NAIEF HADDAD
FOLHAPRESS
Um dos mais cultos jornalistas brasileiros da geração dos anos 1980, o paulistano Marco Chiaretti morreu aos 67 anos na madrugada desta quarta-feira (26). Internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, ele não resistiu a uma série de complicações de um AVC (acidente vascular cerebral) sofrido há quase dois anos.
Formado em filosofia, foi contratado pela Folha de S.Paulo em 1986 para trabalhar como editor-assistente de Educação e Ciência. Quem o convidou foi Marcelo Leite, então editor dessa área. “Considero o Marco um dos mais brilhantes jornalistas que conheci”, diz Leite, atualmente colunista do jornal.
Ele ressalta a capacidade do amigo de transitar pelas ciências naturais e humanas.
Chiaretti trabalhou no jornal até 1994, período em que atuou como editor do Folhetim e passou por cadernos como Ilustrada. “Tinha o típico temperamento sanguíneo italiano, impulsivo, explosivo às vezes, mas também muito afetivo”, diz o editor da Ilustríssima, Marcos Augusto Gonçalves, que trabalhou com ele na Ilustrada na década de 1980.
“Era muito culto e progressista, com bastante senso de humor”, lembra Gonçalves.
Nos anos seguintes, Chiaretti passou pelas revistas Veja e Superinteressante, na editora Abril, e pelo portal UOL. Foi correspondente do Jornal do Brasil em Buenos Aires e comandou a versão online do jornal O Estado de S. Paulo.
Destacou-se ainda como um dos primeiros jornalistas brasileiros a trabalhar com internet. Foi vice-presidente do portal StarMedia, em Nova York.
Nos anos 2000, voltou a colaborar com a Folha de S.Paulo, integrando a equipe de articulistas ao lado de colegas como Hélio Schwartsman. Escrevia textos de análise sobre os mais variados temas, de geopolítica a futebol, de política a literatura.
“Marco era uma personalidade forte, intensa e muito generosa. Amava livros, tinha três toneladas. Adorava aprender e tinha uma memória impressionante. Não ficava quieto. Fez muitos amigos. Era um homem bom”, conta sua irmã Daniela, também jornalista.
Eram três irmãos: Marco, o primogênito, Daniela e o engenheiro químico Flavio, o caçula. “Flavio ajudou muito o Marco”, ela lembra.
Em meio à carreira jornalística, formou-se em direito na USP. “Ele não conseguia parar de estudar”, diz a jornalista Júnia Nogueira de Sá, com quem Chiaretti foi casado. Piera é filha deles.
O jornalista teve Lorenzo e Anita, filhos do casamento com Karina Gaspar.
“Marco sempre tinha a conversa mais inteligente, culta e ao mesmo tempo engraçada em todos os círculos. Adorava uma polêmica, mas não gostava de brigar. Sua maior marca era a argumentação baseada no vastíssimo conhecimento de filosofia, história e política: era imbatível nisso”, recorda-se Júnia.
Também foi professor na faculdade Cásper Líbero, na Unesp (Universidade Estadual Paulista) e na USP (Universidade de São Paulo). Nos últimos anos, editava o site do Observatório de Imprensa. “Era um jornalista incansável, que não parava de ler e escrever”, diz a jornalista Luiza de Andrada e Silva, sua companheira nos últimos oito anos.
O velório será nesta quarta, a partir do meio-dia, e o enterro, às 17h, no cemitério Gethsêmani, no bairro do Morumbi.