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Brasil

Mineiros vivem momentos de fuga e resgate em enchentes que assolam o estado

Em Rio Doce, Governador Valadares no leste de Minas Gerais, funcionários de um supermercado são resgatados por caminhão

Marcus Eduardo Pereira

11/01/2022 9h38

O volume recorde de chuvas atinge bruscamente a população de Minas Gerais e ligou o alerta sobre a situação das barragens no estado. Desde o último sábado (8), quando o dique de uma mina transbordou em Nova Lima, região metropolitana, interditando a BR 040, moradores de uma casa na área de inundação foram removidos.

Esse tem sido o trabalho de todos os envolvidos, sejam autoridades e vítimas dos estragos causados pelos dilúvios e enchentes. Em Rio Doce, Governador Valadares no leste de Minas Gerais, funcionários de um supermercado são resgatados por caminhão.

Vídeo: enchente do Rio Doce atinge casas em Governador Valadares, Minas Gerais

O rio já subiu mais de três metros nas ultimas horas e a população ribeirinha teve de deixar suas casas. Já são mais de três mil pessoas atingidas. Na manhã desta terça-feira (11), o nível do Rio Doce estava em 4 metros, com expectativa de que chegasse a 4,5 metros até 11h.

Em entrevista à uma rádio, nesta terça, o prefeito André Merlo (PSDB), afirmou que a cidade de 300 mil habitantes terá 20% da população total atingida pela enchente do Rio Doce.  “Temos uma região com cerca de 55 mil a 60 mil atingidos, com essa cheia aí, mas elas têm os parentes na cidade. Em torno de 10 mil ficam desalojados, na casa de amigos e parentes. Em torno de cem pessoas estão desabrigadas em escolas municipais e estadual, e a gente dá toda assistência, recebem alimentação. Estamos bem preparados em relação a isso”, explicou.

O prefeito reforçou que a defesa civil municipal está preparada para atuar, uma vez que as enchentes na cidade são praticamente anuais. “Temos uma ocupação que feita durante muitos anos, como o bairro Ilha dos Araújos, que já está tomado de água, e todo ano há possibilidade de ter enchentes. Então, a gente previne com a defesa civil municipal, Estado, para não ser pego de surpresa”, contou.

Vídeo: enchente do Rio Doce atinge casas em Governador Valadares, Minas Gerais
Vídeo: enchente do Rio Doce atinge casas em Governador Valadares, Minas Gerais

Estado de Minas sofre com as chuvas

O transbordamento do ribeirão Serra Azul, em Juatuba, na região metropolitana de Belo Horizonte, deixou parte dos moradores do bairro Varginha isolados.

De acordo com eles, a situação teve início na madrugada de sábado (8). Eles reclamam não terem sido avisados pelo poder público de que o volume excedente de uma represa seria jogado no riacho.

“Não avisaram que iriam soltar a água da represa. Se tivessem avisado, daria tempo de ter tirado as coisas”, disse a artesã Arlete Ferreira de Souza.

A mulher, que mora na rua Sebastião Rios, relatou ter saído de casa assim que notou a água subir, por volta das 2h de sábado. Como a chuva não dá trégua e a água que tomou sua rua não baixa, ela afirmou não saber o tamanho de seu prejuízo.

“Moro na rua que virou um rio. Não sei o que perdi, porque não consigo entrar na casa em que moro há 20 anos”, contou em tom de indignação.

Enquanto algumas pessoas tentavam se esconder da chuva sob telhados ou embaixo de árvores, outras se arriscavam na água barrenta na tentativa de salvar bens, caso do músico Alexandre Reis, 50.

“Tirei instrumentos, televisão e videogame, algumas coisas que deram para salvar. Mas perdi camas, geladeira, máquina de lavar e sofá.”

Questionado se não tinha medo de ficar doente por não saber se água era contaminada, Reis explicou que sua iniciativa se dava devido ao medo de ter seus bens saqueados, uma vez que pessoas estranhas estavam rondando o bairro.

