmente. A maior que eu vivi foi em 1983, e nunca mais teve uma enchente como aquela.

O que eu quero crer é que talvez eu não viva mais um momento de uma catástrofe como esta. É nisso que eu quero crer. Acho que foi uma tempestade perfeita que aconteceu, em que tudo culminou na tragédia que estamos vivendo agora. Se olharmos para trás, nunca aconteceu. E pode ser que, para a frente, também não vá acontecer.

Na época em que faltou oxigênio em Manaus na pandemia, você foi questionado se tinha de fato doado oxigênio. Você tem receio de que as suas ações, agora, sejam comparadas àquele momento?

Quem duvidou que eu tinha doado os 200 cilindros de oxigênio errou. Na realidade, eu fiz acontecer, não querendo saber quanto custariam os 200 cilindros. Foi R$ 1 milhão na época, e eu coloquei os 200 no dia seguinte. Agora, também não pensei em nada, em custo, em nada. Simplesmente, falei para os meus pilotos: vão para lá ajudar. Como também fizemos no ano passado, quando deu problema em Rio do Sul (SC) e Taió (SC). Não foi uma catástrofe tão grande, e as pessoas não souberam que os nossos helicópteros também andaram pela região ajudando a população.

Como funciona a campanha do Troco Solidário?

É uma campanha normal, tem 15 anos. A população geral e a aviação civil estão colaborando. O aeroporto de Porto Alegre está fechado, então, tem aeroportos trabalhando direto para a região. Montaram aeroclube para atender a população. O governo estadual, municipal e federal estão juntos nessa. Não precisamos dividir nem comparar quem está fazendo mais, quem chegou primeiro. Isso não importa. O que importa é que todos estão querendo fazer o melhor neste momento de caos. A Havan é uma empresa solidária, e temos a obrigação de ajudar.

RAIO-X | LUCIANO HANG, 61
O empresário fundou a Havan em 1986, em Brusque (SC), uma loja com 45 metros quadrados, que nasceu vendendo tecidos e ampliou a oferta de produtos com itens importados, eletrônicos e brinquedos. A partir dos anos 1990, consolidou o perfil de megalojas e, em 2018, se tornou conhecido politicamente ao apoiar a campanha de Bolsonaro.

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