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Brasil

Descer de tirolesa do Pão de Açúcar, uma aventura vertiginosa e polêmica

A empresa encarregada do projeto, a Parque Bondinho, afirma que a experiência será única e ambientalmente sustentável

Redação Jornal de Brasília

27/03/2023 16h28

Foto: AFP

Deslizar por um cabo de 755 metros a uma velocidade de até 100 km/h entre o Pão de Açúcar e o Morro da Urca, na zona sul do Rio de Janeiro, poderia atrair amantes de adrenalina a uma das paisagens mais icônicas do planeta. Não se depender de Gricel Osorio Hor-Meyll.

Esta psicóloga se uniu a dezenas de manifestantes neste domingo (27) em um protesto contra o projeto, ainda em construção, que consideram um dano para a conservação ambiental e a imagem da “Cidade Maravilhosa”.

“Não está correto e prejudica a cidade”, disse Gricel à AFP, “porque vai descaracterizar” esta paisagem de montanha e mar declarada Patrimônio Mundial pela Unesco em 2012, junto a outros símbolos cariocas como o Cristo Redentor, no morro do Corcovado.

A empresa encarregada do projeto, a Parque Bondinho, afirma que a experiência será única e ambientalmente sustentável.

Prevista para o segundo semestre do ano, a atração convidará os visitantes a descerem por quatro linhas de tirolesa que ligarão o morro do Pão de Açúcar, a 396 metros sobre o nível do mar, e o vizinho Morro da Urca, com 220 metros. A distância entre os dois é de 755 metros e a velocidade máxima 100 km/h.

Os manifestantes reclamam que os novos cabos afetarão a paisagem do cartão postal carioca e indicam possíveis efeitos na flora e fauna local, já afetados, dizem, por sobrevoos de helicópteros turísticos e festas noturnas.

Também lamentam as perfurações – feitas para sustentar os cabos – nas rochas destes monumentos nacionais protegidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“Não e só pedra, tem vida”, afirma Gricel, que deixou o montanhismo há quinze anos e atualmente é membro da ONG Grupo Ação Ecológica e do Movimento Pão de Açúcar sem tirolesa.

A Parque Bondinho administra há mais de um século o “bondinho” que une os dois morros, uma das mais belas paisagens do Rio de Janeiro.

Segundo a empresa, o impacto visual será limitado porque os cabos das tirolesas têm uma espessura menor que a do teleférico e vibram menos. Também afirmou que obteve todas as permissões necessárias após realizar consultas com associações civis e atender aos requisitos das autoridades.

Boate na montanha

Reunidos na base do morro, manifestantes exibiram cartazes que diziam “SOS Unesco” e “Fora tirolesas”. Uma petição na internet para paralisar as obras já tem mais de 11.000 assinaturas.

Os manifestantes denunciaram a ausência de uma discussão ampla. Porém, afirmaram que “as tirolesas são a ponta de um gigantesco iceberg”, segundo um comunicado do grupo.

Eles indicaram, também, um projeto ainda maior, em avaliação pelas autoridades, que inclui outras atrações, lojas, sala de espetáculos e uma boate no topo das duas montanhas, que recebem 1,6 milhão de visitantes ao ano.

“É uma coisa horrorosa e e medonha. Acaba com o topo da montanha”, disse Regina Costa de Paula, artista plástica de 67 anos.

Para Hans Rauschmayer, um empresário alemão de 57 anos que vive na cidade, a empresa “usa o Pão de Açúcar como se fosse sua propriedade”.

“Mas, na verdade, é um patrimônio do Rio, do Brasil e do mundo”, afirmou à AFP.

© Agence France-Presse

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