Enquanto os moradores do Varginha contabilizam seus prejuízos e aguardavam a água baixar para voltar para casa, a cheia no bairro Satélite era encarada como atração.

Por volta das 16h desta segunda-feira (10), cerca de 15 pessoas se perfilavam com celulares na mão capturando imagens da água barrenta que fez sumir partes de uma rua e da linha do trem.

O tratorista Renato Francisco dos Santos, 49, foi uma das pessoas que fez questão de sair de casa e levar a família para ver a novidade.

“A gente vê pelas redes sociais e televisão, e você tem que vir para ver de perto”, disse para a reportagem enquanto supervisionava sua esposa, sua irmã, seu genro e cunhado deixarem seu carro.

Um morador do bairro relatou que a última vez que viu uma grande quantidade de água foi há mais de duas décadas.

“De subir assim foi em 1997. Para baixo do pontilhão é tudo sítio. Os sitiantes estão debaixo d’água”, disse o motorista João Paulo, 36, que preferiu não dizer seu sobrenome. Através de imagens captadas por drone era possível ver a dimensão dos estragos, com casas somente com o telhado visível.

Ainda no bairro Satélite também tinha quem enxergasse a água como vilã e não como um ponto turístico.

Dono de um restaurante no entorno do pontilhão, o empresário Silval Mendes, 50, disse ter notado um prejuízo de R$ 10 mil nos últimos dias.

“Os clientes sumiram. Está tudo alagado, não tem como chegar. As pessoas não vêm para cá sem o trem passando”, explicou.

A assistência social do município está cadastrando as famílias atingidas pelos estragos. Segundo a prefeitura, as pessoas estão sendo orientadas a buscarem abrigo em casas de parentes. Quem não consegue é conduzida até a escola Padre Moacir, onde estão recebendo abrigo com água, comida e cama.

Deslizamentos preocupam

Os desastres de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, há três anos, assombram as populações locais. Rompimento de barragens, deslizamentos e enchentes assustam. Cinco pessoas da mesma família – três adultos e duas crianças – foram encontradas mortas, após o carro em que estavam ser soterrado. Com medo, moradores dizem não conseguir dormir, enquanto alertas tomam conta das redes sociais.

“Isso não é fake news. Pedimos que desocupem suas casas”, avisou Elias Diniz (PSD), prefeito de Pará de Minas, a 85 quilômetros de Belo Horizonte.

O vídeo correu pelo WhatsApp de moradores do município e outros da redondeza. O motivo do alerta, feito na noite de domingo, era o risco alto de rompimento da barragem de uma usina no município.

Rodovias interditadas

Minas já soma 112 rodovias federais e estaduais com algum tipo de bloqueio devido a ocorrências durante as chuvas. O balanço foi divulgado nesta terça-feira (11/1) pelo Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv), da Polícia Militar (PM), em conjunto com a Polícia Rodoviária Estadual (PRF).

Conforme o levantamento, até as 6h havia 82 pontos de interdição parcial, entre MGs e BRs, e 30 de interdição total nessas estradas.

A PRF destacou alguns dos locais que exigem atenção hoje. Em São Joaquim de Bicas, o km 506 da BR-381 tem duas faixas liberadas no sentido São Paulo e uma no sentido BH.

Em Brumadinho, a pista cedeu, interditando o trânsito no sentido São Paulo – Belo Horizonte no km 527 da BR-381. Assim, o fluxo de veículos em ambos os sentidos foi transferido para a pista Sul.

No km 447 da BR-262, município de Nova Serrana, a pista está cedendo. “A drenagem foi desobstruída, mas a erosão se aproximou da via”, conforme a polícia.

Na mesma rodovia, mas no km 562, em Córrego Danta, a erosão interditou todo o trecho. Não há previsão para liberação. A Polícia Rodoviária Federal também atualizou as rodovias com trânsito liberado.

Vale lembrar que, diante dos perigos de inundações, quedas de barreiras e deslizamentos de terra, as autoridades de trânsito pedem que os motoristas só utilizem as rodovias de Minas Gerais em caso de extrema necessidade.

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