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Brasil

Capela católica sofre vandalismo e pichação com frases terraplanistas no interior de SP

Polícia Civil abriu inquérito para investigar os crimes de pichação, dano e ultraje a culto em igreja de Araras

Redação Jornal de Brasília

03/05/2023 12h15

Uma capela dedicada à Nossa Senhora da Piedade foi invadida, vandalizada e pichada com frases terraplanistas, na zona rural de Araras, no interior de São Paulo. Nas paredes do templo católico, que faz parte da paróquia de São Benedito, foram escritas frases como “A Terra é plana, não um globo” e “Detalhe importante, a Bíblia também diz que a Terra é plana”. A capela integra o patrimônio histórico municipal. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar os crimes de pichação, dano e ultraje a culto.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP), uma ou mais pessoas usaram um maçarico para romper a fechadura da porta e invadir a capela, no último sábado, 29. As imagens de santos católicos que estavam nos nichos foram jogadas ao chão e tiveram partes quebradas. Praticamente todas as paredes da construção foram pichadas. Conforme a Polícia Civil, todas as frases seguem um mesmo padrão, o que pode indicar que uma só pessoa produziu as pichações.

O “terraplanista” escreveu ainda que “A Terra é um círculo plano com uma cúpula acima” e que “O Homem jamais foi à Lua”, e ainda: “As agências espaciais apenas mentem”. Em outro local, ele zomba das imagens representando santos da fé católica. “Essas imagens não tiveram poder algum para me impedir de entrar aqui, de movê-las de lugar e de escrever nestas paredes”, grafou.

“Intolerância religiosa”

Em nota assinada pelo bispo d. José Roberto Fortes Palau, a Diocese de Limeira, que abrange as paróquias de Araras, lamentou o vandalismo que classificou como intolerância religiosa. “Em tempos de um comportamento social agressivo, onde destaca-se a violência, o preconceito e a intolerância ao próximo, devemos ressaltar a Carta Magna de 1988, principalmente no tocante da prática da tolerância religiosa e da cultura da paz, respeitando a dignidade e a liberdade de consciência da religião. Que a bandeira da paz, do respeito às manifestações religiosas e do amor ao próximo seja a bandeira a ser empunhada por todos nós”, disse.

A Polícia Civil de Araras investiga os crimes de dano, devido ao arrombamento da capela e danificação das imagens, pichação (outra forma de dano), ofensa e perturbação a culto e vilipêndio de objeto de culto religioso. Somadas, as penas podem chegar a até dois anos e seis meses de prisão. Uma equipe da Polícia Civil fez uma perícia no local, mas até a manhã desta quarta-feira, 3, nenhum suspeito tinha sido identificado.

Desagravo

Por estar em terreno de uma fazenda, área particular, a Capela de Nossa Senhora da Piedade recebe o público apenas uma vez por ano, no dia 8 de setembro, quando é celebrada uma missa em homenagem à padroeira. A missa festiva atrai devotos de toda a região. Devido ao ato de vandalismo, dom José Roberto anunciou que celebrará uma missa de desagravo no templo, em data a ser definida.

Há alguns anos, a capela havia sido reformada com doações de fiéis. Em 2006, e igrejinha, como é conhecida, teve o sino de bronze furtado, ato que revoltou os fiéis. O objeto, pesando cerca de 50 quilos, foi recuperado em um antiquário de Campinas e recolocado no local. Em 2016, o sino foi de novo levado por ladrões, mas desta vez não foi recuperado e os autores não foram identificados.

Terraplanismo

Mesmo refutada pela ciência há 2 mil anos, a teoria da terra plana ainda tem muitos apoiadores no País. Basicamente, os terraplanistas consideram que a superfície da Terra é plana, que a Terra está parada e o Sol e a Lua se moveriam.

O terraplanismo ganhou força nos últimos anos depois que o escritor e astrólogo Olavo de Carvalho, guru do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ter dito em rede social que não havia encontrado nada que refutasse a teoria da planicidade. Uma pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto Datafolha revelou que 7% dos brasileiros acreditam que o formato da Terra é plano. O levantamento entrevistou mais de 2 mil pessoas em 103 cidades brasileiras e concluiu que 11 milhões de pessoas ainda duvidam que o planeta tenha formato esférico.

Estadão Conteúdo

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