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Brasil

Amazônia está perto de ponto irreversível e pode virar deserto, dizem cientistas

As análises fazem parte do primeiro relatório do painel, que reúne 200 cientistas – a maioria deles de países amazônicos

Redação Jornal de Brasília

12/11/2021 12h18

Foto: Agência Brasil

O desmatamento, as queimadas e as mudanças climáticas deixam a Amazônia cada vez mais perto de um ponto irreversível, a partir do qual a regeneração da floresta se tornará inviável, e a área tenderá a se transformar num grande deserto. A desertificação da floresta terá impactos “catastróficos” para o clima do planeta. O alerta foi feito nesta sexta-feira, 12, na COP-26, em Glasgow, na Escócia, pelo Painel Científico para a Amazônia.

As análises fazem parte do primeiro relatório do painel, que reúne 200 cientistas – a maioria deles de países amazônicos. O documento ressalta a importância da ciência para a tomada de decisões na região. Também encoraja a inovação tecnológica e as soluções baseadas na natureza, com indígenas e populações ribeirinhas.

“O atual modelo de desenvolvimento está alimentando o desmatamento e a perda de biodiversidade, levando à devastação e mudanças irreversíveis”, afirmou o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, e um dos coordenadores do painel. “Para que a Amazônia sobreviva, precisamos mostrar como ela pode ser transformada de forma a gerar benefícios econômicos e ambientais como resultado de uma colaboração entre cientistas, povos indígenas, comunidades locais, setor privado e governos.”

Pelo menos 17% da floresta já foram totalmente destruídos e outros 17% são compostos de áreas já degradadas. Especialistas estimam que 366,3 mil quilômetros quadrados de mata foram desmatados entre 1995 e 2017. A cada ano, apontam, centenas de milhares de hectares são queimados para abrir espaço para a agricultura, a pecuária e o garimpo.

Pesquisadores afirmam que é preciso agir o mais rapidamente possível para que seja possível zerar o desmatamento na região antes de 2030, conforme foi acordado na COP-26 por mais de cem países, o Brasil entre eles, além de recuperar áreas degradadas. A preservação da floresta, alertam, é crucial para a redução das emissões de gases do efeito estufa, uma vez que ela atua como um sumidouro de CO2. São de 150 a 200 bilhões de toneladas de carbono armazenadas no solo e na vegetação.

A floresta amazônica é um dos elementos mais importantes do sistema climático da Terra. A mata exerce um papel crucial nos ciclos globais da água e na regulação da variabilidade climática. Um volume significativo de água evaporada pela floresta vai para sul por meio dos chamados “rios voadores”. É uma das principais fontes de água a alimentar outros ecossistemas e cultivos agrícolas. Além disso, a Bacia Amazônica é fonte de de 16% a 22% de toda a água lançada anualmente nos oceanos.

Cerca de 47 milhões de pessoas vivem na região amazônica. Entre elas, estão 2,2 milhões de indígenas distribuídos em mais de 400 grupos, falantes de 300 línguas diferentes. Segundo o relatório, os indígenas são cruciais para a conservação e para o desenvolvimento sustentável da floresta e sua biodiversidade. No entanto, alerta, estão sob ameaça. O documento diz que parte das populações perderam direitos nos últimos anos.

“Com os aumentos recentes no desmatamento da maior floresta tropical da Terra, nós precisamos acender o sinal vermelho”, afirmou Mercedes Bustamante, professora de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) e também integrante do painel. “Salvar as florestas existentes do desmatamento e da degradação e recuperar os ecossistemas é uma das tarefas mais urgentes de nosso tempo para preservar a Amazônia e seu povo e para lidar com o risco global e os impactos das mudanças climáticas.”

Estadão Conteúdo

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