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Brasil

Em Embu das Artes (SP), burocracia desestimula vacinação contra a Covid

Influenciadora Alessandra Vespa, 31, foi uma das moradoras da cidade que penou com a burocracia

Redação Jornal de Brasília

19/07/2021 14h48

Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP

Wesley Faraó Klimpel
FolhaPress

Em Embu das Artes, na Grande São Paulo, moradores estão deixando de se imunizar contra a Covid-19 ou adiando a vacinação por causa do excesso de burocracia. Um dos grandes impeditivos é a exigência de firma reconhecida em cartório para quem não tem um comprovante de residência registrado em seu nome.

A influenciadora Alessandra Vespa, 31, foi uma das moradoras da cidade que penou com a burocracia. Vivendo na cidade há dois anos, ela se cadastrou no site e agendou sua vacina para a última sexta-feira (16).

Quando chegou ao Estádio Municipal Hermínio Espósito, descobriu que não era o suficiente levar seu RG e o do marido, um comprovante de residência no nome dele, um certificado de entrega dos Correios, em seu nome, e a declaração de união estável.

Para comprovar que ela vive em Embu das Artes, exigiram uma declaração de residência com firma reconhecida em cartório. “Fui a um cartório e, chegando lá, falaram que tinha que ser em outro. E aí sim consegui fazer o documento”, diz.

O trâmite burocrático levou uma hora, fez com que ela perdesse o horário marcado no posto e deu início ao desafio de reagendar no aplicativo. No fim das contas, ela cancelou o compromisso de sexta e reservou um novo, para o próximo sábado (24).

“A impressão que eu tive, quando fui ao cartório, é que esse papel vale mais do que a minha palavra. Vale a minha vida, por causa da vacina”, diz Vespa, que pretende ir à ouvidoria da prefeitura para registrar suas dificuldades.

A influenciadora compartilhou a sua história nas redes sociais e recebeu dezenas de depoimentos semelhantes. “Eu vi que muitas outras pessoas estavam passando pela mesma situação, algumas voltaram, algumas fizeram barraco e conseguiram, mas outras não retornaram.”

Vespa conta que recebeu relatos de pessoas com mais de 60 anos que ainda não conseguiram se vacinar, como o pai de uma amiga que teve problema com a documentação e não voltou para receber o imunizante.

Atualmente, a gestão Ney Santos (Republicanos) está aplicando a vacina em quem tem 30 anos, em quatro postos.

De acordo com os dados do Governo de São Paulo, Embu das Artes aplicou 115.239 primeiras doses de vacina, o que representa 41,7% de sua população, de 276.535 pessoas. Assim, a cidade fica em 605ª posição no ranking de municípios paulistas, num total de 645.

“O problema não é o meu caso, porque eu fui atrás, tenho tempo e dinheiro. Mas tem gente que tem que pedir licença no trabalho, tem o dinheiro contado para a passagem”, diz Vespa.

Para a influenciadora, a burocracia fomenta o machismo, já que em muitas famílias as contas de casa estão no nome do marido, o que facilita a imunização deles. “Uma seguidora teve que pegar o comprovante de que os filhos nasceram e estudam em Embu das Artes, foto do RG deles, para poder se vacinar. É uma burocracia que não está olhando para as mulheres.”

Há também moradores da cidade que a procuraram e disseram que foram impedidos de se imunizar mesmo com laudo médico comprovando comorbidade.

A justificativa, segundo um dos relatos, é que o documento teria que ser da UBS de referência. Para conseguir o papel, a pessoa teria que esperar 15 dias para tentar marcar uma consulta.

Profissionais da saúde também contataram Vespa e falaram que não puderam se vacinar no período liberado para essa categoria, mesmo levando diploma e crachá de hospital.

A Prefeitura de Embu das Artes afirmou, por email, que são aceitos extrato de banco, holerite, contrato de locação, declaração com firma reconhecida e cartões de lojas de departamento. “Só não são aceitos documentos que não apresentem data referência ou ainda aqueles que efetivamente não comprovem a residência em Embu das Artes.”

De acordo com a gestão Ney Santos, se os documentos estiverem no nome do cônjuge, é necessário apresentar a certidão de casamento ou de união estável. A prefeitura afirma também que disponibiliza uma equipe da atenção básica para visitar a casa da pessoa para atualizar os dados do Ministério da Saúde e aplicar o imunizante.

A prefeitura justifica a exigência do comprovante de residência para evitar que moradores de outras cidades se dirijam a Embu das Artes, já que a “distribuição feita pelo Ministério da Saúde e pelo governo do Estado de SP leva em conta a população elegível a ser imunizada de cada município”.

AS informações são da FolhaPress

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