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Brasil

Mais atenção a sinais de alerta pode prevenir ataques a escolas, diz especialista

Jovens autores de ataques a escolas em geral deixam pistas do que pretendem fazer antes de concretizarem seus planos

FolhaPress

14/04/2023 18h49

Foto: Reprodução

Fernanda Mena

Toulouse, França

Jovens autores de ataques a escolas em geral deixam pistas do que pretendem fazer antes de concretizarem seus planos, alerta o psicólogo norte-americano Peter Langman, autor de três livros sobre crianças e adolescentes que cometeram -ou tentaram cometer- o tipo de crime que tem assombrado estudantes, pais e educadores no Brasil.

Esses sinais, diz, não têm nada a ver com o estilo de roupas que esses jovens vestem, o videogame que jogam ou suas preferências musicais. Tampouco estão diretamente relacionados a questões demográficas, como sugere o senso comum ou mesmo a produção de dados estatísticos sobre esses eventos.

Um estudo publicado no ano passado nos EUA apontou que 95% dos autores de ataques a escolas no país são homens, 61% deles, brancos, e que sua idade média é de 15 anos. No mesmo dia em que um adolescente matou com uma faca uma professora em sua escola na Vila Sônia, em São Paulo, uma pessoa de 28 anos invadiu sua antiga escola em Nashville, nos EUA, e abateu a tiros três crianças de 9 anos e três professoras.

Langman argumenta que, ainda que não exista um perfil pré-determinado desses criminosos, existem sinais de alerta que precisam ser mais bem decodificados para possibilitar a prevenção de novos ataques.
O mais elementar deles é a ameaça direta, que muitas vezes é desacreditada e descartada, sem comunicação às autoridades. Em seu livro “Warning Signs: Identifying School Shooters Before They Strike” (Sinais de Alerta: Como identificar atiradores de escolas antes do ataque, em tradução livre do inglês), publicado nos EUA em 2021, Langman elenca ações de preparação (estocagem de armas, plantas do edifício escolar e anotações relacionadas a ele) e outros indícios menos evidentes.

“Sinais de advertência incluem o que é chamado de ‘vazamento’, quando os estudantes divulgam suas intenções e falam sobre seus planos de ataque indiretamente”, explica ele à reportagem. Segundo Langman, que já deu palestra sobre o tema para agentes do FBI, isso pode ocorrer na forma de anúncios dos ataques a amigos ou em redes sociais.

“Eles podem se gabar sobre o que pretendem fazer, convidar alguém para a ação planejada ou ainda advertir amigos para que fiquem longe da escola em determinada data para não se machucarem”, descreve. “Estes sinais precisam ser comunicados à escola e às autoridades de segurança pública.”

Para o psicólogo, outro sinal são comentários favoráveis ou positivos em relação a ataques ocorridos e noticiados. A manifestação pública de que esses atos seriam “aceitáveis”, “admiráveis” ou mesmo considerados como “necessários” deve ser considerada como um alerta, segundo o especialista.

Langman diz que, embora as redes sociais possam contribuir para o chamado efeito contágio, em que a informação sobre um ataque pode atuar como gatilho para outros jovens deflagrarem planos similares, elas também ajudaram a evitar a concretização desses atos. “Ataques foram evitados porque as pessoas viram postagens sobre pessoas que pretendiam cometer esses crimes e alertaram as autoridades, que foram capazes de intervir antes que o ataque ocorresse”, relata.

O psicólogo, que hoje faz parte do conselho da Associação Nacional de Intervenção Comportamental e Avaliação de Ameaças dos EUA, trabalhava num hospital psiquiátrico para crianças e jovens no estado da Pensilvânia (EUA) em 1999 quando ocorreu o massacre de Columbine, que matou 15 pessoas.

“Dez dias após esse incidente, um atirador de escola em potencial foi internado no hospital e fui eu quem fez uma avaliação psicológica dele”, lembra. “Depois, chegou outro atirador em potencial, e outro. E esse se tornou objeto da minha pesquisa.”

Em seu primeiro livro sobre o tema, de 2009, Langman estudou a história e o perfil psicológico de vários jovens que atacaram escolas e identificou três perfis recorrentes: o traumatizado, o psicopata e o psicótico.

De acordo com essa tipologia, atiradores traumatizados são aqueles que cresceram em famílias disfuncionais, caracterizadas por abusos de drogas e álcool pelos pais, violência doméstica, abuso físico ou sexual e negligência.

Atiradores psicóticos sofrem de transtornos de personalidade ou de esquizofrenia e apresentam sintomas como alucinações, delírios, desorganização mental e comportamental, com crenças e hábitos considerados excêntricos.

Já os atiradores psicopatas têm perfil narcisista e autorreferente, não manifestam empatia pelo próximo e, por vezes, são sádicos.

“É importante reconhecer que a maioria das pessoas nestas três categorias nunca vai matar ninguém. E que a tipologia é crucial para entendermos os perpetradores, mas que por si só ela não é responsável por seus ataques”, pondera. Para Langman, muitos outros fatores podem contribuir para que esses jovens se tornem violentos.

O QUE FAZER EM CASO DE AMEAÇA DE ATAQUE A ESCOLAS

Especialistas afirmam que ameaças não devem ser ignoradas. Por isso, é importante que os pais e escolas procurem a Polícia Civil e canais criados pelo Ministério da Justiça para denunciar qualquer tipo de ameaça

Não compartilhe mensagens, vídeos, fotos ou áudios com as ameaças

As autoridades precisam ser notificadas sobre qualquer tipo de ameaça, pois quem as produz ou compartilha também pode responder criminalmente

Pais, alunos e escolas devem manter diálogo estreito sobre alertas, receios e medidas adotadas. A transparência das ações é importante para aumentar a sensação de segurança

Fique atento e informe ao colégio qualquer mudança no comportamento dos alunos

COMO DENUNCIAR

Como parte da Operação Escola Segura, o Ministério da Justiça lançou um canal no site para que sejam denunciados sites, blogs e publicações nas redes sociais. O site para denúncia é o www.mj.gov.br/escolasegura

Em São Paulo, no caso de ameaça, é possível ligar para o 181, canal da polícia que permite que qualquer pessoa forneça à polícia informações sobre delitos e formas de violência, com garantia de anonimato

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