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Brasil

Estoques baixos atrasam início da vacinação para crianças no País

Algumas cidades começaram a vacinar as crianças mesmo sem imunizantes suficientes

Redação Jornal de Brasília

19/07/2022 6h34

Crianças de 6 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias são um dos principais públicos-alvo das duas campanhas | Foto Tony Winston/Agência Saúde DF

Por conta dos baixos estoques da vacina Coronavac, estados e municípios atrasam o início da imunização de crianças de 3 e 4 anos contra covid-19. Isso faz com que a aplicação ocorra de forma desigual no País. Enquanto Rio, Salvador e Manaus avançam, pois ainda têm vacinas em estoque, outras capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre não têm cronograma definido. Algumas cidades começaram a vacinar as crianças mesmo sem imunizantes suficientes.

Em São Paulo, o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, afirma que as vacinas disponíveis estão comprometidas com as pessoas que não completaram o ciclo de vacinação nos municípios. “São Paulo não tem e nunca teve estoque. O estado faz a distribuição para os municípios onde as vacinas estão relacionadas aos faltosos de segunda, terça e quarta doses”, disse ao Estadão.

Nesse cenário, o estado aguarda as negociações entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, responsável por fabricar a Coronavac, para receber mais vacinas. Nas contas da pasta, são necessárias 2,2 milhões vacinas para a primeira e a segunda doses. Só na capital são cerca de 310 mil crianças nesta faixa etária, de acordo com a prefeitura. “O cronograma passa a existir quando existirem as tratativas do Ministério da Saúde e do Butantan para a chegada dos imunizantes”, conclui o secretário estadual.

A vacinação desta faixa etária começou de acordo com recomendação do Ministério da Saúde e a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgadas na semana passada. A pasta afirma que “segue em tratativas para aquisição de novas doses” e que a “decisão será formalizada em nota técnica aos estados, bem como o cronograma de entrega de doses adicionais”. O órgão afirma ainda que a “nota técnica deve sair nos próximos dias”.

A formulação é a mesma da que é aplicada no Brasil em crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos e adultos acima de 18 anos. A Coronavac deve ser administrada em duas doses, com 28 dias de intervalo, o que já acontece em outras faixas etárias.

O Instituto Butantan, responsável por fabricar a Coronavac, afirma que só vai se pronunciar sobre a produção ou importação de doses depois que o Ministério de Saúde incluir o imunizante no Programa Nacional de Imunizantes (PNI) e definir as quantidades necessárias. A imunização de crianças de 5 anos já havia sido autorizada pelos órgãos com a vacina pediátrica da Pfizer.

Nesse contexto de incerteza, algumas cidades iniciaram a vacinação mesmo sem a quantidade suficiente de vacinas. Das sete capitais já iniciaram a aplicação: Salvador (BA), Fortaleza (CE), São Luís (MA), Boa Vista (RR), Belém (PA), Manaus (AM) e Rio de Janeiro (RJ), pelo menos três informaram quantidades apenas para o início da imunização (Fortaleza, São Luís e Belém).

O estado de Pernambuco criou uma regra particular e começou a vacinar apenas crianças de quatro anos. “A decisão de iniciar a imunização das crianças com quatro anos visa garantir a aplicação das duas doses desse público, diante do baixo quantitativo de estoque e a incerteza quanto à expectativa de envio de novos quantitativos pelo Ministério da Saúde”, informou a secretaria de Saúde.

Nos 216 municípios maranhenses vivem 120 mil crianças entre 3 e 4 anos, mas o estado tem 19 mil doses em estoque, como explica Tiago Fernandes, secretário de Saúde. É menos de 10% do necessário. “Assim que recebermos as novas doses do Ministério da Saúde, vamos criar estratégias para a vacinação em escolas e creches””, diz Fernandez.

O cenário é semelhante no Ceará. A Secretaria da Saúde (Sesa) informa que 262.214 crianças estão podem ser vacinadas . A reserva técnica é de 64 mil doses, quantidade suficiente para proteger apenas 12% do público-alvo (considerando-se a necessidade de duas doses). Os municípios também têm seus estoques, não contabilizados nesses 64 mil doses, e podem fazer sua própria estratégia de vacinação.

Carlos Lula, ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), alerta para a queda do ritmo de vacinação infantil. “Nosso ritmo de vacinação é muito menor no público infantil do que nas outras faixas etárias. O Brasil só vacinou 39% das crianças de 5 a 11 anos (com duas doses)”, argumenta.

Especialistas afirmam que a vacinação das crianças é particularmente importante diante do aumento de casos. Dados do Instituto Butantan mostram que 15% das internações ocasionadas por covid-19 são de menores de 5 anos no País. Além disso, a média de óbitos nesta população é de duas mortes por dia, o que torna o grupo o mais vulnerável à doença neste momento.

“O surgimento de novas variantes atingiu as faixas etárias mais baixas e mostrou a necessidade de incluir as crianças no Plano de Imunização para protegê-las, diminuir a circulação viral e o surgimento de novas cepas”, afirma Marcos Gadelha, secretário da Saúde do Ceará.

O Ministério da Saúde recomendou na sexta-feira, 15, que estados e municípios apliquem a vacina Coronavac para crianças de 3 a 5 anos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia aprovado a aplicação na quarta-feira, dois dias antes. O Instituto Butantan pleiteava a liberação do imunizante em crianças a partir dos 3 anos desde janeiro.

A eficácia da vacina em crianças de 3 a 5 anos foi comprovada por estudos clínicos controlados e por dados epidemiológicos do mundo real. No Chile, uma pesquisa publicada na revista científica Nature, feita com 500 mil crianças, mostrou que o imunizante forneceu proteção de 69% contra internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 64,6% contra hospitalização por covid-19.

Estadão Conteúdo

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