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Brasil

Greve de servidores da Funai tem protestos em 40 das 47 unidades

Xavier afirmou que os dois deveriam ter pedido autorização do governo para entrar na Terra Indígena Vale do Javari

FolhaPress

23/06/2022 17h19

Foto: Mário Vilela / Funai /Divulgação

Thaísa Oliveira
Brasília, DF

Servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) fizeram protestos em 40 das 47 unidades nesta quinta-feira (23) durante a greve nacional da categoria.

O grupo pede a saída de Marcelo Xavier da presidência da fundação, uma profunda investigação da morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips e o reforço da segurança no Vale do Javari (AM), onde os dois foram assassinados.

“Os servidores que estão lá [no Vale Javari] estão sozinhos, numa situação de muita vulnerabilidade física e psicológica. A gente quer uma força-tarefa da Funai para atuar na região fortalecendo os servidores que estão nas coordenações regionais”, afirma Luana Almeida, da INA (Indigenistas Associados).

Na segunda-feira (20), servidores da Funai pediram uma reunião com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres –a quem a Funai está subordinada. Segundo eles, não houve resposta.

O ministério e a Funai foram procurados pela reportagem nesta quinta, mas não se manifestaram até a publicação deste texto.

A mobilização foi aprovada na sexta-feira (17) durante uma plenária virtual que reuniu cerca de 200 servidores. A última paralisação da categoria foi em 2012, durante a greve geral dos servidores públicos federais.

“O Bruno morreu sendo servidor da Funai. Enquanto ele era assassinado, esquartejado, carbonizado e enterrado em cova rasa, o presidente da Funai, que tinha responsabilidade para com o Bruno enquanto servidor, foi à rede nacional difamá-lo, contar mentiras sobre ele”, afirma o servidor da Funai e amigo de Bruno Guilherme Martins.

Os dois trabalharam juntos na sede da Funai, em Brasília, quando Bruno assumiu a Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato. O indigenista pediu licença não remunerada da fundação após ter sido exonerado do cargo, em 2019, e passou a colaborar com a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

A declaração do presidente da Funai que revoltou a categoria ocorreu em 8 de junho em entrevista à “Voz do Brasil” –noticiário oficial do governo– e em nota oficial publicada no site da Funai no dia 10 de junho, quando Bruno e Dom já estavam desaparecidos há cinco dias.

Xavier afirmou que os dois deveriam ter pedido autorização do governo para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. A Univaja contestou a afirmação e ressaltou que as atividades tinham autorização da Coordenação Regional da Funai. A associação pediu para que Marcelo Xavier se retratasse publicamente, o que não ocorreu.

Um dossiê de 172 páginas produzido pela INA e pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) aponta que, sob o governo Bolsonaro, a Funai tem implementado uma política anti-indigenista, marcada pela não demarcação de territórios, perseguição a servidores e lideranças indígenas, militarização de cargos estratégicos e esvaziamento de quadros da entidade.

No dia 7, quando o indigenista e o jornalista ainda estavam desaparecidos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que os dois estavam em uma “aventura não recomendada”. No dia 16, após a confissão do crime por um dos suspeitos, Bolsonaro desejou sentimentos e confortos aos familiares.

Integrantes do MPF (Ministério Público Federal) afirmaram à reportagem que uma das hipóteses investigadas é de que os pescadores ilegais envolvidos no assassinato sejam financiados ou armados por alguma organização criminosa com atuação na região.

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