Geovanna Bispo
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB
O período de isolamento social por causa da pandemia do coronavírus é um desafio para a saúde mental de cada um de nós. Diante dessa situação, a exposição a um sem-número de informações sobre contagens de mortos e de infectados, além de riscos pelo mundo podem gerar transtornos de toda ordem. Para a professora de psicologia Tânia Inessa, informações descontextualizadas e em excesso juntamente com a enorme quantidade de notícias falsas podem agravar a tensão. “O excesso de informações é angustiante, perturbador. Não dá tempo de elaborar, de se posicionar. Quando vemos as fake news (notícias falsas), que passam informações incorretas e prometem tratamentos mentirosos, chegam a ser criminosas. Trazem sofrimento para um momento que já é muito difícil”, esclarece.
“É preciso eleger canais de informação e restringir quanto tempo se passa vendo essas informações, por que se não se torna um espiral de angústias”, afirma Tânia Inessa. A professora tem experiência no atendimento de diferentes transtornos e, na vida acadêmica, coordena um projeto de extensão multidisciplinar no UniCEUB, denominado Prisme, de atendimento em unidades do Centro de Atenção Psicossocial no Distrito Federal. Por causa da pandemia, as ações foram interrrompidas e a equipe de alunos voluntários, juntamente com os professores, desenvolvem um material sobre saúde mental para a situação de confinamento.
Em meio a notícias alarmantes sobre o avanço do coronavírus e o repentino isolamento social, a psicóloga Bruna Christina alerta para as consequências à saúde mental que o excesso de informação pode trazer. “Nesse cenário, surgem sentimentos de impotência, desesperança, ansiedade, tristeza, entre outros”. A profissional acrescenta que pode haver relação direta entre a fragilidade da saúde mental com o sistema imunológico. “A saúde mental é um ponto a ser olhado com cuidado e atenção, visto que afeta também o estado imunológico. Há um ramo na ciência chamado psiconeuroimunologia, que diz respeito ao funcionamento cerebral, sistema imunológico e comportamento. Uma pessoa pode, por exemplo, ter diminuída a eficiência do sistema imunológico justamente como resposta a estressores psicossociais e aumentar a probabilidade de adquirir uma enfermidade.”
Perda e luto
A professora de psicologia Thaís Bolognini, especialista em luto e perdas, afirma que esses sentimentos são presentes em tempos como o atual. “Outro fator crescente neste contexto é a sensação de perda, seja do cotidiano, do convívio, do trabalho, da renda e o próprio luto por entes queridos acometidos pelo vírus”. A psicóloga explica que o luto não é somente sobre perdas de pessoas queridas, mas também sobre coisas pessoais. “É normal associar o luto somente ao falecimento de um ente querido. Mas o luto é, principalmente, a perda de uma perspectiva da vida, que pode ser uma ideia, um sonho ou até uma fantasia imaginária.”
Resiliência
Para Eduardo Legal, professor de psicologia e especialista em resiliência, é necessário encontrar formas de lidar com o isolamento e o futuro incerto. “Ter conhecimento sobre as suas capacidades, procurar respostas diferentes quando aquelas que damos não funcionam, paciência para ver ângulos diferentes nas situações, pensar não apenas em ganhos imediatos, mas a longo prazo, procurar a ajuda de familiares e amigos, manter boas relações com o mundo, são formas que auxiliam a buscar respostas mais eficientes diante do caos”. Ele explica que, para a psicologia, a resiliência é a capacidade da pessoa lidar com alguma adversidade, adaptar-se a mudanças e superar obstáculos.
Como lidar
“A arte pode ajudar a lidar com emoções de angústia, ansiedade, medo, preocupações”, explica a psicóloga especializada em arteterapia, Marina Benedet. “Quando nós temos essas situações difíceis de lidar e que, muitas vezes, não conseguimos falar sobre, a arte é um caminho para nos expressar e demonstrar. Seja o produzir ou ver a arte, são formas sim de resolução dessas emoções que a gente está sentindo, porque conseguimos colocar na arte essa emoção que estamos passando e que não conseguimos expressar”, salienta a psicóloga.
Além da arte, todos os especialistas entrevistados enfatizaram a importância de se manter uma rotina, uma dieta balanceada, fazer atividades físicas e ter um sono regulado. “Envolva-se com atividades saudáveis e aproveite para relaxar. O exercício constante, o sono regular e uma dieta balanceada ajudam. Mantenha tudo em perspectiva. É preciso manter rotinas e tarefas regulares sempre que possível e criar novas num ambiente diferente”, recomenda a psicóloga Thaís Bolognini.
A profissional ainda traz dicas para trabalhadores que estão em home office se manterem saudáveis e relaxados. “Para os que estão trabalhando de casa, é necessário tentar utilizar métodos para lidar com a situação como fazer pausas e descansar entre os seus turnos de trabalho em casa e até mesmo tirar um momento dentro do expediente.”