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Brasil

60 anos do golpe: estudante de jornalismo no PR passou 730 dias na prisão

“Apesar das poucas e truncadas informações, íamos percebendo que o país iria enfrentar sérios problemas”, disse em entrevista

Agência UniCeub

30/03/2024 15h13

Por Luisa Mello
Jornal de Brasília/Agência Ceub

1º de abril de 1964. Foi pela rádio que a então universitária paranaense Elisabeth Fortes ouviu a notícia que a assustou: a deposição do presidente João Goulart e a tomada do poder pelos militares.  “Apesar das poucas e truncadas informações, íamos percebendo que o país iria enfrentar sérios problemas”, disse em entrevista à Agência Ceub. A vida dela passaria a ser de inconformismo e ação.

Dois anos depois, Elisabeth já participava dos movimentos estudantis da época, comparecendo a passeatas e assembleias. Chegou a pichar em prol de seus posicionamentos contra o regime que se instalava no Brasil. 

Ela passou a integrar o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e disse que passou a ter problemas. “A partir daí sou uma das estudantes muito ativas e perseguida pela polícia. E o cerco ia se fechando cada vez mais”. A União Nacional dos Estudantes passou, nesse período, a ser uma entidade clandestina. 

Prisão

Em 17 de dezembro de 1968, na Chácara do Alemão, em Curitiba (PR), em uma reunião dos estudantes, 42 jovens foram presos e Beth esteve entre eles. 

De um mundo imenso a uma cela de 9 metros quadrados. Ela foi condenada a dois anos de prisão. Ela dividiu o espaço penitenciário com sua amiga, Judite Trindade. Duas camas, duas cadeiras, uma mesa e um banheiro formaram a composição que a acompanharia nos 730 dias na cadeia. 

Durante o inverno tipicamente curitibano, a água do chuveiro era fria. Só conseguiram a mudança com ajuda dos advogados que acompanhavam Judite e Beth nesse processo. “Todos os domingos recebiam visitas das famílias e, pela janela pequena, via apenas uma caixa d’água”. 

Laços

Mesmo em meio ao terror, 15 dos 42 ficaram no mesmo presídio. “De certa forma, nos dava certa tranquilidade. Enquanto estivéssemos juntos e cuidando uns dos outros era mais difícil desaparecer”. 

E, mesmo presa, Beth consumia de forma árdua a literatura, estudava em conjunto com seus outros colegas e trocavam opiniões. “Nunca fui torturada fisicamente, ainda que a prisão já seja em si uma tortura.” 

“Sei que deixarei meu legado”

Um ano e meio depois, seis meses antes de cumprir a pena inicial, estava livre, com ajuda de seu advogado. 

A vida após sua saída da prisão não foi fácil. 

“Na faculdade o curso havia mudado de 3 para 4 anos, e minha matrícula não era aceita, e me formei em 1975.” 

No ambiente profissional, as marcas ainda a seguiam. “Tentar trabalhar, outra dificuldade: O Regime Militar exigia que toda e qualquer empresa pedisse atestado de antecedentes dos candidatos a emprego. E eu não conseguia. Mas nunca desisti de lutar.”

Hoje, com 78 anos, Elisabeth Franco Fortes é jornalista aposentada e está saindo de um tratamento de câncer. “Sei que deixarei meu legado, para que a luta continue.” Ela acredita em um Brasil solidário, justiça social e respeito aos direitos de todos. 

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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