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Brasil

Família de Drummond diz que é ‘verdadeiro deboche’ Daniel Silveira ganhar medalha

Homenagem da Biblioteca Nacional é historicamente concedida a acadêmicos; o poeta foi agraciado em 1985

FolhaPress

01/07/2022 15h53

O deputado Daniel Silveira durante evento chamado pelo governo de “ato cívico pela liberdade de expressão”, no Palácio do Planalto, em Brasília – Antonio Molina – 27.abr.2022/Folhapress

MÔNICA BERGAMO

A família do escritor Carlos Drummond de Andrade diz, em uma carta divulgada nesta sexta-feira (1º), que é um “verdadeiro deboche” a entrega da Medalha Biblioteca Nacional -Ordem do Mérito do Livro, da Biblioteca Nacional, ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).

A homenagem é historicamente concedida a a utoridades e intelectuais que contribuem para o universo da literatura -entre eles está Drummond, que recebeu a honraria em 1985.

“Diante desse verdadeiro deboche, a família de Carlos Drummond de Andrade vem a público lembrar que o poeta recebeu a homenagem quando a Biblioteca Nacional era dirigida pela escritora Maria Alice Barroso, nome respeitável que honrou e engrandeceu a Casa”, diz o texto.

A família do poeta diz que, quando ele recebeu a honraria, “o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação.”

Quando Drummond foi agraciado com a medalha, a então diretora da Biblioteca Nacional, Maria Alice Barroso, celebrou a Assembleia Constituinte e as forças democráticas que se mobilizaram para que o país tivesse eleições diretas.

O trabalho dos ministérios da Cultura, da Educação e da Ciência e Tecnologia também foi exaltado em seu discurso, registrado e preservado pela instituição.

“Vejo na preservação de nossa cultura letrada, de nossas artes plásticas, de nossa literatura de cordel, no estímulo à manutenção das nossas tradições populares, na chamada cultura popular que está indissoluvelmente ligada à cultura erudita a ponto de não haver áreas estanques, vejo na tecnologia hoje existente a melhor forma de preservar, estimulando, a impedir o seu desaparecimento”, disse Maria Alice Barroso em 1985.

O homenageado de 2022 Daniel Silveira foi condenado, em abril deste ano, pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 8 anos e 9 meses de prisão, em regime inicial fechado, por ataques aos ministros da corte.

Um dia depois, no entanto, recebeu um indulto do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O parlamentar confirmou à coluna que receberia a homenagem da Biblioteca Nacional. “É uma honraria muito grande porque é em homenagem aos 200 anos da É uma coisa que vale muito a pena”, disse Silveira à coluna na quinta-feira (30). “Para mim é muito honroso ter o reconhecimento de lá”, afirmou.

Neste ano, a honraria será entregue a 200 personalidades por ocasião do Bicentenário da Independência. Procurada, a Biblioteca Nacional não compartilhou a lista com todos os homenageados, mas disse que os nomes foram escolhidos pelo presidente da instituição, Luiz Carlos Ramiro Júnior, e pelo secretário Especial da Cultura, Hélio Ferraz de Oliveira.

Criada há 212 anos, a Biblioteca Nacional é a mais antiga instituição cultural brasileira. O cientista social Luiz Carlos Ramiro Júnior assumiu a presidência em março, um mês após a saída do monarquista Rafael Nogueira, que foi para a Secretaria Especial da Cultura.

Leia, a seguir, a íntegra da carta da família de Drummond:

“Em 1985, o escritor Carlos Drummond de Andrade recebeu a Medalha Biblioteca Nacional -Ordem do Mérito do Livro, concedida a intelectuais e autoridades que se distinguiam pelo trabalho em favor da cultura, do conhecimento e do saber. Agora, noticia-se que a comenda será entregue ao deputado Daniel Silveira, condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal por ataques à democracia e a instituições que a legitimam. Diante desse verdadeiro deboche, a família de Carlos Drummond de Andrade vem a público lembrar que o poeta recebeu a homenagem quando a Biblioteca Nacional era dirigida pela escritora Maria Alice Barroso, nome respeitável que honrou e engrandeceu a Casa que também já teve, como diretores, intelectuais do porte de Josué Montello e Affonso Romano de Sant’Anna. Época em que o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação.”

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