Menu
Brasil

Autor de ataque em escola de Sapopemba tem posts de cunho racista e neonazista

A reportagem teve acesso a um vídeo em que o adolescente de 16 anos aparece com uma suástica desenhada na bochecha

Redação Jornal de Brasília

24/10/2023 16h25

Foto: Reprodução

ISABELLA MENON E PAULO EDUARDO DIAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O aluno autor do ataque a tiros que matou uma adolescente dentro da Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na manhã desta segunda (23), fez publicações de cunho racista e neonazistas nas redes sociais.

A reportagem teve acesso a um vídeo em que o adolescente de 16 anos aparece com uma suástica desenhada na bochecha. Em outro post, no Twitter, ele xinga com ataques racistas. “Essa puta preta macaca”, diz ele sobre uma mulher que aparentemente criticava seus amigos.

No inquérito policial sobre o ataque à escola, a mãe do jovem declarou que ele tinha muitos seguidores nas redes sociais, fazia muitos vídeos e chegou a negociar a gravação oficial de uma música, mas dias antes publicou a imagem com o símbolo da suástica no rosto, o que gerou a revolta de usuários e o cancelamento da negociação do projeto.

Ela afirmou ter confrontado o filho, que teria respondido que não sabia o significado do símbolo nazista.
Além dos posts, a apuração policial apontou que o jovem se automutilou na coxa com um símbolo da suástica. Para a polícia, o objetivo seria ganhar pontos em um grupo que integrava na internet.

Também durante o inquérito, foi apresentada a imagem da perna do jovem com a suástica para a mãe e ela declarou que não tinha conhecimento dessas marcas. O jovem também foi indagado sobre o símbolo e admitiu, segundo consta no inquérito, que se automutilou com uma lâmina de barbear, mas ele negou que tenha sido orientado por alguém a fazer isso.

Ele frequentava o bairro da Liberdade e tentava angariar seguidores nas redes sociais. No TikTok, apesar de não ter muitos seguidores, usuários comentaram sobre o ataque surpresos de ter sido dele a autoria do ataque.

O jovem foi filmado apanhando em brigas tanto dentro como fora da escola. Em alguns dos conteúdos divulgados nas redes, ele aparece sendo agredido por mulheres dentro da escola e também em uma festa na rua. Na ocasião, um outro jovem joga o autor dos disparos no chão e chuta seu corpo repetidas vezes.

Em um boletim de ocorrência registrado em abril deste ano, a mãe do atirador afirmou que o filho foi agredido por diversos alunos de outra escola onde ele era matriculado, também localizada em Sapopemba.

Ela declarou ainda que, após a agressão, o filho passou a receber inúmeras ameaças online de pessoas que parecem ser de grupos rivais em busca de status na internet. No documento, ela cita que ele havia sido agredido na Liberdade por um desses grupos.

Na ocasião, a responsável pelo adolescente disse que o filho tinha muitas visualizações em tudo o que fazia e que os agressores ganharam muitos seguidores após o episódio.
Ela também afirmou que o filho temia pela integridade física e tinha medo de que as ameaças se espalhassem.

O advogado Antonio Edio, que representa o atirador, disse na segunda (23) que o adolescente tomou a atitude na tentativa de resolver o bullying e a homofobia que sofria.

“Ele me narrou que, já não aguentando mais essa situação de homofobia que ele sofria na escola, resolveu pegar uma arma de fogo que estava na casa do pai dele, arma que pegou escondido, sem a ciência do pai, e veio para a casa da mãe, sem que a mãe tivesse conhecimento”, disse o advogado.

Ele afirmou que foi essa a razão do boletim registrado em abril. “A mãe registrou um boletim de ocorrência dessa homofobia que ele sofria. Levou ao conhecimento da escola, mas a única coisa que a escola fez foi dizer para a mãe trocar [o filho] de escola”, disse o advogado.

As motivações para o ataque ainda são investigadas. A reportagem também teve acesso a uma conversa do estudante na plataforma do Discord, em que ele afirma que a motivação para cometer o crime era “se sentir poderoso”.

Em uma troca de mensagens com um colega, ele contou que já sofreu bullying, mas que não se importava com vingança e não sofria tanto dentro da instituição de ensino.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, plataformas como o Discord se tornaram “terra sem lei”, com registros de abusos sexuais e agressões envolvendo jovens. Por isso, a Polícia Civil trabalha com a hipótese de que mais pessoas tenham participado indiretamente do ataque.

Em nota, a empresa diz que coopera com as investigações e que toma medidas quando tem conhecimento de “conteúdo ou comportamento potencialmente prejudiciais”.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado