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Brasil

Mês das Mulheres: conheça impactos da gravidez na adolescência

Segundo especialistas, engravidar na adolescência acaba por ceifar a fase em que explorar o mundo é como ler um novo livro de fantasias

Redação Jornal de Brasília

10/03/2021 19h11

Foto: Reprodução

Por Renata Goretti, Fernanda Bittar, Lorena Rodrigues, Maria Eduarda Cardoso (Agência UniCEUB / Jornal de Brasília)

Aos 16 anos de idade, a brasiliense Amanda engravidou de um menino (Gabriel) e conseguiu esconder de seus pais até o quarto mês de gestação. Hoje, aos 21, ela conta que se sentiu muito sozinha, naquele momento da adolescência, e não sabia lidar com aquele novo fato, o sentimento era de vergonha perante os olhares das pessoas. O pai da criança não se fazia presente, os amigos se distanciaram e os familiares reprovaram o acontecimento com julgamentos duros. 

Segundo especialistas, engravidar na adolescência acaba por ceifar a fase em que explorar o mundo é como ler um novo livro de fantasias. Nesse momento da vida, as experiências são mais marcantes, intensas e tudo parece ficar mais agitado e enérgico. Adolescentes vivem seus sentimentos à flor da pele e largar novas vivências para gerar e criar uma nova vida pode ser um caminho doloroso e um processo angustiante. 

No caso de Amanda, estar grávida não foi uma “boa experiência”. Ela se sentia sempre triste durante os nove meses em que carregou a nova vida em seu ventre, mas de forma animadora. Ela conta que foi legal ver a criança nascer, mesmo vivendo um período complicado no âmbito familiar e desabafa que a situação levou a desenvolver transtornos, como a depressão. “O meu psicológico durante a gravidez ficou muito abalado e é uma experiência que eu não guardo nenhuma recordação feliz.” Ela encontrou no filho um motivo para seguir adiante.

A mãe de Gabriel não deixou os estudos de lado e, ainda grávida, conseguiu concluir o ensino médio, mesmo com o nascimento de seu filho. Ela afirma que ficar grávida aos dezesseis não é algo que deva ser romantizado. Por isso, ela ressalta a importância da prevenção. “Uma nova vida exige responsabilidade e é um caminho que não possui volta”. Para Amanda, não poder acompanhar as amigas em festas e viagens era muito difícil e colocava à prova toda sua força para enfrentar a gravidez e hoje, sua maior prioridade é seu filho de cinco anos. 

Para especialistas entrevistados,  é essencial que adolescentes aprendam sobre educação sexual para evitar que tenham as suas vidas alteradas por causa de uma gravidez precoce. É importante que os governos e também escolas públicas e privadas invistam em programas educacionais sobre esse assunto. Um exemplo de ação do governo é a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência que ocorre anualmente, na primeira semana de fevereiro. Essa data tem o objetivo de realizar programas educativos com a finalidade de informar sobre o uso de preservativos e métodos contraceptivos, além de alertar sobre a gravidade de infecções sexualmente transmissíveis, as ISTs.  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como adolescência a fase dos 10 aos 19 anos.  Em entrevista, a médica ginecologista Bárbara Freyre, especialista em reprodução humana, alerta que ficar grávida nessa fase traz consequências físicas e psicológicas para meninas nessa faixa etária. A médica explica que os riscos físicos mais comuns acontecem por falta de assistência pré-natal e justifica que é comum que adolescentes escondam o início da gravidez por medo da reação de seus familiares. Por isso, acabam ficando sem informações importantes para o início de uma gestação, o que acarreta em subnutrição do bebê,  nascimento prematuro e necessidade prévia de parto cesárea. Sobre os riscos psicológicos, a ginecologista aponta para a ocorrência de depressão devido a culpa que essas meninas carregam por medo de possíveis julgamentos. 

“Como a mulher é historicamente construída sob uma perspectiva de cuidadora dos filhos e da casa, ao engravidar na adolescência, socialmente espera-se que ela seja responsável pela criação e manutenção dessa criança”, afirma o sociólogo e historiador Jefferson Alexandre. Além disso, o pesquisador evidencia que a falta de investimento na educação sexual é um problema de âmbito nacional tanto para regiões desfavorecidas quanto favorecidas economicamente. 

Nas instituições que já aderiram a essa educação, na maioria das vezes as informações sobre sexualidade são voltadas para o campo biológico enquanto os outros tópicos (de cunho fisiológico), são colocados de forma muito superficial. O especialista  acrescenta que a  metodologia de apenas “distribuir” a informação sem aprofundar o assunto é ineficaz e insuficiente.    “Os adolescentes precisam de um mediador e um bom acesso à informação para compreenderem a importância do assunto”. 

 “A sociedade tem medo de falar de sexo, pois acredita que isso influenciará a criança a começar uma vida sexual”.  

O sociólogo  afirma que a juventude pobre é, sem sombra de dúvida, muito mais desfavorecida em situações desse gênero, porque acabam não tendo o amparo e a informação necessária pela escola e pela família. Para ele, o Estado, ao dificultar a mediação que deveria ser dada no ambiente escolar, acaba deixando como obrigação das famílias fazer esse papel. “Mas  muitas não possuem  condições necessárias para assumir tal obrigação. Quando a escola se abstém de falar dessas questões, a criança ou o adolescente vai procurar essa informação em outro lugar. É onde mora o perigo, pois muitos acabam se baseando e tendo acesso constante ao conteúdo pornográfico”, destaca. 

Segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), os dados revelam que o número de partos de mães adolescentes (entre 10 e 19 anos) passaram de 9.421 (no ano de 2.000) para 5.266 (em 2016). O número é do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC). Em 2018, a porcentagem de partos de mães adolescentes no Distrito Federal ficou em 10%, que é o menor índice do país.

Impacto no trabalho após gravidez

A gravidez precoce na maioria das vezes afeta consideravelmente o destino da carreira profissional dessas jovens. “Além dessas meninas serem taxadas como desleixadas, são vistas como incapazes de realizar qualquer papel além do materno” afirma o sociólogo. É perceptível que a trajetória do pai quase sempre não sofre modificações com a gestação precoce, porque desde cedo a ideia de criação e responsabilidade familiar é ligada automaticamente com a figura feminina.   

             “Socialmente, não é visto como normal um homem assumir e cuidar de uma criança, então enquanto a mulher é mal vista pela gravidez precoce, o adolescente que assume as responsabilidades como pai é admirado”.

Legislação

A lei n° 13.798/19 sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, tem como objetivo instituir a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência anualmente durante a semana que inclui o dia 1° de fevereiro. O novo plano tem como finalidade divulgar informações sobre medidas preventivas e educativas a fim de contribuir para redução do número de gestações na adolescência . “Esta é uma medida importantíssima, uma vez que a gravidez na adolescência envolve muito mais do que problemas físicos, mas também problemas emocionais e sociais”, afirma a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

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